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LATINOBARÓMETRO
Pesquisa indica que o brasileiro é, entre os habitantes de 17 países do continente, o que menos apóia esse regime
Brasil lidera crítica à democracia na AL
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
O Brasil é, entre 17 países da
América Latina, aquele em que o
apoio à democracia se mostra
mais débil: apenas 37% dos pesquisados dizem que "a democracia é preferível a qualquer outra
forma de governo".
O dado surge na pesquisa "Latinobarómetro" de 2003, um levantamento conduzido desde 1995
por uma instituição chilena com o
mesmo nome, financiada por organismos internacionais como o
Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).
O apoio à democracia no Brasil
vem caindo sistematicamente
desde 1998, o ano da reeleição de
Fernando Henrique Cardoso e da
crise que conduziu à desvalorização do real, no ano seguinte.
Até então, eram 48% os brasileiros que preferiam a democracia a
qualquer outro modelo. Caíram
para 39% em 2000, para 30% em
2001 e, embora subam agora para
37%, ficam atrás de qualquer outro país, conforme o registro feito
pela agência France Presse.
No levantamento anterior, era
El Salvador o país em que aparecia o menor suporte à democracia.
O mais próximo, na debilidade
do apoio à democracia, são os colombianos (39%), o que é mais fácil de entender: a Colômbia está
em guerra há 40 anos, o que abala
inevitavelmente a vigência das regras democráticas.
No geral da América Latina,
56% dizem que a democracia é o
melhor dos regimes.
Mas o apoio teórico à democracia coincide com a insatisfação
crônica com a maneira pela qual
ela está sendo conduzida na prática.
Sessenta por cento dos pesquisados se dizem "nada satisfeitos"
ou "só um pouco satisfeitos" com
o funcionamento da democracia.
O estudo foi apresentado ontem
à assembléia geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), que termina hoje em Santiago do Chile.
A chanceler chilena, Soledad Alvear, atribuiu a insatisfação com a
democracia ao óbvio: "Os altos
graus de exclusão social predominantes na região e a brecha existente entre a realidade financeira
transnacional e as demandas sociais internas", sempre conforme
o relato da France Presse.
Os países em que há maior número de democratas insatisfeitos
são Argentina, México e Peru. No
caso da Argentina, a explicação é
fácil e evidente: depois de quatro
anos de recessão e de um tumulto
institucional que levou à renúncia
de dois presidentes e à antecipação das eleições, é natural que a
maioria não aprecie o funcionamento da democracia.
No Peru, a explicação é similar:
o país está mergulhado em uma
crise econômica, que levou à decretação de estado de emergência,
depois de ter passado pelo turbilhão institucional que foram os
anos de Alberto Fujimori.
Menos lógica é a decepção dos
mexicanos. O México mantém
certa estabilidade econômica e
conseguiu, pela primeira vez em
70 anos, destronar o PRI (Partido
Revolucionário Institucional) do
poder, o que deveria falar bem da
democracia.
A insatisfação com certeza deriva do fator apontado pela chanceler chilena: alto grau de exclusão
social, que castiga todos os países
latino-americanos, sofram ou não
de instabilidade causada pela volatilidade de capitais financeiros.
A pesquisa é considerada representativa do sentimento dos 480
milhões de latino-americanos, do
Rio Grande, na fronteira mexicana, a Punta Arenas, no extremo
sul do Chile e do subcontinente.
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