São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 2003 |
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ATAQUE DO IMPÉRIO EUA DERRUBAM O REGIME DE SADDAM
SÉRGIO DÁVILA ENVIADO ESPECIAL A DOHA (QATAR) Caiu o regime de Saddam Hussein. No 21º dia do ataque anglo-americano ao Iraque, e após 24 anos de uma das ditaduras mais sangrentas da história contemporânea, a maior parte de Bagdá estava ontem sob controle da coalizão, após uma coluna de tanques conduzidos por marines terem chegado ao centro de Bagdá sem sofrer ataques significativos. A tomada culminou com a queda de uma estátua do ditador numa praça da capital cercada por populares, que comemoravam. Para consolidar sua vitória, porém, faltam aos EUA dois elementos fundamentais: deter ou matar Saddam, 65, cujo paradeiro segue desconhecido, e exibir ao mundo o suposto arsenal de armas de destruição em massa usado por Washington e Londres como justificativa para a guerra. "Saddam Hussein está agora tomando seu lugar de direito ao lado de Hitler, Stálin, Lênin e Ceaucescu no panteão dos ditadores brutais fracassados", disse o secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld. No Qatar, o comando militar da coalizão foi reticente e evitou declarar vitória ou mesmo confirmar a queda de Bagdá. "A capital é uma das áreas sobre a qual o regime não tem mais controle", limitou-se a dizer o general Vincent Brooks. Igualmente parcimonioso foi o tom de Washington e de Londres. "O presidente está sensibilizado pela exibição do poder da liberdade", afirmou o porta-voz de George W. Bush, Ari Fleischer. Para o premiê britânico, Tony Blair, o conflito não acabou e "ainda há resistência, não amplamente difundida entre os iraquianos, mas entre partes do regime de Saddam que querem se manter no poder". No final da tarde, o embaixador do Iraque na ONU, Mohammed Al-Douri, disse: "O jogo acabou, esperamos que a paz prevaleça", quando questionado sobre a situação em Bagdá. Foi a única autoridade do antigo regime a se manifestar publicamente. Rumsfeld retrucou em Washington: "Isso não é um jogo". Mais tarde, o embaixador respondeu: "Eu quis dizer a guerra". Ao mesmo tempo que celebrou a queda de Saddam, parte significativa do mundo árabe ficou perplexa com a rapidez com que o regime iraquiano desmoronou e teme o aumento da hegemonia dos EUA na região. "As imagens dos soldados norte-americanos fazendo piquenique no coração de Bagdá atormentarão a mentalidade árabe por muitas gerações", escreveu John Bradley, editor-chefe do diário "Arab News". Apesar de enfrentar uma resistência inicial mais forte do que a antecipada por muitos, EUA e Reino Unido surpreenderam pela velocidade com que conseguiram desmontar a estrutura do regime iraquiano. O último sinal de que o que restava do núcleo de Saddam Hussein não funcionava mais foi dado na manhã de ontem, quando o ministro da Informação, Mohammed Said al Sahaf, não apareceu para suas entrevistas diárias. Nos últimos dez dias, ele era o único que ainda falava em nome do regime. E negava, de forma quase surrealista, os avanços dos invasores. Em certo sentido, essa tem sido a guerra do não. Não está sendo tão cirúrgica e precisa quanto prometeu a coalizão -as vítimas civis iraquianas de bombardeios podem estar na casa dos 10 mil, segundo dados preliminares de organizações humanitárias. Além disso, não houve ataques com armas químicas e biológicas por parte das forças leais a Saddam, que também não mandou mísseis em direção a Israel, Irã ou Jordânia, como se temia antes -apenas o vizinho Kuait foi alvo de mísseis. Mesmo assim, até a conclusão desta edição ainda havia combates em pontos isolados de Bagdá e em regiões ao norte da capital, como Tikrit, cidade-natal de Saddam Hussein. Não se sabe se Saddam sobreviveu aos bombardeios direcionados a ele e a seus filhos Uday e Qusay, e ele pode virar o próximo Osama bin Laden, o terrorista saudita que planejou os ataques de 11 de setembro contra os EUA e nunca foi encontrado. Aproveitando o vácuo de poder, iraquianos em Bagdá e nas cidades tomadas do sul saquearam durante todo o dia de ontem prédios identificados com o regime deposto, como sedes do partido Baath, governista, delegacias de polícia, instalações militares e palácios presidenciais. Mesmo o quartel-general da ONU foi invadido. As mercadorias roubadas -ou retomadas, como diziam muitos- iam de aparelhos de ar-condicionado a cadeiras, passando por quadros, pneus e até mesmo maços de flores. Outro momento significativo de ontem foi a entrada dos marines em Saddam City. A favela, localizada a leste de Bagdá, reúne cerca de 2 milhões de xiitas, maioria da população, mas marginalizados pela minoria sunita, que comandava o país. "Bem-vindos, senhores", gritavam eles aos soldados dos EUA. Próximo Texto: Frases Índice |
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