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São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 2003

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CHILE

Às vésperas do 30º aniversário do golpe, críticos do presidente deposto dizem que a esquerda quer fazer dele um "santo"

Simpatizantes de Pinochet reclamam do culto a Allende

CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A SANTIAGO

Na semana em que se lembram os 30 anos do golpe militar que instalou a ditadura do general Augusto Pinochet, a imagem do presidente deposto, Salvador Allende, está em toda parte na capital chilena.
Para os simpatizantes do ex-ditador, porém, há um exagero no culto à memória de Allende, que se suicidou durante o bombardeio ao palácio de La Moneda (sede do governo), em 11 de setembro de 1973.
"Que querem os da esquerda? Que acendamos uma vela e oremos para Allende, como se fosse um santo?", questionava ontem, em frente ao La Moneda, a comerciante Luiza Gonzalez, 58. Admiradora de Pinochet, a quem chama de "mi general", Gonzalez discorda do título de ditador dado ao general, que ficou 17 anos no poder. "Ele cumpriu todas suas promessas e, se o Chile hoje goza de uma tranquilidade econômica, deve-se a Pinochet."
A corretora de imóveis Luz Guajardo nasceu no ano do golpe, mas não tem elogios para Allende. Pelo contrário. "Não houve um golpe, mas um pronunciamento, uma vez que os militares atenderam a uma pressão popular para tomar uma atitude contra um governo onde reinava o caos."
As duas simpatizantes de Pinochet criticam a imprensa local, "que só dá um lado dos fatos", e afirmam que, "se houve vítimas do lado de lá, também se passou o mesmo com o lado de cá".
Ontem, a esquerda mostrou que não está disposta a enterrar o passado. Integrantes do Movimento Patriótico Manuel Rodriguez (MPMR) invadiram as embaixadas do México, da Suécia e de Portugal para protestar contra o que classificam de impunidade contra crimes de contra a humanidade cometidos pela ditadura chilena.
Do lado de fora, também foram entregues panfletos convocando a população para uma passeata amanhã. Políticos e representantes do comércio disseram temer distúrbios.
Os comerciantes chegaram a entrar com uma ação pendido que a Justiça proibisse a realização da passeata.
A prefeitura também informou que irá fechar ao público a visitação ao cemitério onde Allende está enterrado. A decisão foi tomada para evitar destruição de túmulos, como ocorreu em anos anteriores. Ontem, os organizadores da passeata entraram com uma representação na Justiça para tentar cancelar essa resolução. O julgamento, porém, acontecerá na própria quinta-feira.


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