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Governo Bush desmontou acordos negociados por Clinton
PHILIPPE PONS
DO "MONDE", EM TÓQUIO
O teste nuclear que a Coréia
do Norte acaba de realizar, violando o acordo intercoreano de
desnuclearização da península,
de 1992, é resultado da escalada
que teve início em outubro de
2002, quando Washington acusou Pyongyang de levar adiante
um programa clandestino de
enriquecimento de urânio.
A tensão que se seguiu a isso
se traduziu na saída da Coréia
do Norte do Tratado de Não-Proliferação Nuclear e na retomada de sua produção de plutônio, que desde 1994 tinha sido congelada e posta sob a inspeção da Agência Internacional
de Energia Atômica (AIEA).
As iniciativas norte-coreanas
em matéria de enriquecimento
eram conhecidas desde 1988,
mas o governo Bill Clinton
[1993-2001] preferiu tratar a
questão dentro do contexto de
um compromisso global. Em
1994, Pyongyang e Washington
chegaram a um acordo de
meio-termo: congelamento do
programa de plutônio norte-coreano em troca do fornecimento de duas centrais nucleares de água leve (cuja energia é
mais difícil de ser desviada para
finalidades militares), fornecimento de petróleo e o levantamento das sanções norte-americanas em vigor desde o fim da
Guerra da Coréia (1953).
Diante da oposição da maioria republicana no Congresso,
Bill Clinton atrasou a implementação do acordo. Pyongyang sentiu-se ludibriada. Em
1998, um teste do míssil de longo alcance Taepodong, que sobrevoou o Japão, obrigou Washington a rever sua política.
Um ano mais tarde, americanos e norte-coreanos chegaram
a um acordo sobre o congelamento dos testes de mísseis, e,
em outubro de 2000, a então
secretária de Estado Madeleine
Albright foi até Pyongyang para
preparar a visita de Bill Clinton
à Coréia do Norte, antes de ele
deixar a Casa Branca. Mas o
presidente desistiu da viagem,
sob pressão dos republicanos.
Quando George Bush chegou
ao poder, ele tinha a idéia de
destruir o edifício erguido por
seu predecessor. O primeiro
golpe foi dado em outubro de
2002, com a visita a Pyongyang
do secretário de Estado adjunto James Kelly, que acusou o
regime de levar adiante o enriquecimento de urânio.
Washington declarou caduco
o acordo de 1994, e Pyongyang
expulsou os inspetores da
AIEA, saiu do TNP e retomou
sua produção de plutônio. Resultado: enquanto em 2000 a
CIA estimara que a Coréia do
Norte possuía material físsil
suficiente para fabricar duas
bombas, em 2006 ela já poderia
produzir uma dezena.
Quando, em 2003, o governo
Bush tomou consciência dos limites de sua tática, ele se decidiu a iniciar um diálogo, através
de conversações a seis partes
(China, as duas Coréias, Estados Unidos, Japão e Rússia).
Em setembro de 2005, foi assinado um acordo de princípio
prevendo o desarmamento da
Coréia do Norte em troca de garantias de segurança. O texto
do acordo era pouco definido e
não previa nenhum calendário.
A partir do dia seguinte à assinatura, Pyongyang declarou
suas exigências de reciprocidade, e Washington decidiu por
sanções financeiras visando estrangular a Coréia do Norte,
acusada de emissão de dinheiro
falso.
Tradução de CLARA ALLAIN
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