São Paulo, quinta-feira, 10 de junho de 2010

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Brasil vota contra, mas ONU pune Irã

Conselho de Segurança aprova novo pacote de sanções contra país, ignorando acordo entre Brasília e Teerã

Além do Brasil, apenas a Turquia foi contrária às punições; o Líbano se absteve, e 12 países endossaram decisão


Bebeto Matthews/Associated Press
A embaixadora do Brasil na ONU conversa com o colega turco após a votação

CRISTINA FIBE
DE NOVA YORK

Com apenas dois votos contrários -um deles do Brasil- e uma abstenção, o Conselho de Segurança da ONU aprovou ontem a quarta rodada de sanções contra o Irã desde 2006 por causa do seu programa nuclear.
Apesar de elogiarem os esforços de Brasil e Turquia na busca por uma solução negociada com os iranianos, 12 países do conselho votaram a favor da resolução, elaborada por iniciativa dos EUA.
O Líbano, cujo governo tem participação do Hizbollah, grupo xiita alinhado a Teerã, decidiu se abster.
"Essa resolução coloca em vigor as sanções mais duras que o governo iraniano já enfrentou", disse o presidente dos EUA, Barack Obama.
As novas medidas restringem o acesso do Irã a diversos tipos de armamentos e pedem que os países membros da ONU inspecionem cargas e navios e bloqueiem transações financeiras consideradas suspeitas.
Para Obama, apesar da "dureza", a resolução não "fecha a porta para a diplomacia". "O Irã continua a ter a oportunidade de escolher um caminho diferente."
Obama disse ainda que o seu maior desejo é que chegue "o dia em que o governo iraniano cumprirá as suas obrigações internacionais -o dia em que essas sanções e as sanções anteriores serão suspensas". Do contrário, afirmou, "o Irã se encontrará mais isolado, menos próspero e menos seguro".

ESFORÇOS
A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, voltou a elogiar os esforços diplomáticos de Brasil e Turquia, apesar de "não terem sido bem-sucedidos".
Hillary confirmou que os EUA esperam que os dois países continuem a cumprir "um papel importante" nas negociações com o Irã.
Recado semelhante já fora transmitido na véspera pelo governo americano ao assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, que respondeu que as sanções invalidariam qualquer esforço diplomático brasileiro.
"Eles escolheram votar "não", em parte, tenho certeza, para manter a porta aberta entre eles e o Irã. É uma avaliação legítima", disse Hillary, na tarde de ontem.
Em 17 de maio, Brasil e Turquia conseguiram fazer o Irã assinar um acordo no qual se compromete a enviar 1.200 quilos de seu urânio pouco enriquecido ao exterior e receber, cerca de um ano depois, 120 quilos do combustível enriquecido a nível adequado para fins médicos, mas não militares.
O acordo foi apresentado à AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), que fizera proposta semelhante em outubro. A agência e as potências do Conselho de Segurança da ONU, porém, consideram que hoje o acordo já não é mais suficiente para garantir que o Irã não venha a produzir a bomba dentro de pouco tempo.

CRÍTICA AMERICANA
Após a sessão que aprovou as sanções, um alto diplomata americano subiu o tom ao comentar a posição brasileira. Para ele, um país que busca um papel de liderança global deveria defender o sistema internacional e não aqueles que violam suas regras.
Questionada sobre a reação dos EUA, a embaixadora do Brasil na ONU, Maria Luiza Viotti, discordou.
"Respeitamos inteiramente as regras internacionais. Criamos as condições para que o Irã voltasse à mesa de negociações." Ela disse esperar que a votação "não tenha maior impacto" nas relações "muito boas" com os EUA.


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