|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Obama quer que Brasil dê exemplo ao Irã
Americano diz a Lula que país pode usar fato de ter veto constitucional a bomba nuclear para pressionar Teerã a fazer o mesmo
Presidentes reiteram, em encontro na Itália, rechaço a golpe em Honduras e criam grupos de trabalho para reforçar parceria entre países
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A ÁQUILA (ITÁLIA)
O presidente Barack Obama
sugeriu ontem a seu colega
Luiz Inácio Lula da Silva que
use o exemplo do Brasil, que até
constitucionalmente declinou
do uso militar da energia nuclear, para pressionar o Irã a fazer o mesmo.
Além do exemplo, Obama
mencionou também que, "por
causa da força e profundidade
das relações comerciais [Brasil/Irã], o Brasil pode ter um
impacto ao reiterar que o governo iraniano tem responsabilidades com a comunidade
internacional no que se refere
ao programa nuclear", conforme o relato da conversa entre
os dois presidentes feito depois
por Robert Gibbs, porta-voz da
Casa Branca.
As sugestões de Obama são
vistas pela delegação brasileira
como uma clara indicação de
que o presidente americano
considera o Brasil um parceiro
estratégico não apenas para assuntos regionais mas na cena
internacional.
É verdade, a julgar pelo que
diz Gibbs: primeiro, lembra que
quem pediu o encontro de ontem foi Obama. Depois diz que
os dois conversaram "cinco ou
seis vezes" pelo telefone desde
a posse de Obama, em janeiro,
além dos encontros ao vivo.
Por fim, afirmou: "Obviamente, o presidente acredita
que o Brasil pode ser um parceiro estratégico íntimo dos
EUA em muitos temas [da
agenda internacional]".
Pelo menos na versão de
Marco Aurélio Garcia, assessor
internacional de Lula, o tema
da eleição iraniana não foi levantado durante o encontro, de
cerca de meia hora. Nesse ponto, há diferença importante de
enfoque não apenas entre Lula
e Obama mas também entre
Lula e líderes europeus, como o
francês Nicolas Sarkozy e o britânico Gordon Brown.
Ambos os dirigentes europeus expressaram reservas em
relação ao processo eleitoral
iraniano, enquanto Lula o avalizou sem pensar duas vezes.
De todo modo, os EUA estão
muito mais interessados em
conseguir conter a suposta (ou
real) ambição iraniana de ter a
bomba atômica do que na eleição propriamente dita, porque
sabem que o poder de fato não é
do presidente Mahmoud Ahmadinejad, mas do líder supremo, Ali Khamenei.
Nesse ponto, não houve divergência, pois Lula reafirmou
"a condenação de uma política
nuclear para fins militares", na
versão transmitida aos jornalistas por Marco Aurélio.
Honduras
Houve idêntica concordância em relação a Honduras, o
que, aliás, é óbvio: ambos os
países já haviam condenado o
golpe que depôs o presidente
Manuel Zelaya e já haviam
atuado coordenadamente na
Organização dos Estados Americanos, para suspender Honduras. No encontro de ontem,
aliás, reafirmaram o papel central da OEA na crise.
Lula fez questão de elogiar o
papel desempenhado pelos
EUA no caso. "Pela primeira
vez, todos os países americanos
estiveram coordenados na condenação a um golpe", segundo o
relato de Marco Aurélio.
Mais não avançaram porque,
quando conversaram, nem havia amanhecido na Costa Rica,
onde ocorreriam negociações
entre o presidente deposto e os
golpistas, mediadas pelo presidente costa-riquenho, Óscar
Arias. De todo modo, para Brasil e EUA, o único caminho para
resolver o conflito é a restituição do cargo a Zelaya.
Os dois presidentes, para reforçar a "parceria estratégica"
mencionada pelo porta-voz
Gibbs, decidiram criar grupos
de trabalho setoriais para discutir um amplo leque de temas,
desde relações internacionais a
meio ambiente. Na verdade, é o
relançamento de programa semelhante criado logo no início
do governo Lula, quando George W. Bush era o presidente.
Houve algumas reuniões, inclusive de coordenação macroeconômica, mas os grupos
foram murchando à medida
que o governo americano se
concentrava exclusivamente
no que o presidente de então
chamava de "guerra ao terror".
Mas os EUA não são os únicos parceiros com o qual o Brasil quer aprofundar mecanismos de coordenação. Outro é o
G5 (México, África do Sul, China e Índia, além do próprio Brasil). Até agora, o G5 só se reúne
na véspera do encontro anual
do G8. Agora, haverá reuniões
periódicas, ministeriais e de cúpula. A primeira será antes da
cúpula do G20 em setembro.
Pela promessa de Nicolas
Sarkozy a Lula, em encontro
em Paris, na terça, o G5 passará
a ter tratamento igual ao do G8
quando a França assumir a presidência do grupo em 2011. Hoje, o G5 é tratado como de segunda classe, na avaliação do
chanceler Celso Amorim.
Texto Anterior: Mediador falha na tentativa de reunir rivais hondurenhos Próximo Texto: Frase Índice
|