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Assad vê acordo com Israel, mas questiona efeito prático
Ditador sírio, em distensão com os EUA, diz que um pacto limitado pode ser fechado em breve
Damasco quer devolução prévia de colinas de Golã e adverte que tratado só seria abrangente mediante saída para conflito com palestinos
ANNA FIFIELD
DO "FINANCIAL TIMES", EM BEIRUTE
O presidente da Síria, Bashar
al Assad, sugeriu que pode assinar um acordo de paz com Israel mesmo sem que se chegue
a uma resolução do conflito palestino. Mas avisou que qualquer acordo desse tipo será, em
grande medida, simbólico.
Assad está lançando um desafio ao próximo premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, ao
deixar claro que um acordo de
paz abrangente vai exigir concessões importantes por parte
de Israel.
Mesmo assim, sua oferta é
feita em meio a uma reaproximação condicional com os
EUA, o maior aliado de Israel e
que está ansioso por ver avançar um tratado de paz.
"Oferecemos [a Israel] a opção entre uma paz abrangente e
um acordo de paz que não terá
valor real em campo", disse Assad ao jornal "Al Khaleej", dos
Emirados Árabes Unidos.
"Há uma diferença entre um
acordo de paz e a paz propriamente dita. Um acordo de paz é
uma folha de papel que se assina. Isso não significa comércio,
relações normais, fronteiras ou
qualquer outra coisa", afirmou
o presidente, segundo o jornal.
Golã
O pai de Assad, o ex-presidente Hafez al Assad, sugeriu
no passado que seria possível
acordar a paz se Israel devolvesse à Síria as colinas de Golã,
ocupadas em 1967. Mas o presidente sírio atual está sugerindo
agora que as colinas de Golã teriam que ser devolvidas como
condição prévia para um tratado abrangente, que não seria
fechado sem uma resolução do
conflito israelo-palestino.
"Nossa população não vai
aceitar isso, especialmente
porque vivem em nosso país
meio milhão de palestinos cuja
situação continua sem ser resolvida. Nessas condições, é impossível ter paz no sentido natural do termo", disse Assad.
Imediatamente antes de sua
eleição, em fevereiro, Netanyahu prometeu que não devolveria as colinas de Golã à Síria.
Analistas disseram que as declarações de Assad ressaltam as
dificuldades de negociar com
Damasco, que muitos políticos
nos EUA consideram ser um
problema mais fácil de se resolver do que o conflito palestino.
"Assad está dizendo muito
claramente que Israel terá que
devolver Golã para ganhar uma
paz fria, mas que não haverá
mais do que uma paz fria se Israel não resolver a questão palestina", disse Andrew Tabler,
especialista em Síria no Instituto Washington de Política do
Oriente Médio.
"A questão com a Síria na
realidade é muito complicada,
porque não envolve apenas as
colinas de Golã, mas também o
distanciamento do Irã, e isso
vai ser muito difícil", afirmou.
Mesmo assim, a declaração
do líder sírio é significativa porque assinala que Damasco se
disporia a retomar as conversações de paz com Israel, apesar
de a tensão persistir em Gaza.
A Síria vinha participando de
conversações de paz indiretas
com Israel, por intermédio da
Turquia, mas elas foram suspensas quando Israel atacou a
faixa de Gaza, no fim de 2008.
No fim de semana, Ancara se
dispôs a retomar a mediação.
Também no fim de semana,
autoridades americanas mantiveram as conversações bilaterais de mais alto nível em quatro anos com seus colegas em
Damasco, dizendo que "identificaram pontos em comum".
Tradução de CLARA ALLAIN
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