São Paulo, Sábado, 10 de Julho de 1999
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COMENTÁRIO
Benefício não fica claro

CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial

É difícil, quase impossível, determinar com precisão o que a Argentina ganhou e quanto ganhou com a sua adesão incondicional ao Ocidente, operada no governo Carlos Menem.
A dificuldade está dada pelo fato de que a adesão coincidiu inteiramente com a adoção de políticas econômicas recomendadas pelo chamado Consenso de Washington. Concretamente: abertura da economia, privatizações em massa, desregulamentação, redução do Estado.
O mais lógico é supor que foram essas políticas, e não o alinhamento diplomático incondicional, que renderam frutos durante o período Menem, na forma de grandes investimentos e, quando necessário, ajuda dos organismos internacionais para conter crises.
Ou, posto de outra forma: se fosse possível adotar as regras do Consenso de Washington e, ainda assim, seguir uma política externa mais independente, a Argentina teria recebido basicamente os mesmos benefícios.
A China é um poderoso exemplo a reforçar a hipótese: mantém-se distante do Ocidente, diplomaticamente, mas, nos setores em que abriu sua economia, choveram investimentos externos. Aliás, a China é o maior receptor de investimento externo direto (em produção, não em papéis) nos mercados ditos emergentes.
No mais, a Argentina continua com os mesmos entraves que valem para o Brasil, menos incondicional na adesão aos postulados diplomáticos e estratégicos do Ocidente.
Não consegue furar a barreira do protecionismo agrícola europeu ou americano nem se beneficia de alguma regra específica para penetrar, com outros produtos, nesses dois mercados, justamente os mais suculentos do planeta.
Tanto é assim que Menem ecoa sistematicamente as constantes queixas de Fernando Henrique Cardoso em relação ao protecionismo dos países ricos.
Pior: a proposta de dolarização da economia argentina, que seria o equivalente monetário ao alinhamento diplomático incondicional, foi recebida com frieza e até mesmo com certo desdém nos Estados Unidos.


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