São Paulo, sábado, 10 de julho de 2004

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ELEIÇÃO NOS EUA

Comitê diz que CIA errou sobre armas de destruição em massa de Saddam, mas não acusa Bush diretamente

Razões da guerra eram falsas, diz Senado

DA REUTERS

As principais afirmações dos EUA que levaram à invasão do Iraque, segundo as quais o ex-ditador Saddam Hussein tinha armas químicas e biológicas e buscava dotar-se de armamentos nucleares, eram infundadas ou baseadas em análises falsas ou exageradas da CIA (serviço de inteligência), segundo um relatório do Comitê de Inteligência do Senado dos EUA divulgado ontem.
Num texto bastante crítico, o comitê mostrou inúmeras falhas das agências de inteligência no que tange a seus relatórios sobre as supostas armas de destruição em massa iraquianas. Estas foram a principal justificativa apontada por George W. Bush para apoiar sua intenção de invadir o Iraque, em 2003. Até agora, as supostas armas de Saddam não foram encontradas no Iraque.
Contatos ocorridos entre o regime deposto iraquiano e a rede terrorista Al Qaeda na década passada nunca levaram a uma relação formal entre ambos, e não há provas de que o Iraque tenha ajudado a rede a realizar ataques terroristas, de acordo com o relatório do comitê, que é bipartidário.
Por outro lado, o texto afirma que o comitê não encontrou provas de que a Casa Branca tenha tentado pressionar analistas da CIA a chegar a conclusões preestabelecidas. "O comitê não encontrou nenhum indício de que funcionários do governo tentaram coagir os analistas ou pressioná-los a mudar seu julgamento sobre as armas de destruição em massa do Iraque", diz o texto do comitê do Senado.
Mesmo assim, a divulgação do relatório serviu para esquentar ainda mais a campanha eleitoral, e os democratas acusaram o governo Bush de exagerar as informações que tinha para justificar a Guerra do Iraque.
"É inegável que, em questões de segurança nacional, a responsabilidade pelas decisões é da Casa Branca. Assim, é perturbador que a Casa Branca continue a culpar exclusivamente as agências de inteligência pelo ocorrido e não assuma seus próprios erros", afirmou Mark Kitchens, porta-voz do virtual candidato democrata à Presidência, John Kerry.
Os republicanos não deixaram de defender-se. O próprio Bush, que estava num evento de campanha na Pensilvânia, admitiu que houve falhas de inteligência e de informação, mas reiterou que Saddam representava uma ameaça suficientemente grande para justificar sua deposição. "Escolhi defender o país. Faria exatamente a mesma coisa agora", afirmou o presidente dos EUA.
O debate deverá ficar ainda mais acalorado nas próximas semanas, já que centenas de soldados dos EUA já morreram no Iraque e bilhões de dólares dos contribuintes americanos foram utilizados numa guerra cujo principal objetivo era impedir que Saddam usasse suas supostas armas de destruição em massa.
A segunda parte da investigação do comitê do Senado, que diz respeito ao modo como o governo usou as informações recebidas dos serviços de inteligência, não deverá ser divulgada antes da eleição presidencial deste ano. Ela ocorrerá em 2 de novembro.
Segundo o relatório divulgado ontem, as agências de inteligência dos EUA confiaram demais em fontes suspeitas, como exilados iraquianos, em serviços de inteligência de outros países, o que gerou a distribuição de informações não comprovadas.
O diretor da CIA, George Tenet, deixará seu posto no domingo "por razões pessoais". Seu substituto, John McLaughlin, defendeu a agência e disse que o relatório do Senado é "exagerado".


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