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Anúncio acusando índios acirra crise no Peru
Propaganda que fala em "selvageria e ferocidade" de indígenas no confronto com a polícia leva ministra do governo García a renunciar
Líder dos protestos contra
exploração da Amazônia
obtém asilo na Embaixada
da Nicarágua; Congresso
deve discutir tema hoje
Ernesto Benavides/Reuters
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Indígenas bloqueiam a entrada da cidade de Yurimaguas, na Amazonia peruana; conflito na sexta deixou saldo oficial de 34 mortos
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo conservador de
Alan García provocou controvérsia e polarizou ainda mais o
clima político no Peru ao lançar
propaganda na TV na qual acusa indígenas de assassinarem
com "selvageria e ferocidade"
25 policiais durante confronto
no norte, na sexta-feira.
A rejeição ao anúncio, que
não menciona os indígenas que
morreram no episódio -9, segundo o governo, e ao menos
30, segundo lideranças das manifestações-, levou Carmen
Vildoso, titular do Ministério
da Mulher, a pedir demissão
ainda anteontem.
O presidente do Conselho de
Ministros (premiê),Yehude Simon, criticou Vildoso: "Uma
coisa é sentir dor e dizer que lamentamos. Mas não somos culpados [pelo ocorrido]".
Segundo a agência France
Presse, a pressão sobre o governo fez com que a propaganda,
no ar desde domingo, deixasse
de ser exibida ontem.
O vídeo de pouco mais de um
minuto exibe fotos de corpos
de policiais sob o título "Assim
atua o extremismo contra o Peru". Repisando o discurso do
presidente García, a propaganda diz que os manifestantes
querem impedir que o país se
beneficie das reservas de gás e
de petróleo sob a floresta. "Não
houve enfrentamentos. Houve
assassinato ", diz o vídeo.
Na sexta, forças de segurança
do governo agiram para liberar
uma estrada no norte do Peru,
próxima à cidade de Bagua, a
1.400 km de Lima, bloqueada
por indígenas. Durante a operação e arredores, ao menos 25
policiais morreram -10, de um
grupo de 38 que havia sido feito
refém, foram assinados pelos
manifestantes.
Ontem, a delegação peruana
na OEA (Organização dos Estados Americanos) defendeu a
ação em uma sessão extraordinária do Conselho Permanente
para tratar do tema, em Washington. A embaixadora Maria
Zavala disse que o país atuou
contra uma "conspiração" que
ameaçava o abastecimento do
país e que policiais foram "torturados e mortos".
Os manifestantes afirmam
que houve ataque deliberado
contra o bloqueio e contra lideranças. Afirmam que o toque de
recolher na região ajudou o governo a "limpar" corpos.
Ontem foi mais um dia em
que ONGs e organizações de direitos humanos pediram investigação independente do episódio, o mais sangrento do arrastado conflito entre o governo
Alan García, que assumiu em
2006, e os indígenas.
Luis Benavente, diretor do
Grupo de Opinião Pública da
Universidade de Lima, está entre os analistas políticos que
acusam o governo de alimentar
a polarização com a propaganda. "O governo só faz piorar as
coisas. A morte dos policiais é
um crime, mas não apaga os erros do governo", disse à Folha.
Asilo e tensão regional
Se a situação na região de Bagua acalmou, com a volta dos
indígenas a suas comunidades,
os analistas temem que discursos como o do anúncio insuflem a mobilização em curso
em regiões como Tarapoto e
Loreto, no nordeste peruano.
Os indígenas agrupados na
Aidesep (Associação Interétnica de Desenvolvimento da Selva Peruana) protestam há dois
meses exigindo a revogação de
uma série de decretos que facilitam a exploração econômica
em 60% da Amazônia peruana.
Argumentam que, contrariando convênios internacionais
adotados pelo país, não foram
consultados sobre as leis.
Hoje, o Congresso debaterá a
validade de um dos decretos, o
1090, da Lei Florestal. Segundo
o jornal peruano "El Comércio", até o bloco governista, que
bloqueou o tema na semana
passada, aceitou tratá-lo em
plenário ontem.
O premiê Yehude Simon tentava ontem ressuscitar uma
mesa de diálogo com os indígenas, com a mediação da Igreja
Católica. O discurso duro do
presidente e o pedido de asilo
político na Nicarágua por Alberto Pizango, a principal liderança indígena, tornam improvável que isso ocorra logo.
O asilo de Pizango, acusado
de sedição por Lima, também
contribui para aumentar a reverberação regional da crise.
Ontem, o Peru evitou criticar a
Nicarágua do esquerdista Daniel Ortega, uma vez que recentemente concedeu asilo político a oponentes dos governos
Hugo Chávez (Venezuela) e
Evo Morales (Bolívia).
O governo García insinua
que os protestos têm influência
dos governos vizinhos esquerdistas e ontem vazou que
-EUA, França e Bolívia- rejeitaram o pedido de Pizango.
Os dois primeiros países consideraram, segundo disse uma
fonte da Chancelaria peruana à
agência Efe, que ele tem garantias para ser julgado no Peru. A
Bolívia, segundo a mesma fonte, decidiu não conceder asilo
para não piorar as relações com
Lima.
(FLÁVIA MARREIRO)
Com agências internacionais
NA INTERNET - Veja o vídeo http://www.youtube.com/watch?v=JDVgw4pbHEk
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