São Paulo, terça-feira, 10 de julho de 2007

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América Latina volta para o foco diplomático de Bush

Com simpatias na região se esvaindo, americano resgata conceito "de povo para povo"

Primeiro escalão do governo promove reunião com 250 representantes de ONGs e grupos da região; Bush cita sua proximidade com Lula

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A ARLINGTON

Poucos meses depois de visitar cinco países da América Latina e receber o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu retiro nas montanhas, o norte-americano George W. Bush lançou uma nova ofensiva diplomática na região. A palavra de ordem da empreitada é "de povo para povo", dita pelo presidente na manhã de ontem e ecoada por seus auxiliares.
"Os EUA estão profundamente envolvidos em projetos de povo para povo", disse Bush, referindo-se a uma série de iniciativas de seu governo na área de educação. Descontraído, soltando frases em espanhol, ele próprio mediava uma mesa-redonda com representantes de organizações não-governamentais de cinco países, Brasil incluído, cujo tema era "Uma Conversa sobre as Américas".
A sessão fazia parte do evento "A Conferência das Américas da Casa Branca" -que tomou o dia inteiro de ontem num hotel em Arlington, na Virgínia, Estado vizinho de Washington- e reuniu o primeiro escalão do governo com cerca de 250 representantes de organizações não-governamentais (com 15 brasileiros presentes) de 34 países da região, Cuba excluída.
As outras mesas foram mediadas pela secretária de Estado, Condoleezza Rice, e seus colegas, os titulares do Tesouro, Comércio, Educação e Saúde, entremeadas por um almoço oferecido pela primeira-dama, Laura Bush. Nesta semana, são ou foram despachados para a região diversos funcionários graduados do governo Bush, e há novos eventos previstos para o final deste ano.
A arregimentação decorreu de uma avaliação do Departamento de Estado de que tem havido uma "falha de comunicação" do governo norte-americano ao divulgar suas ações sociais e humanitárias no continente. Para a Chancelaria, parte da ressonância do discurso antiamericano alimentado pelo presidente venezuelano Hugo Chávez na região viria dessa falha.
Segundo levantamento do Pew Reserach Center, divulgado no dia 28, fora do Oriente Médio, a América Latina é o continente em que a imagem norte-americana é mais mal-avaliada. No Brasil, a visão positiva diminuiu de 56% em 2000 para 44% neste ano. A tímida ajuda financeira dos EUA para o continente, de menos de US$ 2 bilhões previstos para 2008, também contrasta com os petrodólares com que Chávez inunda a região.
Daí o tema não-oficial "de povo para povo", do evento de ontem, uma tentativa de conectar setores da sociedade norte-americana diretamente a seus pares latino-americanos, com a discreta intermediação do governo dos EUA. É baseado em iniciativa similar lançada nos anos 50 do republicano Dwight Eisenhower (1953-1961).
"Como você deve ter notado, e o presidente Bush disse, os laços mais importantes entre as Américas são de povo para povo", disse Karen Hughes, ex-braço-direito de Bush, atualmente subsecretária de Estado para diplomacia pública, poucas horas depois do discurso do republicano.
O mesmo havia dito Thomas Shannon, o número 1 para a América Latina da Chancelaria norte-americana, durante comemoração da independência da Venezuela, na embaixada do país em Washington, no fim de semana. Ele tinha ido à festa, afirmou ao "Washington Post","em respeito ao povo da Venezuela e em reconhecimento ao fato de que, enquanto em democracias governos podem ir e vir, os laços e a amizade entre os povos continuam". Ontem, em bate-papo no site do Departamento de Estado, repetiria o bordão. "Cada vez mais, nossa diplomacia não se restringe aos governos, mas entre o povo e no meio do povo".

Brasil
Na primeira mesa-redonda do dia, Bush se sentaria com representantes de seu próprio país, além de México, Haiti, Guatemala e Brasil. Pelo último, como fundador do Cidade Escola Aprendiz, estava Gilberto Dimenstein, colunista e membro do Conselho Editorial da Folha.
"Tenho orgulho em dizer que as relações com o Brasil estão melhorando", começou o presidente. "Tenho uma relação muito próxima com o presidente Lula, e nós trabalhamos duro para mantê-la dessa maneira."


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