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São Paulo, sábado, 10 de maio de 2003

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Companhia suíça vendeu reator nuclear ao país comunista; assessora sugere que secretário da Defesa não sabia

Empresa ligada a Rumsfeld ajudou Coréia

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

O secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, participou da direção de uma empresa suíça que vendeu à Coréia do Norte, há três anos, componentes e instruções de design para a montagem de dois reatores atômicos no país.
O negócio fez parte de um contrato de US$ 200 milhões entre a ABB (Asea Brown Boveri) e o governo de Pyongyang, considerado hoje por Rumsfeld como "um regime terrorista" e incluído no "eixo do mal" do presidente George W. Bush, junto com o Irã e o Iraque pré-guerra.
Segundo reportagem publicada pelo jornal britânico "The Guardian", na época da operação, em 2000, Rumsfeld recebia US$ 190 mil (R$ 545 mil) por ano como membro da direção da ABB, onde trabalhou de 1990 a 2001.
Rumsfeld deixou a companhia para integrar o governo Bush.
A Coréia do Norte é o segundo país do chamado "eixo do mal" a ter recebido, ainda que indiretamente, a ajuda de Rumsfeld no passado. Rumsfeld ajudou pessoalmente o regime de Saddam Hussein, em 1983 e 1984, na guerra contra o Irã. Na época, ele esteve duas vezes em Bagdá como enviado especial do então presidente americano, o republicano Ronald Reagan (1981-89).
A porta-voz do Pentágono, Victoria Clarke, disse que não houve "nenhuma votação" de membros da direção da ABB para dar um sinal verde para o negócio, dando a entender que Rumsfeld não tomou conhecimento do tema.
Um porta-voz da empresa disse, no entanto, que fazia parte da política da ABB informar a todos os seus diretores sobre as operações com equipamentos do tipo vendido à Coréia do Norte.
O negócio entre a ABB e a Coréia do Norte fez parte de uma política deliberada do ex-presidente americano Bill Clinton (1993-01) de cooperação com o país na tentativa de atrair os norte-coreanos para uma relação amistosa com os EUA.
Em troca, os EUA esperavam obter a abertura total do país para que as Nações Unidas pudessem inspecionar os programas nucleares norte-coreanos.
Na época, vários membros do Partido Republicano dos EUA criticaram fortemente a estratégia de Clinton, alertando que o tipo de equipamento vendido aos norte-coreanos também poderia ser usado para fins militares.
Os esforços diplomáticos dos EUA, que incluíam ajuda econômica, foram abandonados por Bush depois que ele assumiu a Presidência, após revelação de que a Coréia do Norte desenvolvia um projeto nuclear secreto.


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