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COMENTÁRIO
As imagens problemáticas
NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Morrem muitos soldados americanos no Iraque, mas não se
vêem imagens da chegada dos
corpos nos EUA. Uma colunista
do "New York Times" tocou nesse assunto, em meio a indícios de
que volta a circular a "síndrome
vietnamita". As cerimônias de recepção de mortos estiveram entre
os fatores de maior desgaste do
governo americano na Guerra do
Vietnã e, por isso, o Pentágono
achou melhor proibir que jornalistas cobrissem atos fúnebres nas
bases de Ramstein, na Alemanha,
e Dover, em Delaware, EUA.
Partiram da própria Casa Branca, segundo o "Washington Post",
as ordens de controle (ou censura) da presença de fotógrafos e câmeras de TV nas cerimônias, em
bases dos EUA, de homenagem a
mortos no Iraque. Medida que
tem a ver com as preocupações de
perdas de pontos que parecem
tornar-se mais agudas a cada pesquisa. Há casos, envolvendo sobretudo imigrantes, em que os
atos formais são até dispensados.
Aconteceu com um peruano que
obteve cidadania americana pouco antes de ir para o Iraque. Morreu na região de Tikrit.
Esse blecaute não é a única relação penosa de Bush com antecedentes vietnamitas. Christian G.
Appy, autor de "Patriots", uma
recontagem da tragédia do Vietnã
por gente que esteve por dentro,
tem outro livro, intitulado "Working-Class War". Traça o formato
social dos que combateram no
Vietnã, uma guerra travada sobretudo pela "working-class", a
dos trabalhadores, os "our boys"
de extração operária. As castas de
privilegiados escaparam. Bush,
hoje o "top gun", beneficiário de
jogos patrióticos, refugiou-se na
Guarda Nacional do Texas.
Como o alistamento obrigatório acabou nos EUA, em conseqüência do Vietnã, hoje o Exército americano é de profissionais, o
que acentua a presença de gente
de classes menos favorecidas. Há
um curta-metragem sobre o peso
do Vietnã em cima dos mais pobres, e que pode aplicar-se ao Iraque, intitulado "Fortunate Son",
ou filho afortunado. Bush é um
deles e dos mais bem aquinhoados, como mostra o livro
"Shrub". Pequeno arbusto em inglês. Ou "small bush", o pequeno
Bush. Cita como o ponto alto do
presidente a sua habilidade em
amealhar dólares.
O curta inspirou-se em canção
do grupo de rock Creedence
Clearwater Revival. Fala dos "filhos afortunados que conseguiram escapar dessa guerra suja";
Greg Wilcox, o realizador, lembra
que eram 24 os jovens americanos
que nasceram no mesmo dia de
Bush (6 de julho de 1946) e, no
Vietnã, "viram o último raio de
sol e deram o último suspiro".
Newton Carlos é jornalista e analista de
questões internacionais.
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