São Paulo, segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Próximo Texto | Índice

Eleição argentina terá 13 contra Cristina

Favorita absoluta para suceder o marido, primeira-dama enfrentará rivais cujo primeiro desafio será levar pleito ao 2º turno

Disputam status de opositor mais bem colocado a radical Elisa Carrió e o ex-ministro Roberto Lavagna, que não têm nem 15% nas pesquisas

RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES

As diversas tentativas de união fracassaram e, encerrado à 0h de ontem o prazo final para a inscrição de candidaturas presidenciais na Argentina, 13 oposicionistas tentarão impedir que a primeira-dama Cristina Fernández de Kirchner seja eleita no dia 28 de outubro presidente da Argentina.
São só quatro candidaturas a menos do que em 2003, ápice da atomização da política partidária argentina, um dos efeitos colaterais da crise de 2001.
As siglas tradicionais sofreram um abalo até hoje irreparável: o Partido Justicialista, ou peronista, não conseguiu se recompor das divisões internas que o levaram a ter três candidatos à Casa Rosada em 2003. Agora, com o partido sob intervenção judicial, Alberto Rodríguez Sáa disputará a eleição encabeçando uma ala dissidente do peronismo, que não apóia a candidatura de Cristina.
A UCR (União Cívica Radical), mais tradicional partido argentino -foi fundado em 1891-, pela primeira vez desde a redemocratização não terá candidato à Presidência. O partido dos ex-presidentes Raúl Alfonsín e Fernando de la Rua agora apoiará o peronista Roberto Lavagna.
Lavagna disputa com a ex-radical Elisa Carrió o status de principal candidato opositor. Nenhum dos dois, porém, consegue superar os 15% nas pesquisas. Carrió tentou até o fim do prazo legal formar uma aliança com outro ex-radical, Ricardo López Murphy. O acordo acabou não sendo fechado e Murphy, que nas eleições passadas foi o terceiro colocado, está longe dos dois dígitos nas pesquisas. Como demonstração de que não crê que será eleito, ele disputará também uma vaga na Câmara de Deputados -a Argentina permite uma candidatura dupla.
Há mais nove candidatos opositores, dos quais apenas Jorge Sobisch, governador de Neuquén, aparece com chances reais de alcançar ao menos 1% dos votos. Os outros seriam no Brasil chamados de nanicos: líderes de legendas de esquerda (Luis Amman, Gustavo Breide Obeid, José Montes, Néstor Pitrola e Vilma Ripoll), um cineasta (Fernando Solanas), um piqueteiro (Raúl Castells) e um eterno candidato à Presidência, Juan Carlos Mussa.

Difícil tarefa
O objetivo dessa constelação de oposicionistas é conseguir o que até agora parece improvável: superar os 60% dos votos e assim forçar o segundo turno entre Cristina e o mais bem posicionado antikirchnerista.
Na Argentina, um candidato é eleito no primeiro turno quando supera 40% dos votos e tem vantagem superior a dez pontos sobre o segundo colocado, ou quando passa de 45% -aí não importa a vantagem.
Com a dispersão de candidaturas oposicionistas, parece improvável que um mesmo candidato passe de 30%. Por isso, a aposta é que Cristina não chegue aos 40% -o que hoje também parece improvável.
A maior esperança da oposição é que se repita, a nível nacional, o ocorrido em recentes eleições nas maiores Províncias do país. Na cidade de Buenos Aires e em Santa Fé, adversários do kirchnerismo saíram vitoriosos. Além disso, assim como em Córdoba, onde o resultado ainda é questionado, os candidatos antikirchneristas tiveram desempenho superior ao previsto nas pesquisas.
Com o cenário eleitoral nacional tranqüilo, Cristina partiu ontem para a Alemanha, em mais uma das viagens internacionais que vem fazendo desde o início do ano. Em uma das poucas entrevistas que deu desde que foi confirmada sua candidatura, ela disse que um dos objetivos de um eventual governo seu será reinserir a Argentina no mundo.


Próximo Texto: Memória: Crise de 2001 dificultou as alianças no país
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.