São Paulo, terça-feira, 10 de outubro de 2006

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Bush ameaça Coréia do Norte com sanções

Conselho de Segurança condena a explosão atômica anunciada por Pyongyang; EUA não confirmaram que houve teste

Para analistas, Casa Branca aposta na diplomacia por falta de opção, já que EUA estão envolvidos em outras duas frentes de guerra

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

A comunidade internacional condenou firmemente o anúncio do teste nuclear feito pela Coréia do Norte na noite de domingo, que faria daquele país o nono Estado a possuir armas dessa natureza no mundo. A reação foi liderada pelo presidente norte-americano, George W. Bush, e o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), no primeiro teste do novo secretário-geral da entidade, o sul-coreano Ban Ki Moon.
"Os Estados Unidos condenam este ato de provocação", disse Bush. "Mais uma vez, a Coréia do Norte desafiou a comunidade internacional, e a comunidade internacional vai responder", afirmou o presidente logo pela manhã, para depois dizer que seu país "continua comprometido com a diplomacia" e "continuará a proteger" seus interesses.
Alguns analistas consideraram a reação da Casa Branca branda ao reforçar a via diplomática e insistir na pressão multilateral, principalmente via Conselho de Segurança da ONU. O motivo seria a falta de opções de Bush, já envolvido em duas frentes, o Iraque e o Afeganistão, que ameaçam sair do seu controle.
"A administração de Bush merece uma reprimenda particular" pelo teste, disse o presidente do Conselho Independente de Relações Exteriores, Gary Samore. "Eles tinham expectativas que não eram realistas sobre o que poderia ser alcançado via pressão. A habilidade dos EUA de constranger a Coréia do Norte é limitada, especialmente no meio de uma guerra no Iraque."
Já o Conselho de Segurança da ONU repudiou o anúncio do teste, mas analisava até a conclusão dessa edição a proposta levada pelo embaixador dos EUA, John Bolton, de embargo militar e sanções financeiras e econômicas ao país. Reino Unido e França se mostraram favoráveis com algumas restrições ao pacote, que encontrou resistência da China, principal aliado da Coréia do Norte, e indiferença da Rússia.
O principal ponto da proposta é a inspeção internacional de toda mercadoria que entrar e sair do país. O temor dos EUA é que a Coréia do Norte exporte armas e tecnologia nuclear para grupos terroristas. Outros itens defendidos por Bolton numa reunião a portas fechadas incluem o bloqueio do acesso do país ao sistema financeiro internacional e a proibição do comércio de itens de luxo.
"Eu não vi nenhum defensor da Coréia do Norte naquela sala", disse Bolton num intervalo da reunião. "Ninguém defendeu o teste. Ninguém chegou nem perto de defendê-lo." O Conselho de Segurança (CS) é formado por 15 países, mas apenas EUA, França, Rússia, Reino Unido e China têm poder de decisão.
O anúncio norte-coreano chegou dois dias depois de o CS ter avisado que a Coréia do Norte sofreria "conseqüências severas" se seguisse em frente com seus planos.
Se confirmada a realização do teste, a Coréia do Norte será o nono membro do chamado "clube nuclear", formado por EUA, Rússia, França, China, Reino Unido, Índia, Paquistão e Israel -o último não confirma que possua armas nucleares e nunca anunciou testes.

Ato de guerra
Em outro flanco, funcionários graduados do governo Bush que não quiseram se identificar declararam a jornalistas norte-americanos que uma frota militar poderia ser deslocada à península Coreana e, num segundo momento, inspecionar toda embarcação que saísse do país.
A ação naval é considerada ato de guerra e, por esse motivo, pouco provável de ser levada a cabo. Um dos motivos são as crescentes dúvidas levantadas pela comunidade de inteligência de que o teste nuclear tenha mesmo acontecido. Na avaliação de alguns órgãos, a explosão seria mais um ato de propaganda. O próprio Bush foi cuidadoso: "Ainda estamos trabalhando para confirmar a afirmação da Coréia do Norte".


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