São Paulo, Segunda-feira, 10 de Maio de 1999
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ANÁLISE

Coincidência ou um plano?

DOUGLAS HAMILTON
da Reuters

Foi um erro grosseiro, pura incompetência, ou a Otan foi enganada e levada a bombardear a Embaixada da China?
Como as fontes de inteligência da mais poderosa aliança do mundo teriam acertado por engano uma embaixada num enorme terreno murado, com uma placa dourada no portão e uma bandeira? Diplomatas de países da Otan sorviam coquetéis nos salões que foram arrasados pelas bombas.
Entre todos os edifícios de Belgrado que poderiam ter sido bombardeados, que coincidência levou as bombas a cair sobre a embaixada do país que pode ter a chave para o isolamento político da Iugoslávia?
O comunicado divulgado ontem pelos EUA não deu detalhes sobre a causa do erro dos estrategistas, que acreditariam que "o departamento da intendência militar da Iugoslávia era o alvo". Um comunicado anterior da Comando Aliado Europeu da Otan, divulgado pela equipe do comandante supremo da Otan, general Wesley Clark, afirmou que o alvo era o "depósito de armas" do departamento de intendência.
Haveria um bunker sob a terra que Belgrado vendeu à China alguns anos atrás, para construção de sua nova embaixada? Saberia a Otan do bunker, mas teria falhado em ver que uma embaixada tornava o alvo impossível de atingir?
Um jornal turco noticiou ontem que a inteligência sérvia havia deslocado equipamentos para a embaixada dez dias atrás, possivelmente para receber informações chinesas que ajudariam a Sérvia a defender seus alvos militares.
Teria a Otan decidido destruir esta ligação, mesmo com o risco de matar civis e causar um incidente diplomático?
A investigação pode não estar encerrada. Mas é difícil imaginar que um agente tenha enganado a Otan ao ponto de bombardear a embaixada de uma potência cujo voto é necessário na ONU para que a aliança possa cercar Milosevic. A não ser que ele contasse com a incompetência como aliada.


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