São Paulo, segunda-feira, 10 de maio de 2004

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CÁUCASO

Kadyrov, aliado russo, morreu em explosão; dois dias antes, Putin havia dito que ameaça terrorista estava detida

Atentado mata presidente da Tchetchênia

Musa Sadulayev/Associated Press
Pessoas correm do local, no estádio de Grozni, em que aconteceu a explosão que matou Kadyrov


DA REDAÇÃO

O presidente da Tchetchênia, Akhmad Kadyrov, foi morto ontem em atentado no estádio de Grozni, capital da república russa em que movimentos separatistas tentam desde 1991 cortar seus laços com Moscou.
Na sexta-feira, ao tomar posse de seu segundo mandato na Presidência, Vladimir Putin havia felicitado a população da Rússia por "ter detido a agressão terrorista internacional e salvado a nação de uma ameaça real de desintegração", em alusão ao conflito na Tchetchênia.
Kadyrov, 52, considerado um fantoche do presidente russo e um traidor pelos separatistas tchetchenos, participava com alguns de seus principais auxiliares de uma cerimônia para celebrar a vitória contra a Alemanha na Segunda Guerra (1939-45). Às 10h35 (3h35 de Brasília) ouve uma explosão na tribuna de honra, que matou Kadyrov e outras pessoas.
O número de mortos varia entre sete, segundo a mídia russa, e 24, de acordo com o centro médico de emergência de Grozni. Os feridos estariam em torno de 50. Entre os mortos há uma criança de oito anos e um fotógrafo da agência de notícias Reuters.
Segundo a imprensa russa, também morreram no atentado Khusein Isayev, presidente do Conselho de Estado da Tchetchênia, e Eli Isayev, ministro das Finanças da república.
O general Valery Baranov, o militar russo mais graduado em serviço na Tchetchênia, assistia à cerimônia próximo a Kadyrov e ficou gravemente ferido, tendo perdido uma perna. Sua morte chegou a ser anunciada, mas a informação foi desmentida.
Autoridades tchetchenas acreditam que o explosivo, possivelmente uma mina terrestre, foi colocado dentro da estrutura de cimento debaixo dos assentos. O estádio passou por uma reforma de três meses que terminou apenas no sábado. Há relatos de que uma segunda bomba foi encontrada e desarmada.
O ataque não foi reivindicado por nenhuma organização. O site na internet de um grupo separatista levantou a possibilidade de o ataque ter sido cometido por uma mulher-bomba. A polícia prendeu cinco suspeitos.
O presidente Putin prometeu vingança e descreveu Kadyrov como uma influência civilizadora que deixou este mundo como um "invicto". "Não pode haver qualquer dúvida de que a retribuição será inevitável para aqueles que estamos combatendo hoje. Ele foi um verdadeiro herói. Suas ações mostraram que não se pode equiparar todo um povo [os tchetchenos] com banditismo e terrorismo", disse Putin.

De rebelde a aliado
Depois de lutar contra os russos na primeira guerra da Tchetchênia (1994-96), Kadyrov mudou de lado e em 2000 foi indicado por Moscou como o principal administrador civil da república (leia mais ao lado). Em 2003, elegeu-se presidente.
O assassinato de Kadyrov é um severo golpe na política russa para a Tchetchênia. A dificuldade de se encontrar um substituto com a mesma autoridade deve fortalecer o movimento separatista.
Instalados em acampamentos nas montanhas do sul e em esconderijos na capital, os rebeldes continuam fazendo frente às forças maiores e mais bem equipadas do Exército russo. Desde 1999, quando a Rússia mandou suas tropas de volta à república, estima-se que dezenas de milhares de pessoas perderam a vida no conflito.
Entidades de defesa dos direitos humanos acusam as forças russas de cometer atrocidades na repressão aos separatistas. Desde o 11 de Setembro, a Rússia procura vincular os rebeldes tchetchenos à rede de terrorismo global e usa isso como argumento na defesa de seus métodos.

Com agências internacionais


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