São Paulo, terça-feira, 10 de julho de 2007

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Londres é cidade mais vigiada, dizem estudiosos

NATALIA VIANA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM LONDRES

Londres é a cidade mais vigiada do mundo, com cerca de 1,2 milhão de câmeras CCTV (das iniciais em inglês para televisão de circuito fechado) nas ruas. A coisa se repete em todo o Reino Unido, país que possui uma câmera para cada 14 habitantes. Mas, para especialistas, o aumento da segurança, fruto da "guerra ao terrorismo", tem gerado violações aos direitos fundamentais.
Em relatório lançado no final do ano passado, a ONG Privacy International apontou que o Reino Unido é o pior país europeu em termos de proteção da privacidade individual, sofrendo de "vigilância endêmica".
"O Reino Unido certamente está tomando um caminho perigoso no que tange às liberdades civis", acha o professor Gus Losein, especialista em direitos civis da London School of Economics.
Ele aponta outras medidas que violam a privacidade: a implementação (ainda em progresso) da primeira carteira de identidade nacional desde o pós-Segunda Guerra; um banco de dados de digitais e DNA de todos os cidadãos britânicos; e a criação de bancos de dados com todos os registros médicos da população.
O professor David Murakami Wood, co-author de um estudo sobre vigilância no Reino Unido, diz que quem acha que a Grã-Bretanha está se tornando uma "sociedade vigiada" está atrasado: na prática, já é o lugar da vigilância total. Ele dá como exemplo a nova carteira de identidade: "Vai ser a mais sofisticada do mundo porque vai estar conectada com mais de 150 tipos de informações sobre as pessoas -desde endereço e registro de trabalho até DNA e escaneamento da íris. A idéia é instantaneamente conectar uma cena vista em uma câmera CCTV com informações de dados das pessoas, para servir de guia para a polícia."

Ineficácia
Para ele, tais políticas são menos eficazes do que um monitoramento mais direcionado dos suspeitos de terrorismo. "No Reino Unido parece que confundimos a idéia de manter uma vigilância específica de alguns indivíduos com a idéia de vigilância massiva. E não é só o governo que vigia, cada dia nos pedem que vigiemos mais os nossos vizinhos."
Ben O'Loughlin, professor da Royal Halloway (Universidade de Londres), diz que o resultado é que as minorias se sentem mais espionadas nos lugares públicos. "Os indianos, árabes e e asiáticos em geral se sentem mais olhados na rua e ficam com medo de se expressar publicamente. Isso faz com que sejam excluídos da cultura democrática."
Para Shami Chakrabarti, diretor da ONG Liberty, tais medidas de segurança ameaçam as relações sociais na Grã-Bretanha. "Os últimos anos demonstraram o quanto é tentador para líderes democráticos anunciar políticas perigosas e contraproducentes de segurança nacional."


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