São Paulo, domingo, 10 de agosto de 2008

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Política global acirrou tensão étnica ossetiana

ELLEN BARRY
DO "NEW YORK TIMES", EM MOSCOU

Com uma população que gira em torno de 60 mil, os ossetianos são parte da colcha de retalhos de grupos étnicos que habitavam as montanhas do Cáucaso e, para se separarar da Geórgia, contaram com o suporte da Rússia, seu vizinho do norte. Ao longo dos anos, a tensão étnica se tornou marca da rotina de Tskhinvali, capital da Ossétia do Sul. Cercada por montanhas, a cidade já teve por vezes de erguer barreiras de concreto para manter certos grupos sob controle.
A política global e a interferência de outros países deram novo fôlego ao conflito, fazendo dele uma faísca das tensões entre antigos rivais da Guerra Fria. Especialmente a Rússia, que sempre viu na influência norte-americana uma ameaça, como se ela criasse satélites ávidos por se unir à Otan.
Quando Kosovo conquistou o apoio ocidental para se separar da Sérvia, um histórico aliado da Rússia, Moscou reagiu prometendo conseguir status similar para a Ossétia do Sul e para a Abkházia.
Ainda que a Abkházia tenha uma importância estratégica maior para ambos os lados, a cidade de Tskhinvali está em um vale cercado por cidades, o que torna fácil o acesso para os tanques.
Também as montanhas criam uma barreira natural, que isola a região norte, onde fica a Rússia, e faz com que os separatistas dependam de uma única rota-chave -um túnel que cruza as montanhas-, para o comércio, a ajuda militar e a saída para o norte.
"Sem o pesado apoio da Rússia, o senso geral é de Tskhinvali não é capaz de se defender", diz Svante Cornell, diretor do Instituto de Estudos da Ásia Central da universidade John Hopkins.
Apesar do ímpeto da Geórgia em retomar a região, os ossetianos não se sentem parte da etnia do país. Nos primórdios da União Soviética, deram suporte aos bolcheviques para suprimir a independência da Geórgia, aumentando a sensação mútua de ressentimento. Por outro lado, muitos ossetianos ainda sabem dizer os nomes das vilas que foram incendiadas pelos vizinhos da Geórgia, nos anos 1920.
Assim como a Abkházia, a Ossétia do Sul declarou sua independência depois de uma guerra no início dos anos 1990, mas sua situação sempre ficou indefinida. Um acordo de cessar fogo em 1992, assinado por representantes da Rússia, Geórgia, Ossétia do Norte e Ossétia do Sul, manteve a região por 12 anos sem confrontos militares. Em 2004, porém, viria um revés e o presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili, começaria um movimento para retomar a Ossétia do Sul, promovendo uma campanha para abalar a economia local, o que agravou ainda mais as tensões, levando-as a uma guerra total.


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