|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OBSTÁCULO
Acerto entre Otan e Iugoslávia sobre retirada quer garantir segurança a refugiados e a sérvios que ficam em Kosovo
Acordo militar visa impedir "vácuo de poder"
RICARDO BONALUME NETO
especial para a Folha
A retirada de
40 mil homens
do Exército Iugoslavo de Kosovo é uma tarefa complicada
por dois motivos básicos, um
técnico-militar e um político.
De um lado é preciso retirar as
obras de defesa que os sérvios
construíram na Província, notadamente os campos de minas. Elas
constituem o principal empecilho
à movimentação das tropas de paz
e dos comboios com alimentos, remédios e outros itens para os refugiados.
E de outro, convém tanto aos iugoslavos como à Otan impedir que
surjam "vácuos de poder", territórios onde não exista policiamento
que não permita a segurança seja
dos refugiados que voltarem, seja
dos sérvios que permaneceram ali.
Os dois problemas estão interligados. Um policiamento efetivo
depende de boas vias de comunicação. Barreiras nas estradas, arame farpado, minas antitanque e
antipessoal tendem a diminuir a
movimentação.
Geralmente um Exército bate em
retirada quando é derrotado no
campo de batalha. A insistência
dos sérvios em obter mais dias para sair da Província de Kosovo é
em parte uma tentativa de salvar as
aparências, já que eles não chegaram a ser expulsos por tropas de
terra, mas sim por uma campanha
meramente aérea.
Exércitos organizados costumam fazer mapas com a localização dos campos minados, a fim de
poder retirar os explosivos depois
em tempo de paz.
Em guerras civis, isso não acontece sempre, dada a participação
de guerrilheiros e tropas paramilitares, que não tem a mesma disciplina dos batalhões regulares de
engenheiros de combate.
Uma retirada "ordenada e em fases", como quer o acordo, inclui o
desengajamento das tropas em
combate com os guerrilheiros separatistas. Esse pode ser um dos
pontos mais delicados.
A Otan precisaria rapidamente
ocupar o terreno cedido pelos sérvios para evitar que os kosovares o
tomem antes. Mesmo tendo prometido não atacar os sérvios em
retirada, a tentação de ocupar uma
vila ou um quartel abandonado é
grande.
Movimentar 40 mil homens por
uma Província que teve suas pontes ferroviárias e rodoviárias destruídas vai ser algo necessariamente demorado.
Tropas, seja retirando seja atacando, precisam de abastecimento
constante. Mesmo sem a necessidade de abastecimento de munição, é preciso manter um suprimento de alimentos e combustível
e lubrificantes para os veículos.
Para a operação de retirada, Kosovo foi dividida em três zonas. A
zona 1 fica ao sul, a de número 2
compreende o centro e a 3 corresponde à região norte da Província.
No primeiro dia da retirada
(num prazo máximo de 11 dias),
que pode ser hoje, os soldados iugoslavos deixarão a zona 3 (norte)
em direção ao interior da Sérvia.
Depois da retirada, algumas tropas sérvias -da ordem de centenas- deverão retornar para auxiliar o dia-a-dia da missão civil internacional, ajudar na detecção e
limpeza de minas terrestres, e
manter presença junto a locais do
patrimônio histórico-cultural sérvio e nos pontos-chave fronteiriços.
Com a entrada de tropas de terra
da Otan a chance de algum incidente grave aumenta. Talvez nem
tanto de alguma troca de tiros
eventual, mas de um acidente nas
regiões minadas.
As tropas britânicas serão as primeiras a atuar na Província. Elas
devem participar da eliminação de
minas terrestres.
Texto Anterior: Entenda mais sobre o conflito Próximo Texto: Cronologia Índice
|