São Paulo, terça-feira, 10 de abril de 2007

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Irã anuncia urânio "em escala industrial"

Produção do combustível já teria 3.000 centrífugas em instalação subterrânea; americanos dizem estar "preocupados"

Fato contesta resoluções do Conselho de Segurança que proíbem país de continuar a enriquecer urânio; ONU faz apelo à obediência iraniana

DA REDAÇÃO

O Irã anunciou ontem ter iniciado a produção de combustível nuclear "em escala industrial", acirrando sua área de atritos com os Estados Unidos, a União Européia e o Conselho de Segurança da ONU, que já votou duas resoluções contra seu programa atômico.
O anúncio foi feito pelo presidente Mahmoud Ahmadinejad, na usina de enriquecimento de urânio de Natanz, localizada a 300 km ao sul de Teerã. Ele disse "anunciar orgulhosamente" que seu país passava a integrar o clube restrito dos que produziam o combustível.
No ano passado, o regime islâmico anunciou estar enriquecendo urânio experimentalmente, por meio de 164 centrífugas. O principal negociador nuclear do Irã, Ali Larijani, disse ontem que já eram 3.000 os aparelhos instalados e que todos eles já haviam recebido o urânio sob a forma de gás para começarem a operar.
Um diplomata local disse à agência Isna que inspetores da ONU poderiam confirmar o fato na visita que farão a Natanz, dentro de 20 dias.
As instalações são subterrâneas para evitar a destruição durante eventual bombardeio americano ou israelense e têm espaço, segundo os iranianos, para 54 mil centrífugas. Caso disponham de 3.000, diz a agência Reuters, o país poderia teoricamente dentro de um ano juntar combustível o bastante enriquecido para produzir uma bomba atômica.
Ahmadinejad disse que seu país não se curvaria às pressões para interromper o enriquecimento, reiterando ser esse um direito assegurado pelo TNP (Tratado de Não-Proliferação Nuclear). Mas o organismo da ONU que faz o monitoramento do tratado, a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), afirma que o Irã não deu garantias de que, conforme argumenta, pretende utilizar seus reatores apenas para a produção de eletricidade.

Estados Unidos
Em Washington, o anúncio iraniano foi mal recebido. Trata-se "de um novo indício de que o Irã está desafiando a comunidade internacional", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormack.
A Casa Branca declarou-se "muito preocupada", segundo Gordon Johndroe, porta-voz de segurança nacional.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, exortou o Irã a obedecer as resoluções do Conselho de Segurança que determinam a suspensão da produção do combustível. Larijani, o negociador iraniano, ameaçou responder às pressões com a suspensão da adesão de seu país ao TNP.
Em Bruxelas, um dos porta-vozes da União Européia disse que o anúncio feito pelo Irã "em nada muda nossa posição, a de que aquele país deve cooperar plenamente com a AIEA e acatar as resoluções da ONU".

As resoluções
Há duas pendências do Irã com o Conselho de Segurança, as resoluções 1.737 e 1.747. A primeira, votada em 23 de dezembro, proibia o país de importar componentes que pudessem ser utilizados em reatores e mísseis.
A segunda, de 24 de março, proibiu o país de importar armas e vetou as operações externas do Banco Sepah, de propriedade estatal. O texto também prevê limitações para a concessão de vistos a funcionários do escalão técnico ligados direta ou indiretamente ao programa nuclear.
No mês passado, o Irã qualificou as resoluções de "ilegais" e disse que limitaria sua cooperação com a AIEA.
A 1.747 ainda estipula que até o final de maio o Irã deverá interromper toda atividade de enriquecimento de urânio. Ou seja, o oposto do que foi ontem anunciado por Ahmadinejad.


Com agências internacionais


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