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Itália permite morte de mulher em coma
Eluana Englaro sofreu acidente em 1992, e seu estado era "irreversível"; igreja critica a decisão judicial pró-eutanásia
Eluana se acidentou aos 20 anos; pouco antes, visitou amigo no mesmo estado e pediu aos pais que não a
fizessem vegetar em clínica
DA REDAÇÃO
Um tribunal de segunda instância de Milão autorizou ontem que fossem desligados os
aparelhos que mantêm viva artificialmente Eluana Englaro,
vítima em janeiro de 1992 de
um acidente automobilístico e
desde aquela época em "estado
de coma irreversível".
Eluana tinha 20 anos quando
ocorreu o acidente. Pouco antes, visitou um amigo em condições semelhantes e pediu aos
pais que a deixassem morrer se
o mesmo lhe acontecesse.
Os juízes levaram em conta a
vontade da paciente, nove anos
depois de seu pai, Beppino Englaro, entrar na Justiça para
pôr fim ao caso. "Peço que os
senhores libertem a pessoa
mais maravilhosa que até hoje
conheci", argumentou então
Beppino. Indagado ontem se a
decisão o entristecia, respondeu: "Minha filha está morta há
mais de 16 anos."
O caso dividiu os italianos. A
hierarquia católica imediatamente se opôs à decisão judicial, por meio de monsenhor
Rino Fisichella, que dirige a
Academia Pontifical pela Vida.
Em entrevista à Rádio Vaticano, declarou-se "entristecido e
amargurado com uma decisão
que poderá justificar a prática
da eutanásia". Para ele, "Eluana
ainda está viva. O estado de coma é uma forma de vida".
O Ministério Público tem
teoricamente 60 dias para recorrer da decisão. Mas o advogado da família, Vittorio Angiolini, disse não acreditar que ele
lance mão do recurso. De qualquer modo, a família Englaro
está desde já autorizada a desconectar os tubos pelos quais
Eluana respira e recebe água e
nutrientes, numa clínica da cidade de Lecco, norte da Itália.
Holanda e Bélgica
A legislação italiana não reconhece o direito à eutanásia,
embora a jurisprudência autorize aos pacientes o direito de
não se alimentar.
Na Europa, apenas Bélgica e
Holanda têm leis específicas. O
Parlamento de Luxemburgo
seguiu rumo semelhante, mas o
grão-duque, chefe de Estado do
pequeno país, recusa-se agora a
sancionar o texto.
A última decisão da Justiça
italiana em caso parecido ocorreu em dezembro de 2006,
quando autorizou que Piergiorgio Welby, vitimado por paralisia, tivesse seus aparelhos desligados. Em resposta, a igreja
católica negou-se na época a
participar dos funerais.
Em março deste ano uma
francesa da cidade de Dijon,
Chantal Sébire, vítima de cânceres que a cegaram e a deformavam, suicidou-se com barbitúricos, dias depois que a Justiça negou seu "direito de pôr fim
aos meus sofrimentos".
O caso de Eluana Englaro
também lembra a controvérsia
que envolveu a americana Terri
Schiavo, em estado vegetativo
havia 15 anos e cujo marido
-em conflito com os sogros e
com a cunhada- obteve em
março de 2005 a autorização
judicial para desconectá-la dos
aparelhos.
Com agências internacionais
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