São Paulo, quarta-feira, 10 de junho de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Vencedor aposta em tom conciliador no Líbano

Provável futuro premiê, Saad Hariri nega rótulo de pró-Ocidente e não se compromete a desarmar Hizbollah

DO "FINANCIAL TIMES", EM BEIRUTE

Líder da coalizão vencedora das eleições legislativas no Líbano no último domingo, Saad Hariri manteve ontem em entrevista ao "Financial Times" um tom conciliador em relação a seus adversários, que incluem a mistura de partido e milícia xiita Hizbollah.
"O que precisamos fazer é tranquilizar alguns partidos com relação a determinadas questões e buscar um governo que consiga realizar concretamente", disse Hariri em seu gabinete na zona oeste de Beirute. O Hizbollah, apoiado pela Síria e pelo Irã, já deixou claro repetidas vezes que suspeita que o bloco 14 de Março, de Hariri, queira promover seu desarmamento, atendendo a exigências internacionais.
O Hizbollah e seus aliados aceitaram os resultados da eleição, na qual obtiveram 57 cadeiras no Parlamento unicameral, contra 71 da coalizão liderada por Hariri. Mas várias figuras da oposição exigem a manutenção do acordo pelo qual seu bloco, o 8 de Março, detém poder de veto sobre decisões importantes. Hariri e seus aliados discordam da exigência, porque, no último Parlamento, esse acordo obstruiu avanços em reformas políticas e econômicas e resultou em impasses em nomeações.
Hariri vem procurando amainar a discussão em torno do desarmamento do Hizbollah, que alguns veem como fundamental para a estabilidade do país. "Acho que precisamos reduzir a temperatura em relação às divisões", disse ele, observando que todos os partidos estão engajados num diálogo sob a égide do presidente Michel Suleiman.
Enquanto se prepara para negociações com a oposição, Hariri procura distanciar-se do rótulo de pró-ocidental que lhe foi colocado. Com relação às armas do Hizbollah, ele pôs o ônus sobre Israel ao dizer que o país obstrui a paz na região.
"Se olharmos para o que chegou de Israel relativo às eleições no Líbano, foi absolutamente ridículo", disse Hariri. "Um dia eles dizem que, se o Hizbollah vencer, será uma declaração de guerra. No dia seguinte, quando descobrem que vencemos, somos pró-ocidentais. Não somos pró-Ocidente, somos pró-Líbano."
Hariri disse ontem que não hesitará em aceitar o cargo de primeiro-ministro, que recusou quando seu bloco venceu as eleições em 2005. "Em 2005, o momento era difícil. Foi após o assassinato de meu pai [o primeiro-ministro Rafik Hariri]. Aprendi muito. Acho que o Saad Hariri de quatro anos atrás era diferente do de hoje."


Texto Anterior: Oposição iraniana tenta pôr aiatolá contra presidente
Próximo Texto: Guantánamo tem 1º preso julgado nos EUA
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.