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COMENTÁRIO
Benefício não fica claro
CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial
É difícil, quase impossível, determinar com precisão o que a
Argentina ganhou e quanto ganhou com a sua adesão incondicional ao Ocidente, operada no
governo Carlos Menem.
A dificuldade está dada pelo fato de que a adesão coincidiu inteiramente com a adoção de políticas econômicas recomendadas
pelo chamado Consenso de Washington. Concretamente: abertura da economia, privatizações em
massa, desregulamentação, redução do Estado.
O mais lógico é supor que foram
essas políticas, e não o alinhamento diplomático incondicional, que renderam frutos durante
o período Menem, na forma de
grandes investimentos e, quando
necessário, ajuda dos organismos
internacionais para conter crises.
Ou, posto de outra forma: se
fosse possível adotar as regras do
Consenso de Washington e, ainda
assim, seguir uma política externa
mais independente, a Argentina
teria recebido basicamente os
mesmos benefícios.
A China é um poderoso exemplo a reforçar a hipótese: mantém-se distante do Ocidente, diplomaticamente, mas, nos setores
em que abriu sua economia, choveram investimentos externos.
Aliás, a China é o maior receptor
de investimento externo direto
(em produção, não em papéis)
nos mercados ditos emergentes.
No mais, a Argentina continua
com os mesmos entraves que valem para o Brasil, menos incondicional na adesão aos postulados
diplomáticos e estratégicos do
Ocidente.
Não consegue furar a barreira
do protecionismo agrícola europeu ou americano nem se beneficia de alguma regra específica para penetrar, com outros produtos,
nesses dois mercados, justamente
os mais suculentos do planeta.
Tanto é assim que Menem ecoa
sistematicamente as constantes
queixas de Fernando Henrique
Cardoso em relação ao protecionismo dos países ricos.
Pior: a proposta de dolarização
da economia argentina, que seria
o equivalente monetário ao alinhamento diplomático incondicional, foi recebida com frieza e
até mesmo com certo desdém nos
Estados Unidos.
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