São Paulo, domingo, 10 de setembro de 2006

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Gêmeos poloneses caçam comunistas e desagradam UE

O premiê conservador Jaroslaw Kaczynski e seu irmão presidente, Lech, atuam em nome do combate à corrupção

Dez embaixadores foram afastados no expurgo feito no serviço público; Alemanha ainda é vista como "expansionista"

JAN CIENSKI E STEFAN WAGSTYL
DO "FINANCIAL TIMES"

A Polônia entrou em uma nova era política, iniciada no final do ano passado com a vitória do Partido Lei e Justiça (PLJ), grupo conservador dirigido pelo hoje primeiro-ministro Jaroslaw Kaczynski, nas eleições legislativas polonesas, seguida pela eleição de seu irmão gêmeo, Lech, para a Presidência.
Os gêmeos Kaczynski jamais aceitaram o acordo que, desde 1989, embasava o consenso na Polônia pós-Guerra Fria: o de que o um Estado livre deveria ser construído por meio de um compromisso entre ex-comunistas e ex-inimigos do comunismo, sem um expurgo completo da velha ordem.
Os gêmeos baseiam sua posição em tradições católicas e nacionalistas, e estão determinados a completar o desmonte do comunismo. "É impossível usar as fundações do comunismo, decompostas e ainda infectadas, para construir um Estado funcional, bem gerido e democrático", disse o primeiro-ministro ao "Financial Times".
Os Kaczynski estão pedindo a substituição da Terceira República ora existente por uma Quarta República, que representaria uma Polônia purificada de empresários criminosos, políticos corruptos, ex-agentes comunistas e toda sorte de interferência estrangeira.
O programa começa a se fazer sentir, com a substituição de funcionários públicos por membros leais do PLJ e medidas que tornariam mais severas as leis aplicadas contra antigos colaboradores do comunismo. No exterior, a retórica nacionalista dos Kaczynski tem irritado os parceiros na UE, em especial a Alemanha.

Polícia política
Uma agência policial de elite, o Serviço Central de Combate à Corrupção, está sendo estabelecida, e muitos oponentes do PLJ temem que ela venha a ser usada como polícia política. Os detentores de uma série de postos no setor público terão de ser certificados pelo Instituto da Memória Nacional.
A campanha de expurgos no setor público levou à saída de muitas pessoas que se consideravam servidores do Estado, e não partidários dos comunistas. Esse grupo inclui pelo menos dez embaixadores, entre os quais Marek Grela, o enviado polonês à UE.
Por enquanto, as batalhas entre os políticos de Varsóvia exerceram pouco efeito sobre a economia. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre foi de 5,5%, e o investimento estrangeiro não pára de entrar. Remessas de dinheiro pelo um milhão de poloneses que trabalham no exterior ajudam a alimentar o crescimento.
Os gêmeos consideram como ameaça à Polônia os esforços da Alemanha para definir seu novo papel internacional. Também estão furiosos em relação à cooperação entre Alemanha e Rússia para a construção de um gasoduto no mar Báltico, percurso que não atravessará os territórios da Polônia e outras nações da região.
Os Kaczynski se ofendem com facilidade. Promotores públicos estão investigando o autor de um artigo satírico alemão que compara Lech Kaczynski a uma batata. Os gêmeos apelam aos valores tradicionais: seu forte catolicismo, sua opinião negativa sobre o homossexualismo e seu apoio à pena de morte. contrariam as opiniões dominantes na Europa. Mas os irmãos estão decididos a provar sua teoria de que a Polônia caiu sob domínio de interesses especiais vinculados aos comunistas. "Não temos intenção de nos explicar", diz Kaczynski.


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