|
Próximo Texto | Índice
América Latina volta para o foco diplomático de Bush
Com simpatias na região se esvaindo, americano resgata conceito "de povo para povo"
Primeiro escalão do governo promove reunião com 250 representantes de ONGs e grupos da região; Bush cita sua proximidade com Lula
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A ARLINGTON
Poucos meses depois de visitar cinco países da América Latina e receber o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva em seu retiro nas montanhas, o norte-americano George W. Bush
lançou uma nova ofensiva diplomática na região. A palavra
de ordem da empreitada é "de
povo para povo", dita pelo presidente na manhã de ontem e
ecoada por seus auxiliares.
"Os EUA estão profundamente envolvidos em projetos
de povo para povo", disse Bush,
referindo-se a uma série de iniciativas de seu governo na área
de educação. Descontraído, soltando frases em espanhol, ele
próprio mediava uma mesa-redonda com representantes de
organizações não-governamentais de cinco países, Brasil
incluído, cujo tema era "Uma
Conversa sobre as Américas".
A sessão fazia parte do evento "A Conferência das Américas da Casa Branca" -que tomou o dia inteiro de ontem
num hotel em Arlington, na
Virgínia, Estado vizinho de
Washington- e reuniu o primeiro escalão do governo com
cerca de 250 representantes de
organizações não-governamentais (com 15 brasileiros
presentes) de 34 países da região, Cuba excluída.
As outras mesas foram mediadas pela secretária de Estado, Condoleezza Rice, e seus
colegas, os titulares do Tesouro, Comércio, Educação e Saúde, entremeadas por um almoço oferecido pela primeira-dama, Laura Bush. Nesta semana,
são ou foram despachados para
a região diversos funcionários
graduados do governo Bush, e
há novos eventos previstos para o final deste ano.
A arregimentação decorreu
de uma avaliação do Departamento de Estado de que tem
havido uma "falha de comunicação" do governo norte-americano ao divulgar suas ações
sociais e humanitárias no continente. Para a Chancelaria,
parte da ressonância do discurso antiamericano alimentado
pelo presidente venezuelano
Hugo Chávez na região viria
dessa falha.
Segundo levantamento do
Pew Reserach Center, divulgado no dia 28, fora do Oriente
Médio, a América Latina é o
continente em que a imagem
norte-americana é mais mal-avaliada. No Brasil, a visão positiva diminuiu de 56% em 2000
para 44% neste ano. A tímida
ajuda financeira dos EUA para
o continente, de menos de US$
2 bilhões previstos para 2008,
também contrasta com os petrodólares com que Chávez
inunda a região.
Daí o tema não-oficial "de
povo para povo", do evento de
ontem, uma tentativa de conectar setores da sociedade norte-americana diretamente a seus
pares latino-americanos, com a
discreta intermediação do governo dos EUA. É baseado em
iniciativa similar lançada nos
anos 50 do republicano Dwight
Eisenhower (1953-1961).
"Como você deve ter notado,
e o presidente Bush disse, os laços mais importantes entre as
Américas são de povo para povo", disse Karen Hughes, ex-braço-direito de Bush, atualmente subsecretária de Estado
para diplomacia pública, poucas horas depois do discurso do
republicano.
O mesmo havia dito Thomas
Shannon, o número 1 para a
América Latina da Chancelaria
norte-americana, durante comemoração da independência
da Venezuela, na embaixada do
país em Washington, no fim de
semana. Ele tinha ido à festa,
afirmou ao "Washington Post","em respeito ao povo da Venezuela e em reconhecimento
ao fato de que, enquanto em democracias governos podem ir e
vir, os laços e a amizade entre
os povos continuam". Ontem,
em bate-papo no site do Departamento de Estado, repetiria o
bordão. "Cada vez mais, nossa
diplomacia não se restringe aos
governos, mas entre o povo e no
meio do povo".
Brasil
Na primeira mesa-redonda
do dia, Bush se sentaria com representantes de seu próprio
país, além de México, Haiti,
Guatemala e Brasil. Pelo último, como fundador do Cidade
Escola Aprendiz, estava Gilberto Dimenstein, colunista e
membro do Conselho Editorial
da Folha.
"Tenho orgulho em dizer que
as relações com o Brasil estão
melhorando", começou o presidente. "Tenho uma relação
muito próxima com o presidente Lula, e nós trabalhamos
duro para mantê-la dessa maneira."
Próximo Texto: Frases Índice
|