São Paulo, quarta-feira, 10 de março de 2010

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Segurança no Iraque ainda depende dos EUA

Mesmo fora das ruas e com data marcada para deixar país, americanos dão apoio logístico indispensável a forças iraquianas

Ofensivas contra insurgentes não podem ser lançadas sem cobertura aérea dos EUA, já que país árabe não possui nenhum avião de combate


SAMY ADGHIRNI
ENVIADO ESPECIAL A BAGDÁ

O Iraque já cuida sozinho de sua segurança e logo estará pacificado por inteiro, martelam os governos americano e iraquiano. Eles minimizam os ataques que deixaram 38 mortos no pleito parlamentar de domingo e alegam que não há razão para alterar planos de retirada dos EUA até 2011.
Nos bastidores sabe-se que policiais, militares e espiões do Iraque ainda dependem de Washington para quase tudo. Mas o discurso e as aparências são coordenados com cuidado para mostrar o contrário.
Afinal, o presidente Barack Obama foi eleito prometendo repatriar os militares americanos no Iraque. E Bagdá busca convencer a população de que o país é soberano, algo vital para se contrapor à retórica insurgente anti-imperialista.
Nas ruas da capital não há mais rastro dos soldados e veículos americanos. Os postos de controle e patrulhas só têm funcionários iraquianos.
Americanos não apareceram nem nos preparativos para a eleição, orquestrados em meio a reiteradas ameaças de ataques devastadores.
No interior do país ainda se veem militares dos EUA em operações de campo, mas em pequenos grupos e quase sempre acompanhados por iraquianos. Ninguém quer dar a impressão de violar o acordo pelo qual os americanos desde junho só podem sair de suas bases para operações logísticas ou a pedido do governo iraquiano.
A queda da violência registrada no Iraque desde 2007 é em grande parte fruto de esforços americanos -mais soldados no campo de batalha e dólares para cooptar milícias. Mas a Casa Branca prefere deixar Bagdá declarar-se responsável pela melhora na segurança.
O comandante dos EUA no Iraque, Ray Odierno, disse que a eleição evidenciou o bom preparo das forças iraquianas e anunciou a manutenção do cronograma de retirada.
Autoridades de Bagdá querem recuperar logo a plena soberania militar e policial, embora haja dúvidas sobre sua capacidade em assumir a missão.
Sete anos após a invasão americana, forças iraquianas conquistaram autonomia para montar ofensivas contra insurgentes, mas dificilmente o fazem sem pedir aos EUA cobertura aérea. O Iraque pós-Saddam Hussein não possui nem sequer um avião de combate.
O Exército iraquiano tem um contingente bem armado e equipado, mas carece de organização logística e material. A manutenção da nova frota de blindados é feita pelos EUA.
O sistema mais eficiente para detectar lançamentos de morteiros e movimentação de insurgentes é a vigilância aérea feita por americanos.
Na Academia de Polícia de Bagdá, há cada vez mais professores iraquianos, mas as aulas ainda acontecem sob monitoramento de americanos, que podem inclusive demitir instrutores locais.


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