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Irã anuncia urânio "em escala industrial"
Produção do combustível já teria 3.000 centrífugas em instalação subterrânea; americanos dizem estar "preocupados"
Fato contesta resoluções do
Conselho de Segurança que
proíbem país de continuar a
enriquecer urânio; ONU faz
apelo à obediência iraniana
DA REDAÇÃO
O Irã anunciou ontem ter iniciado a produção de combustível nuclear "em escala industrial", acirrando sua área de
atritos com os Estados Unidos,
a União Européia e o Conselho
de Segurança da ONU, que já
votou duas resoluções contra
seu programa atômico.
O anúncio foi feito pelo presidente Mahmoud Ahmadinejad, na usina de enriquecimento de urânio de Natanz, localizada a 300 km ao sul de Teerã.
Ele disse "anunciar orgulhosamente" que seu país passava a
integrar o clube restrito dos
que produziam o combustível.
No ano passado, o regime islâmico anunciou estar enriquecendo urânio experimentalmente, por meio de 164 centrífugas. O principal negociador
nuclear do Irã, Ali Larijani, disse ontem que já eram 3.000 os
aparelhos instalados e que todos eles já haviam recebido o
urânio sob a forma de gás para
começarem a operar.
Um diplomata local disse à
agência Isna que inspetores da
ONU poderiam confirmar o fato na visita que farão a Natanz,
dentro de 20 dias.
As instalações são subterrâneas para evitar a destruição
durante eventual bombardeio
americano ou israelense e têm
espaço, segundo os iranianos,
para 54 mil centrífugas. Caso
disponham de 3.000, diz a
agência Reuters, o país poderia
teoricamente dentro de um
ano juntar combustível o bastante enriquecido para produzir uma bomba atômica.
Ahmadinejad disse que seu
país não se curvaria às pressões
para interromper o enriquecimento, reiterando ser esse um
direito assegurado pelo TNP
(Tratado de Não-Proliferação
Nuclear). Mas o organismo da
ONU que faz o monitoramento
do tratado, a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), afirma que o Irã não deu garantias de que, conforme argumenta, pretende utilizar seus
reatores apenas para a produção de eletricidade.
Estados Unidos
Em Washington, o anúncio
iraniano foi mal recebido. Trata-se "de um novo indício de
que o Irã está desafiando a comunidade internacional", disse
o porta-voz do Departamento
de Estado, Sean McCormack.
A Casa Branca declarou-se
"muito preocupada", segundo
Gordon Johndroe, porta-voz
de segurança nacional.
O secretário-geral da ONU,
Ban Ki-moon, exortou o Irã a
obedecer as resoluções do Conselho de Segurança que determinam a suspensão da produção do combustível. Larijani, o
negociador iraniano, ameaçou
responder às pressões com a
suspensão da adesão de seu
país ao TNP.
Em Bruxelas, um dos porta-vozes da União Européia disse
que o anúncio feito pelo Irã
"em nada muda nossa posição,
a de que aquele país deve cooperar plenamente com a AIEA
e acatar as resoluções da ONU".
As resoluções
Há duas pendências do Irã
com o Conselho de Segurança,
as resoluções 1.737 e 1.747. A
primeira, votada em 23 de dezembro, proibia o país de importar componentes que pudessem ser utilizados em reatores e mísseis.
A segunda, de 24 de março,
proibiu o país de importar armas e vetou as operações externas do Banco Sepah, de propriedade estatal. O texto também prevê limitações para a
concessão de vistos a funcionários do escalão técnico ligados
direta ou indiretamente ao programa nuclear.
No mês passado, o Irã qualificou as resoluções de "ilegais" e
disse que limitaria sua cooperação com a AIEA.
A 1.747 ainda estipula que até
o final de maio o Irã deverá interromper toda atividade de
enriquecimento de urânio. Ou
seja, o oposto do que foi ontem
anunciado por Ahmadinejad.
Com agências internacionais
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