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São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 2003

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Reconstrução polêmica opõe até departamentos do governo dos EUA

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

A reconstrução do Iraque promete ser a batalha mais difícil a ser travada pela administração de George W. Bush nessa campanha. Bastante complicado até agora, o processo tem envolvido novos embates entre os Estados Unidos e a comunidade internacional e conflitos dentro do próprio governo norte-americano.
Ainda não existe um plano claro para a reconstrução do Iraque. O que há de concreto, por enquanto, são contratos que vinham sendo distribuídos pelo governo dos EUA exclusivamente para empresas norte-americanas.
Mas, mesmo esse processo, que foi lançado com estardalhaço pelo governo dos EUA, está estacionado desde que virou alvo de críticas de países como França, Alemanha e Rússia e da imprensa.
Há menos de três semanas, a Usaid (agência norte-americana para o desenvolvimento internacional) prometia em um prazo de "poucos dias" a divulgação dos nomes de sete empresas ganhadoras de contratos. Naquele momento, um contrato já havia sido concedido à empresa International Group Resources para a prestação de assistência pessoal a funcionários da Usaid no Iraque.
Depois disso, no entanto, apenas mais um nome de empresa foi anunciado: o da Stevedoring Services of America, que administrará os portos iraquianos.
Segundo Alfonso Aguilar, porta-voz da Usaid, o processo de análise das propostas feitas pelas empresas segue normalmente. Ele admite que chegou a acreditar-e a transmitir essa informação para a imprensa-que a Usaid divulgaria logo os nomes das outras empresas. Mas, segundo Aguilar, o departamento que analisa as propostas para os seis contratos restantes ainda não tomou uma decisão: "Isso não quer dizer que o processo esteja parado. Ao contrário, está correndo em tempo recorde".
No entanto, nenhum nome de empresa é anunciado desde que a intenção dos EUA de administrar a reconstrução do Iraque sem significativa ajuda internacional, nem mesmo de agências ligadas à ONU, virou alvo de críticas.
Para complicar a situação, também começam a se tornar visíveis as divergências entre os departamentos da Defesa e de Estado dos EUA. O primeiro, escolhido por Bush para comandar a reconstrução, defende que os EUA liderem esse processo sozinhos.
Já o departamento de Estado- ao qual a Usaid está subordinada- apóia a postura defendida pelo Reino Unido, principal aliado dos EUA na guerra, de que seja formada uma frente internacional para a reconstrução, na qual a ONU teria papel significativo.
Anteontem, após encontro com Tony Blair, primeiro-ministro britânico, Bush garantiu que a ONU terá um papel "vital" na reconstrução do Iraque. Mas detalhes ainda não foram divulgados e, por enquanto, os principais conselheiros do presidente norte-americano continuam contra essa proposta.
Os rumos dos planos de reconstrução também dependerão de como será montada a nova administração política do Iraque.
O Banco Mundial, por exemplo, já anunciou que ainda não foi convidado a participar do processo. A instituição disse ainda que não poderá tomar parte do projeto de reconstrução se o novo governo não for reconhecido pela ONU. A grande questão agora, segundo especialistas, é se a ONU irá reconhecer um novo governo iraquiano depois de ter se oposto fortemente ao ataque ao país.


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