São Paulo, quinta-feira, 10 de junho de 2010

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Elo israelense pesa no bastidor da decisão

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

A possibilidade de um ataque militar israelense às instalações nucleares do Irã, mesmo que raramente mencionada publicamente como parte da barganha diplomática, permeou a campanha americana por novas sanções na ONU.
Para o cientista político Gerald Steinberg, está claro que entre os argumentos americanos para convencer Rússia e China a apoiar as sanções havia uma advertência de que a alternativa poderia ser bem pior.
"Um ataque israelense ao Irã teria consequências econômicas devastadoras, principalmente para a China", afirma Steinberg, especialista em resolução de conflitos da Universidade Bar Ilan.
A suposição é a de que o Irã fecharia o estreito de Ormuz, por onde passa 25% do petróleo mundial, causando uma disparada nos preços.
A China seria diretamente afetada -metade do óleo que alimenta sua sedenta economia vem do Oriente Médio.
A cartada deu ao pequeno Israel um desproporcional poder de barganha diante da poderosa China.
No começo do ano, uma delegação que incluiu o economista Stanley Fischer, presidente do Banco Central israelense, foi a Pequim fazer uma projeção dos danos que um bombardeio ao Irã causariam à economia chinesa.
Embora afirme preferir uma solução diplomática, o governo de Israel mantém nas entrelinhas a ameaça de um ataque como último recurso para impedir que o Irã tenha a bomba.
Diplomatas israelenses admitem que a hipótese é lembrada sutilmente para persuadir chefes de Estado em visita a Israel, e que o ritual aconteceu na recente passagem do presidente Lula ao país, em março.
"Se o governo concluir que sanções não são suficientes para parar a bomba, certamente o risco de ataque aumentará", diz Alon Liel, veterano diplomata israelense.
O pacto Brasil-Turquia-Irã é visto amplamente em Israel como um truque de Teerã.
Shlomo Avineri, cientista político da Universidade de Jerusalém, acha que Lula fez uma jogada arriscada: ajudou o Irã a ganhar tempo e pode ter tornado mais próximo um confronto militar.
"Aliar-se ao Irã de hoje é como aliar-se aos fascistas nos anos 30", critica Avineri, um dos mais respeitados cientistas políticos do país.


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