São Paulo, quarta-feira, 10 de junho de 2009

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Américas precisam entender ameaça do Irã, diz israelense

Vice-chanceler esteve na cúpula da OEA para "reiniciar" contatos com a região

Em entrevista à Folha, Danny Ayalon mostra descrença com a possibilidade de que abertura diplomática de Obama a Teerã dê resultado


CLAUDIA ANTUNES
ENVIADA ESPECIAL A SAN PEDRO SULA (HONDURAS)

Na semana passada, enquanto os países da OEA (Organização dos Estados Americanos) se voltavam à questão da reintegração cubana, o vice-ministro do Exterior de Israel, Danny Ayalon, acompanhou a Assembleia Geral dos chanceleres da entidade, em Honduras, para "reiniciar" os contatos com a região. Ayalon, ex-embaixador nos EUA, veio como emissário do chanceler Avigdor Liberman, do partido ultradireitista Israel Beitenu, que tem visita prevista para julho à América Latina, incluindo o Brasil.
Em entrevista à Folha, o vice-chanceler se disse preocupado com as relações de países da região com o Irã -cuja eleição presidencial acontece depois de amanhã- e mostrou descrença em relação ao resultado de possíveis negociações entre a Casa Branca de Barack Obama e o governo iraniano. Abaixo, trechos da entrevista.

 

FOLHA - O Brasil iria receber a visita do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, depois cancelada. A posição do governo brasileiro é a de que o melhor modo de lidar com questões como a do programa nuclear do Irã é por meio do engajamento, não do isolamento do país. Como o sr. avalia essa posição?
DANNY AYALON
- O engajamento é sempre o modo preferido de operação. Por mais de uma década houve tentativas dos EUA e da Europa de negociar com o Irã, mas eles não concordaram em suspender o enriquecimento de urânio. Nós esperamos que Obama seja bem-sucedido, mas o fato é que os iranianos não respondem à aproximação e estão correndo para atingir o domínio da capacidade nuclear. Na minha opinião, é uma última tentativa. Do contrário, os iranianos vão sofrer sanções muito estritas. Já passou da hora de uma abordagem unificada do problema. Mas, se eles têm amigos como a Venezuela, será mais difícil. Esperamos que haja mais consciência da ameaça iraniana para o continente.

FOLHA - Esperam-se de Israel medidas concretas para resolver a questão palestina. Seu governo resiste a congelar os assentamentos na Cisjordânia. O que o senhor pode dizer sobre essa questão?
AYALON
- Resolver o problema palestino também é nosso interesse vital. Estamos prontos para a paz, como sempre, e já fizemos grandes concessões. Quando tivemos um parceiro como [Anwar] Sadat, no Egito, demos todo o Sinai [ocupado por Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967] em troca da paz. Infelizmente, esse não é o caso com os palestinos. Os assentamentos se tornaram um símbolo, mas eles não são realmente um obstáculo, porque entre 1948 [ano da criação de Israel] e 1967 não havia assentamentos e não havia paz. Estamos dispostos a avançar por várias vias. Em primeiro lugar, é preciso que os palestinos tenham forças de segurança que possam combater o terror e instituições democráticas que estabeleçam o Estado de Direito. Não queremos mais um Estado terrorista ou mais um Estado fracassado na região. A segunda via é econômica, queremos atrair petrodólares dos países árabes para as áreas palestinas. A terceira é o diálogo político, que podemos começar amanhã, sem precondições. Mas até agora os palestinos não vieram à mesa, insistem em pôr o foco nos assentamentos.

FOLHA - Quais serão as prioridades da visita de Liberman?
AYALON
- O Brasil é uma de nossas prioridades. Reconhecemos a liderança do país e estamos incrementando nossas relações. Por isso reabrimos nosso consulado em São Paulo e temos agora voos diretos.


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