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São Paulo, terça-feira, 10 de junho de 2003

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LATINOBARÓMETRO

Pesquisa indica que o brasileiro é, entre os habitantes de 17 países do continente, o que menos apóia esse regime

Brasil lidera crítica à democracia na AL

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

O Brasil é, entre 17 países da América Latina, aquele em que o apoio à democracia se mostra mais débil: apenas 37% dos pesquisados dizem que "a democracia é preferível a qualquer outra forma de governo".
O dado surge na pesquisa "Latinobarómetro" de 2003, um levantamento conduzido desde 1995 por uma instituição chilena com o mesmo nome, financiada por organismos internacionais como o Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).
O apoio à democracia no Brasil vem caindo sistematicamente desde 1998, o ano da reeleição de Fernando Henrique Cardoso e da crise que conduziu à desvalorização do real, no ano seguinte.
Até então, eram 48% os brasileiros que preferiam a democracia a qualquer outro modelo. Caíram para 39% em 2000, para 30% em 2001 e, embora subam agora para 37%, ficam atrás de qualquer outro país, conforme o registro feito pela agência France Presse.
No levantamento anterior, era El Salvador o país em que aparecia o menor suporte à democracia.
O mais próximo, na debilidade do apoio à democracia, são os colombianos (39%), o que é mais fácil de entender: a Colômbia está em guerra há 40 anos, o que abala inevitavelmente a vigência das regras democráticas.
No geral da América Latina, 56% dizem que a democracia é o melhor dos regimes.
Mas o apoio teórico à democracia coincide com a insatisfação crônica com a maneira pela qual ela está sendo conduzida na prática.
Sessenta por cento dos pesquisados se dizem "nada satisfeitos" ou "só um pouco satisfeitos" com o funcionamento da democracia.
O estudo foi apresentado ontem à assembléia geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), que termina hoje em Santiago do Chile.
A chanceler chilena, Soledad Alvear, atribuiu a insatisfação com a democracia ao óbvio: "Os altos graus de exclusão social predominantes na região e a brecha existente entre a realidade financeira transnacional e as demandas sociais internas", sempre conforme o relato da France Presse.
Os países em que há maior número de democratas insatisfeitos são Argentina, México e Peru. No caso da Argentina, a explicação é fácil e evidente: depois de quatro anos de recessão e de um tumulto institucional que levou à renúncia de dois presidentes e à antecipação das eleições, é natural que a maioria não aprecie o funcionamento da democracia.
No Peru, a explicação é similar: o país está mergulhado em uma crise econômica, que levou à decretação de estado de emergência, depois de ter passado pelo turbilhão institucional que foram os anos de Alberto Fujimori.
Menos lógica é a decepção dos mexicanos. O México mantém certa estabilidade econômica e conseguiu, pela primeira vez em 70 anos, destronar o PRI (Partido Revolucionário Institucional) do poder, o que deveria falar bem da democracia.
A insatisfação com certeza deriva do fator apontado pela chanceler chilena: alto grau de exclusão social, que castiga todos os países latino-americanos, sofram ou não de instabilidade causada pela volatilidade de capitais financeiros.
A pesquisa é considerada representativa do sentimento dos 480 milhões de latino-americanos, do Rio Grande, na fronteira mexicana, a Punta Arenas, no extremo sul do Chile e do subcontinente.


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