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Sul-coreano é novo líder da ONU
Conselho oficializa indicação de Ban Ki-Moon à Secretaria Geral; visita à Coréia do Norte encabeça agenda
Novo secretário quer mediar crise nuclear; ratificação pela Assembléia Geral ocorre até próxima semana, e posse, em 1º de janeiro
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE NOVA YORK
Agora é oficial. O sul-coreano
Ban Ki-Moon foi virtualmente
eleito ontem pelo Conselho de
Segurança secretário-geral da
ONU para um mandato de cinco anos, a começar em 1º de janeiro. Precisa agora apenas da
aclamação da Assembléia Geral, que deve ocorrer nesta semana ou na próxima. Nunca
houve, na história da organização, uma rejeição em plenário à
decisão do CS.
A eleição do novo secretário-geral ocorre em meio à tensão
provocada pelo anúncio da Coréia do Norte de haver realizado testes nucleares. Ban disse
ontem estar disposto a viajar a
Pyongyang para tentar resolver
a crise e ser um mediador do
conflito, que definiu como
"mal-estar". Ressaltou ainda o
"grande peso" que a crise norte-coreana terá em seu trabalho e disse que "não tolerará"
armas nucleares na península
Coreana.
"Vou à Coréia do Norte tão
logo tenha oportunidade. Por
causa deste teste nuclear norte-coreano, realizado contra as
advertências da comunidade
internacional, estou triste em
um momento em que na realidade deveria sentir orgulho e
alegria. Espero que os membros da ONU confiem em
mim", disse Ban, ainda em Seul.
E espetou o atual secretário-geral: "Kofi Annan nunca visitou a Coréia do Norte em dez
anos de mandato na ONU".
Em nota, Annan disse que
"tem o maior respeito pelo colega" e que "fará de tudo para
garantir uma transição suave".
O Departamento de Estado
dos EUA disse que a escolha do
sul-coreano é "correta em momento fundamental". "Acreditamos que seu compromisso
com a reforma das Nações Unidas levará a uma ONU mais forte e mais eficaz, capaz de usar
seus recursos humanos e financeiros ao máximo para atingir
as metas que o organismo se
propuser", diz o comunicado.
"É por uma coincidência
apropriada que hoje, 61 anos
após a divisão temporária da
península Coreana no fim da
Segunda Guerra, elegemos o
chanceler da Coréia do Sul, ao
mesmo tempo em que nos reunimos para examinar o teste de
um artefato nuclear realizado
pela Coréia do Norte", avaliou o
embaixador americano na
ONU, John Bolton.
O japonês Kenzo Oshima,
que presidiu a sessão do CS,
disse que a nomeação de Ban dá
segurança à resolução da ONU.
"Ele é a pessoa que, com todo
o nosso apoio, será o melhor
mediador do conflito com a Coréia do Norte", disse o embaixador russo, Vitaly Churkin.
Apatia
Diplomatas ouvidos pela Folha disseram ver com preocupação a apatia, no dizer de alguns, de Ban. Depois da debacle
de Kofi Annan para impedir o
conceito de guerra preventiva
da doutrina Bush, com a invasão do Iraque, o organismo esperava um novo líder com pulso firme e força política.
Ban era o único candidato
ainda na disputa. Outros seis
haviam retirado suas candidaturas na semana passada. A designação do sul-coreano era
praticamente garantida desde
o dia 2, quando recebeu apoio
dos cinco membros com direito
de veto (China, EUA, França,
Reino Unido e Rússia) numa
votação informal no CS.
A maioria dos candidatos era
de origem asiática. Segundo um
princípio implícito de rotação
geográfica, o cargo devia ser
atribuído a um representante
do continente, depois da África
do ganense Annan e do egípcio
Boutros Boutros-Ghali.
Diplomata de carreira há 36
anos, Ban é mestre em administração pública pela Universidade Harvard e bacharel em
relações internacionais pela
Universidade Nacional de Seul.
Foi assessor da Presidência
da Coréia do Sul para assuntos
internacionais (2003-04), embaixador na ONU (2001), vice-chanceler (2000-01), presidente da comissão do Tratado de
Não-Proliferação de Armas
Nucleares (1999) e duas vezes
embaixador em Washington,
no fim da década de 80 e no início dos anos 90.
Ontem, disse estar confiante
de que pode melhorar a relação
com os EUA e que assume o
cargo com a missão para que a
ONU "prometa menos e faça
mais". Ban, defensor da globalização como estratégia política,
polarizou sua carreira entre o
maior aliado de seu país, os
EUA, e a maior ameaça, a Coréia do Norte.
"O século 21 será da Ásia e do
Pacífico", avaliou.
Quando estava no terceiro
ano do ensino médio, em 1962,
Ban venceu um concurso de
oratória em inglês e ganhou
uma viagem aos EUA como
prêmio. Em visita à Casa Branca, encontrou o então presidente John F. Kennedy, que lhe
perguntou planos para o futuro: "quero ser diplomata", disse
à época. Casado, cristão não-praticante, Ban tem duas filhas.
A mais velha trabalha para o
Unicef na África. Já recebeu do
Brasil a grã-cruz da Ordem do
Rio Branco, em 2002, a segunda maior honraria concedida
pelo Planalto a personalidades
estrangeiras.
Ao longo dos anos, o secretário-geral da ONU passou a ganhar dimensão política relevante como mediador de conflitos internacionais. Enfraquecido com a Guerra do Iraque, o cargo é o foco das discussões sobre a reforma da ONU.
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