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Guerra ao Taleban militariza Islamabad
Bloqueios policiais a cada 2 km e hotéis e prédios que parecem bunkers se tornaram a regra na capital do Paquistão
Restaurantes visados por atender mais ocidentais fecharam as portas depois de um atentado em 2008
ao italiano Luna Caprese
IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A ISLAMABAD
Se já não era mais a capital
bucólica dos sonhos dos paquistaneses, a guerra contra o
Taleban transformou Islamabad em uma cidade sitiada. Bloqueios a cada dois quilômetros,
prédios e ruas transformados
em bunkers são a constante.
Na Islamabad Club Road,
avenida que liga a região do aeroporto da capital paquistanesa
ao centro da cidade, a cena é
dantesca. São 10h30 da terça-feira passada, o calor passa dos
41C e a umidade, perto de
90%, diz o relógio esportivo de
Mohammad Massoud, produtor de uma TV local.
O tráfego nessa outrora rápida artéria estava parado. Motivo: um dos sistemáticos bloqueios policiais, geralmente
formados por três barreiras de
concreto e três equipes distintas, duas de policiais comuns e
uma, na retaguarda, do esquadrão antiterrorismo.
Os homens estão empapados
em suas camisas azuis, e não
deixa de ser ironia que uma das
empresas que patrocina as barreiras seja a Tasty, de sorvetes.
"O que acontece é que fica todo mundo com medo e tem de
adicionar 15 minutos a cada
trajeto que faz", diz Massoud.
Um oficial do governo paquistanês com quem a Folha
conversou alega algo diferente,
e lembra que já são mais de três
meses sem incidentes terroristas na capital. Os hotéis, cujas
medidas de segurança só fizeram crescer com o advento da
ex-"guerra ao terror", são testemunhos vivos do trauma.
Em 2001, o Marriott era o
ponto de encontro de jornalistas atrás daqueles fundamentalistas barbudos que mudaram a história; só se deixava a
eventual pistola ou fuzil na
porta. Agora, ainda em obras
após um atentado ano passado,
ele parece um bunker.
Mesmo hotéis de menor porte, como o Best Western da Islamabad Club Road, que em
2001 não tinham nem segurança na portaria e em 2008 iniciaram revistas pessoais, agora
têm duas barreiras para inspeção dos carros. Capôs e porta-malas são abertos, espelhos
passados sob os chassis.
"Nós já temos poucos turistas, e isso não estimula em nada", diz Ali Hafaz, que trabalha
em outra fortaleza, a filial da
rede Serena no centro de Islamabad. O país recebe cerca de
850 mil turistas por ano -para
efeitos de comparação, o pouco
visitado Brasil registra 5 milhões de visitantes, enquanto
Paris sozinha atrai 45 milhões
deles anualmente.
Infraestrutura
A infraestrutura não ajuda
muito. Na segunda passada,
quando o voo noturno da Emirates pousou na pista simples
de Islamabad, foram despejadas mais de 300 pessoas num
saguão que lembra uma rodoviária do interior sem ar-condicionado ou organização. Rebatizado de Benazir Bhutto em
homenagem à premiê assassinada em 2007 e cujo viúvo, Asif
Ali Zardari, é o presidente, o aeroporto promete "providenciar
um serviço de imigração de primeiro mundo".
"Devem estar de brincadeira", ri o suíço Hermann, que integra um grupo que está nos
minoritários 15% dos visitantes
que ainda vêm para fazer turismo. Quando a luz apaga pela
terceira vez, ele pergunta para
seus colegas de viagem algo como "que diabos é isso?".
O que é uma pena, dadas as
riquezas naturais fenomenais
do Paquistão, um paraíso para
gente como Hermann, que gosta de trekkings com vestígios de
antigas civilizações.
"Você não vai querer voltar
aqui, eles tinham que mudar isso", diz o jovem Chaudry, que
está apertado na fila ao lado,
para locais. Ele mora em Dubai
e, como a maioria esmagadora
no voo e 56% dos visitantes, segundo o Ministério do Turismo, vem ao Paquistão para visitar parentes. Quando ouve que
o repórter está pela terceira vez
no país, pergunta o motivo.
"Ah, jornalista. É, aqui tem
muito para vocês", diz, aparentando um justo sarcasmo.
Como diz um diplomata ocidental, a cidade parece morrer
lentamente. Restaurantes visados por atender mais ocidentais fecharam depois do atentado ao italiano Luna Caprese em
2008, e os expatriados tendem
a comer em casa.
Ruas de áreas abastadas, como os setores F, invariavelmente têm cancelas e barricadas. Construída na mesma época que Brasília, Islamabad segue o conceito de cidade planejada. Como a capital brasileira,
a realidade impôs outra organização, e a viela na qual o presidente Zardari tem uma casa, no
setor F-8, é vizinha de cortiços
potencialmente saborosos para
recrutadores do terror.
O presidente, entre a elite governamental mais educada de
Islamabad, é visto com alguma
desconfiança. A recente colocação de bandeiras verdes, vermelhas e pretas do seu Partido
do Povo Paquistanês em todos
os postes grandes da cidade foi
duramente criticada na mídia.
O PPP alega que foi uma "iniciativa de trabalhadores".
Os mesmos agradecem Zardari em alguns cartazes pendurados. Com a taxa de desemprego prevista para este ano na
casa dos 10%, apenas as duas
grandes obras viárias inauguradas nos últimos meses podem
justificar tal "gratidão".
Na terça passada, uma delas,
a passagem Faisal, estava fechada por um grande bloqueio.
Com suas bandeiras do PPP
nos postes, parecia mais um
monumento imponente aos
problemas do país.
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