São Paulo, quarta-feira, 10 de março de 2010

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Lula condena greve de fome de cubanos dissidentes

Para brasileiro, jejum é "insanidade" e a Justiça de Cuba deve ser respeitada

Artifício usado por presos políticos não deve servir de "pretexto de direitos humanos para liberar pessoas", diz presidente


Desmond Boylan/Reuters
O dissidente cubano Guillermo Fariñas, em greve de fome há 15 dias pela libertação de presos

DA REDAÇÃO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ontem, em entrevista à agência Associated Press, respeito às decisões da Justiça cubana e condenou o uso da greve de fome por dissidentes como instrumento para serem libertados da prisão.
"Temos de respeitar a determinação da Justiça e do governo cubanos de deter as pessoas em função da legislação de Cuba. A greve de fome não pode ser utilizada como um pretexto de direitos humanos para liberar as pessoas. Imagine se todos os bandidos presos em São Paulo entrarem em greve de fome e pedirem liberdade."
Em 23 de fevereiro, um dia antes de Lula visitar Cuba e se reunir com os irmãos Castro, o preso político Orlando Zapata Tamayo morreu após fazer greve de fome por 85 dias. Desde então, aumentaram as pressões internas e as críticas por parte de EUA, Europa e ONGs, pedindo respeito aos direitos humanos na ilha.
Para honrar a causa de Zapata e reivindicar a libertação de outros 26 presos de consciência doentes, outro dissidente, o jornalista Guillermo Fariñas, iniciou greve de fome que hoje completa 15 dias.
"Gostaria que não ocorressem [detenções de presos políticos], mas não posso questionar as razões pelas quais Cuba os deteve, como tampouco quero que Cuba questione as razões pelas quais há pessoas presas no Brasil", disse o mandatário brasileiro, lembrando que ele mesmo fez jejum nos anos 1980, durante a ditadura militar brasileira, e classificando a prática de "insanidade".
A posição brasileira contrasta com a francesa -ontem, a Chancelaria da França se disse "cada vez mais preocupada com o estado de saúde de Fariñas, muito debilitado por sua greve de fome" e fez um "chamado solene" ao regime castrista pela libertação dos presos políticos, que pede que ocorra em caráter de "urgência".

Carta a Lula
Também ontem, um grupo de dissidentes cubanos disse que a Embaixada do Brasil em Havana não enviou, por falta de assinaturas, a carta que eles tinham escrito e endereçado a Lula pedindo a interferência brasileira pelos presos políticos da ilha e no caso Fariñas, citando a "credibilidade, liderança regional e interlocução privilegiada" do presidente com as autoridades cubanas.
O dissidente Manuel Cuesta Morúa relatou à agência Efe que a carta do "Comitê Pró-Liberdade dos Prisioneiros Políticos Orlando Zapata Tamayo", criado na semana passada, não estava assinada pelos cerca de cem membros do grupo, "dada a urgência do caso Fariñas". Segundo ele, porém, a carta não seria encaminhada pela embaixada ao presidente brasileiro até que fosse devidamente assinada. "Então, entre hoje [ontem] e amanhã vamos buscar assinaturas", agregou.
O segundo-secretário da embaixada, Marcio José Bezerra dos Santos, disse à agência que a representação soube da carta pela imprensa e que um jornalista lhe enviou o texto. Só três horas depois um texto idêntico chegou à recepção da embaixada, informou.

Com agências internacionais



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