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Opositor chama Ingrid a barrar uribismo
Senador do Pólo Democrático e presidenciável diz que, com as Farc débeis, presidente perde cabo eleitoral
ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL A BOGOTÁ
O senador Gustavo Petro, 48,
que desponta como o principal
líder da oposição na Colômbia,
conclamou ontem a ex-refém
das Farc e ex-candidata à Presidência Ingrid Betancourt a
aderir a uma frente democrática contra o presidente Álvaro
Uribe, que bateu em 85% de popularidade na pesquisa Gallup
divulgada ontem.
"Ingrid precisa descansar e
se recuperar, mas com certeza
vai se alinhar com os setores
políticos e sociais democráticos
que querem curar a Colômbia
da doença Uribe. Ela terá um
papel de protagonismo nas mudanças no país", disse Petro ontem à Folha. Ingrid teve 83%
de popularidade no Gallup.
Economista, senador do Pólo
Democrático Alternativo e presidenciável listado nas pesquisas, ele fez um apelo a Ingrid,
ao Brasil e à região para que
apóiem a Corte Suprema de
Justiça. "Uribe está tentando
violar a Corte, há uma ameaça
de fratura institucional", disse,
em sua casa no município de
Chía, ao norte de Bogotá.
Na última segunda, Uribe e o
presidente da Corte, Francisco
Javier Ricaurte, se reuniram na
sede do Arcebispado de Bogotá
para iniciar o que o governo
chamou de "distensão", já que
a Corte questiona a aprovação
da lei que permitiu a Uribe disputar a reeleição em 2006.
Agora, ele tenta articular o terceiro mandato.
O senador oposicionista foi
duro com o cardeal Pedro Rubiano Sáenz por ter reaproximado Uribe e Ricaurte, fotografados de joelhos, rezando:
"A igreja está se metendo onde
não foi chamada. Trata como
uma questão pessoal o que é
uma questão democrática".
Para ele, a Corte é uma das
instituições mais importantes
da Colômbia, depois de ter "demonstrado o vínculo do Estado
com as máfias e os paramilitares", desbaratando um esquema que identificou integrantes
da base governista com grupos
de tortura e de extermínio
(30% do Congresso).
Também desnudou a compra de votos parlamentares para reeleger Uribe em 2006, que
provocou a condenação e a prisão há duas semanas da ex-deputada aliada Yidis Medina.
Barracas verdes no centro da
capital, Bogotá, colhem assinaturas para desfazer o atual
Congresso e convocar novas
eleições legislativas.
Terceiro mandato
Petro admite que Uribe teria
hoje "99% de chances de obter
o terceiro mandato", caso mudasse a Constituição para poder disputar mais uma vez. O
senador, porém, adverte que os
ventos vão mudar até as eleições de 2010.
"A força de Uribe vem do
combate às Farc e da euforia da
economia, e ambas estão acabando. As Farc já não são uma
ameaça e a economia já começa
a tremular", opinou ele.
Petro sacou pesquisas mostrando que, sem Uribe na disputa, os candidatos presidenciais independentes e do Pólo
ocupavam todos os cinco primeiros lugares e somavam 35%
das intenções de votos antes da
operação espetacular de resgate de Ingrid Betancourt, três
norte-americanos e 11 soldados
e policiais, em 2 de julho.
A libertação dos reféns embaralhou esse tabuleiro, mas
Petro está seguro que isso é artificial e que a coalizão de oposição voltará ao patamar de
35%. Para isso, será "muito importante" a adesão de Ingrid,
que trata como sua amiga.
Nas primeiras declarações
depois do cativeiro, ela foi simpática a Uribe e até disse que o
eleitor deveria ter a chance de
dar-lhe ou não o terceiro mandato. Anteontem, porém, disse
que não teria votado nele, por
ser "de esquerda".
Novos ventos
Para Petro, o tempo conta a
favor das oposições, pois o governo está perdendo sua maior
fonte de votos e de apoios, que
são as Farc, os dólares de Washington e os ventos favoráveis
da economia internacional. "O
castelo de cartas está ruindo."
A pesquisa Gallup de ontem,
porém, não corrobora por ora
essa previsão. A imagem positiva de Uribe passou de 76% para
85% e os colombianos que
acham que as coisas estão melhorando foram de 49% a 73%.
A euforia se refletiu também
nos índices dos agentes do resgate. O ministro da Defesa,
Juan Manuel Santos, que seria
um "Plano B" de Uribe, foi de
53% para 70%. Apesar do
imenso apoio a Uribe, a pesquisa detectou insatisfação contra
a pobreza, o desemprego e o
custo de vida. Para Petro, não é
surpresa: "Sem as Farc, esses
serão os grandes temas e os
trunfos da oposição nestes dois
anos até as eleições", disse.
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