São Paulo, quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Líderes europeus querem encontro sobre Afeganistão

Sem anuência dos EUA, Reino Unido, Alemanha e França propõem à ONU conferência até o fim do ano para estabelecer novas metas

DA REDAÇÃO

Sem a anuência dos EUA, os líderes de Alemanha, Reino Unido e França propuseram à ONU a realização de uma conferência internacional sobre o Afeganistão até o fim do ano, para discutir um cronograma para a transferência de responsabilidades ao governo local.
Em carta ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, a chanceler (premiê) Angela Merkel, o premiê Gordon Brown e o presidente Nicolas Sarkozy pediram a definição de "nova perspectiva e objetivos" à missão da Otan, aliança militar ocidental.
A proposta é uma reação ao recente aumento da oposição ao conflito nos países que integram a missão liderada pelos EUA. Este ano já é o mais violento para forças externas desde o início da guerra, em 2001.
Também o aumento dos indícios de fraude na eleição presidencial do último dia 20 coloca sob suspeita a lisura da eventual reeleição do presidente Hamid Karzai e compromete a legitimidade do governo apoiado pela missão ocidental.
"Nesse contexto, devemos considerar o aumento na velocidade, tamanho e qualidade do treinamento de forças de segurança afegãs", disseram os líderes ocidentais, que defenderam a realização da conferência logo após a posse do novo governo e possivelmente em duas etapas.
Segundo os líderes europeus, é preciso estabelecer um cronograma do que chamaram de "afeganização", a progressiva transferência de responsabilidades aos órgãos locais de governo, sobretudo em matéria de promoção da segurança.
Brown, que vê os soldados britânicos morrerem no Afeganistão mais que em outros anos da guerra, propôs que Londres abrigue a segunda parte da conferência de nível ministerial -a primeira delas seria em Cabul.
Merkel também vê a pressão interna aumentar, a menos de três semanas das eleições parlamentares em que tentará a reeleição, devido à morte de dezenas de civis em um ataque da Otan convocado pelo comando alemão na última sexta-feira.
O secretário-geral da Otan, Anders Rasmussen, defendeu a realização do encontro, mas rejeitou a possibilidade de retirada "precipitada" do país. "Se sairmos, logo haverá terroristas promovendo instabilidade. E este é um futuro que simplesmente não podemos permitir."
Os EUA não comentaram a proposta dos aliados europeus. O governo Barack Obama deve em breve apresentar uma revisão da estratégia para a guerra no Afeganistão. Dos mais de 100 mil soldados estrangeiros no país, cerca de 68 mil são americanos -já incluído o aumento de tropas anunciado pela Casa Branca em fevereiro.

Eleições
Tanto os planos do governo americano -que fez do conflito o foco do combate ao terrorismo- quanto os dos líderes europeus podem, no entanto, ser frustrados pelo atraso no cronograma eleitoral afegão devido à recontagem de parte dos votos ordenada anteontem.
Segundo a Comissão Eleitoral de Apelações, há "claros indícios de fraude". A entidade ordenou a recontagem no dia em que a apuração, com 91,6% dos votos contados, indicou pela primeira vez a vitória em primeiro turno de Karzai.
Ontem, o presidente afegão voltou a defender, em nota, a "honestidade e imparcialidade" da eleição. O segundo colocado, o ex-chanceler Abdullah Abdullah, que tem 28,3% dos votos, alega fraude no pleito.
Os líderes europeus não fizeram menção às suspeitas de irregularidades na carta à ONU. Segundo eles, a eleição foi "um importante passo na história democrática" do Afeganistão.

Com agências internacionais



Texto Anterior: Irã apresenta oferta para retomar diálogo nuclear
Próximo Texto: Jornalista do "Times" é resgatado pela Otan
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.