São Paulo, quinta-feira, 10 de julho de 2008

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Opositor chama Ingrid a barrar uribismo

Senador do Pólo Democrático e presidenciável diz que, com as Farc débeis, presidente perde cabo eleitoral

ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL A BOGOTÁ

O senador Gustavo Petro, 48, que desponta como o principal líder da oposição na Colômbia, conclamou ontem a ex-refém das Farc e ex-candidata à Presidência Ingrid Betancourt a aderir a uma frente democrática contra o presidente Álvaro Uribe, que bateu em 85% de popularidade na pesquisa Gallup divulgada ontem.
"Ingrid precisa descansar e se recuperar, mas com certeza vai se alinhar com os setores políticos e sociais democráticos que querem curar a Colômbia da doença Uribe. Ela terá um papel de protagonismo nas mudanças no país", disse Petro ontem à Folha. Ingrid teve 83% de popularidade no Gallup.
Economista, senador do Pólo Democrático Alternativo e presidenciável listado nas pesquisas, ele fez um apelo a Ingrid, ao Brasil e à região para que apóiem a Corte Suprema de Justiça. "Uribe está tentando violar a Corte, há uma ameaça de fratura institucional", disse, em sua casa no município de Chía, ao norte de Bogotá.
Na última segunda, Uribe e o presidente da Corte, Francisco Javier Ricaurte, se reuniram na sede do Arcebispado de Bogotá para iniciar o que o governo chamou de "distensão", já que a Corte questiona a aprovação da lei que permitiu a Uribe disputar a reeleição em 2006. Agora, ele tenta articular o terceiro mandato.
O senador oposicionista foi duro com o cardeal Pedro Rubiano Sáenz por ter reaproximado Uribe e Ricaurte, fotografados de joelhos, rezando: "A igreja está se metendo onde não foi chamada. Trata como uma questão pessoal o que é uma questão democrática".
Para ele, a Corte é uma das instituições mais importantes da Colômbia, depois de ter "demonstrado o vínculo do Estado com as máfias e os paramilitares", desbaratando um esquema que identificou integrantes da base governista com grupos de tortura e de extermínio (30% do Congresso).
Também desnudou a compra de votos parlamentares para reeleger Uribe em 2006, que provocou a condenação e a prisão há duas semanas da ex-deputada aliada Yidis Medina.
Barracas verdes no centro da capital, Bogotá, colhem assinaturas para desfazer o atual Congresso e convocar novas eleições legislativas.

Terceiro mandato
Petro admite que Uribe teria hoje "99% de chances de obter o terceiro mandato", caso mudasse a Constituição para poder disputar mais uma vez. O senador, porém, adverte que os ventos vão mudar até as eleições de 2010.
"A força de Uribe vem do combate às Farc e da euforia da economia, e ambas estão acabando. As Farc já não são uma ameaça e a economia já começa a tremular", opinou ele.
Petro sacou pesquisas mostrando que, sem Uribe na disputa, os candidatos presidenciais independentes e do Pólo ocupavam todos os cinco primeiros lugares e somavam 35% das intenções de votos antes da operação espetacular de resgate de Ingrid Betancourt, três norte-americanos e 11 soldados e policiais, em 2 de julho.
A libertação dos reféns embaralhou esse tabuleiro, mas Petro está seguro que isso é artificial e que a coalizão de oposição voltará ao patamar de 35%. Para isso, será "muito importante" a adesão de Ingrid, que trata como sua amiga.
Nas primeiras declarações depois do cativeiro, ela foi simpática a Uribe e até disse que o eleitor deveria ter a chance de dar-lhe ou não o terceiro mandato. Anteontem, porém, disse que não teria votado nele, por ser "de esquerda".

Novos ventos
Para Petro, o tempo conta a favor das oposições, pois o governo está perdendo sua maior fonte de votos e de apoios, que são as Farc, os dólares de Washington e os ventos favoráveis da economia internacional. "O castelo de cartas está ruindo."
A pesquisa Gallup de ontem, porém, não corrobora por ora essa previsão. A imagem positiva de Uribe passou de 76% para 85% e os colombianos que acham que as coisas estão melhorando foram de 49% a 73%.
A euforia se refletiu também nos índices dos agentes do resgate. O ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, que seria um "Plano B" de Uribe, foi de 53% para 70%. Apesar do imenso apoio a Uribe, a pesquisa detectou insatisfação contra a pobreza, o desemprego e o custo de vida. Para Petro, não é surpresa: "Sem as Farc, esses serão os grandes temas e os trunfos da oposição nestes dois anos até as eleições", disse.


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