São Paulo, quinta-feira, 10 de junho de 2004

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CORRIDA ARMAMENTISTA

Instituto registra US$ 956 bilhões em despesas na área em 2003; EUA respondem por 47% do total

Gasto militar atinge nível da Guerra Fria

DA REDAÇÃO

O Instituto Internacional de Pesquisas para a Paz de Estocolmo (Sipri), na Suécia, declarou ontem que os gastos militares mundiais aumentaram 11% em 2003, chegando a US$ 956 bilhões. Desse total, quase a metade (47%) foi gasta pelos EUA para pagar por suas missões no Iraque e no Afeganistão e para financiar a sua "guerra contra o terrorismo".
O instituto qualificou o aumento de "extraordinário". Em relação a 2001, 2002 registrou um aumento de 6,5%. O valor em 2003 também representou um aumento de 18% em relação a 2001. A cifra corresponde a 2,7% do PIB mundial. "É muito perto do pico alcançado em 1987, durante a Guerra Fria", comentou a pesquisadora do Sipri Elisabeth Skoens.
A alta nos gastos com defesa se deu no mesmo ano em que o número de conflitos mundiais caiu para 19, o segundo menor desde que o Sipri começou a divulgar seus relatórios, 35 anos atrás. O relatório também observa que no ano passado foram iniciadas 14 missões de paz, o maior número desde o fim da Guerra Fria, na década de 1990.
Skoens disse que os gastos podem diminuir, especialmente nos EUA, mas apenas quando os contribuintes acharem que o valor gasto já é o suficiente.
O relatório também observa que as tentativas de impedir a proliferação de armas nucleares foram prejudicadas quando a Coréia do Norte retirou-se do Tratado de Não-Proliferação, no ano passado, e cita o fato de, aparentemente, o Irã possuir material e informações nucleares.
O pesquisador Richard Guthrie disse que, contrabalançando o aumento dos gastos, houve o fato de a Líbia ter reconhecido que estava desenvolvendo um programa nuclear próprio e optado por abandoná-lo de maneira voluntária.
Guthrie declarou que, embora a invasão do Iraque possa ter servido como aviso para outros países que possuam armas de destruição em massa, ela também pode exercer efeito contrário em outros, que podem enxergar o aumento de seus arsenais como a única maneira de prevenir uma mudança forçada de regime.
Quanto à Coréia do Norte, Shannon Kile, que acompanha as questões nucleares para o instituto, disse que é pouco provável que o país abra mão das armas nucleares, como fez a Líbia. "No contexto do modelo líbio, francamente, o grupinho de generais idosos que cerca Kim Jong-Il fez os mesmos cálculos de custo-benefício algum tempo atrás, mas concluiu que os benefícios de se possuir armas nucleares são maiores do que as desvantagens de não tê-las", disse o pesquisador, que visitou a Coréia do Norte em 2002.
O Sipri também mencionou os temores de que as pesquisas em biotecnologia, especialmente na área dos genes humanos, possam levar ao desenvolvimento de uma nova classe de armas biológicas. Em seu relatório anual, o instituto disse que "o livre acesso ao seqüenciamento genético do genoma humano e de um grande número de outros genomas, incluindo os de microorganismos patogênicos, constitui um grande recurso científico, mas, se for mal utilizado, pode representar uma ameaça significativa".
O relatório disse que a invasão do Iraque, em março de 2003, destacou a eficácia letal das Forças Armadas americanas, mas que a ocupação do pós-guerra, na qual centenas de soldados da coalizão já foram mortos em ataques de insurgentes, deixa claro que o controle no Iraque é precário.
"A violência em curso no Iraque e as disputas contínuas entre os grupos políticos, religiosos e étnicos do país podem resultar na continuação da instabilidade no Iraque", ponderou Andrew Cottey, cujo relatório detalhou os efeitos da invasão e do pós-guerra. Ele afirmou que a instabilidade no Iraque pode se espalhar e levar o conflito entre grupos étnicos e religiosos a países vizinhos.


Com agências internacionais


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