São Paulo, sábado, 10 de julho de 2010

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Itália para contra a "lei da mordaça"

Principais diários não circularam em protesto contra projeto do premiê Berlusconi que restringe uso de grampos

TVs não exibiram jornais e houve greve de transportes; aprovado no Senado, projeto irá à Câmara no dia 29


Antonio Calanni/Associated Press
Homem caminha em plataforma de estação em Milão

VAGUINALDO MARINHEIRO
DE LONDRES

Os principais jornais italianos decidiram não circular ontem nem atualizar seus sites na internet. A maioria dos canais não exibiu telejornais, e foram poucas as notícias nas rádios. Também houve greve de transportes em cidades como Roma e Milão.
Foi um protesto contra a "lei da mordaça", como é conhecido o projeto que o premiê Silvio Berlusconi tenta aprovar no Congresso.
O projeto já passou no Senado e deve ir à votação na Câmara no dia 29. Se virar lei, irá restringir o uso de grampos telefônicos em investigações e punir com multa os meios de comunicação que publicarem as transcrições.
Aos jornalistas, estão previstas penas de prisão de até dois meses.
A paralisação foi convocada pelo sindicato dos jornalistas, mas teve o apoio dos donos dos meios de comunicação. Um dos poucos jornais a circular foi o "Il Giornale", da família Berlusconi.
Há também grande descontentamento entre juízes. A associação dos magistrados afirmou em nota que a nova lei irá tornar muito mais difícil o trabalho investigativo de policiais e juízes.
A relação entre o premiê, dono de canais de TV, e a imprensa nunca foi amistosa. Berlusconi diz que a lei servirá para preservar a privacidade dos italianos e que há abuso nas autorizações de grampos e na publicação deles.
Mas os críticos afirmam que ele tenta se proteger, evitando investigações sobre sua vida e sobre membros do governo. Em 2009, o vazamento de partes de investigações sobre corrupção atingiram o premiê.
Foram divulgados pelos meios de comunicação fotos e detalhes de festas que o premiê dava em sua casa, para as quais eram contratadas garotas de programa.
Há dois meses, Berlusconi foi obrigado a aceitar a renúncia de Claudio Scajola, seu então ministro da Indústria, após a mídia divulgar operações fraudulentas na compra de um apartamento.
À época, Berlusconi disse que a mídia "tinha muita liberdade" na Itália.

RACHA E CORTES
Berlusconi tem maioria na Câmara, mas, mesmo entre seus aliados, há quem acredite que as restrições são excessivas e uma ameaça à liberdade de imprensa e à democracia. Além disso, a base de apoio do premiê está rachada devido ao pacote de cortes que o governo pretende implementar para reduzir o deficit público.
O premiê pediu um voto de confiança ao Congresso e afirmou que, se o pacote de cortes não for aprovado, é hora de ir para casa. Oposicionistas viram na fala uma possível chance de renúncia.


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