São Paulo, terça-feira, 10 de outubro de 2006

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Sul-coreano é novo líder da ONU

Conselho oficializa indicação de Ban Ki-Moon à Secretaria Geral; visita à Coréia do Norte encabeça agenda

Novo secretário quer mediar crise nuclear; ratificação pela Assembléia Geral ocorre até próxima semana, e posse, em 1º de janeiro

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE NOVA YORK

Agora é oficial. O sul-coreano Ban Ki-Moon foi virtualmente eleito ontem pelo Conselho de Segurança secretário-geral da ONU para um mandato de cinco anos, a começar em 1º de janeiro. Precisa agora apenas da aclamação da Assembléia Geral, que deve ocorrer nesta semana ou na próxima. Nunca houve, na história da organização, uma rejeição em plenário à decisão do CS.
A eleição do novo secretário-geral ocorre em meio à tensão provocada pelo anúncio da Coréia do Norte de haver realizado testes nucleares. Ban disse ontem estar disposto a viajar a Pyongyang para tentar resolver a crise e ser um mediador do conflito, que definiu como "mal-estar". Ressaltou ainda o "grande peso" que a crise norte-coreana terá em seu trabalho e disse que "não tolerará" armas nucleares na península Coreana.
"Vou à Coréia do Norte tão logo tenha oportunidade. Por causa deste teste nuclear norte-coreano, realizado contra as advertências da comunidade internacional, estou triste em um momento em que na realidade deveria sentir orgulho e alegria. Espero que os membros da ONU confiem em mim", disse Ban, ainda em Seul.
E espetou o atual secretário-geral: "Kofi Annan nunca visitou a Coréia do Norte em dez anos de mandato na ONU".
Em nota, Annan disse que "tem o maior respeito pelo colega" e que "fará de tudo para garantir uma transição suave".
O Departamento de Estado dos EUA disse que a escolha do sul-coreano é "correta em momento fundamental". "Acreditamos que seu compromisso com a reforma das Nações Unidas levará a uma ONU mais forte e mais eficaz, capaz de usar seus recursos humanos e financeiros ao máximo para atingir as metas que o organismo se propuser", diz o comunicado.
"É por uma coincidência apropriada que hoje, 61 anos após a divisão temporária da península Coreana no fim da Segunda Guerra, elegemos o chanceler da Coréia do Sul, ao mesmo tempo em que nos reunimos para examinar o teste de um artefato nuclear realizado pela Coréia do Norte", avaliou o embaixador americano na ONU, John Bolton.
O japonês Kenzo Oshima, que presidiu a sessão do CS, disse que a nomeação de Ban dá segurança à resolução da ONU.
"Ele é a pessoa que, com todo o nosso apoio, será o melhor mediador do conflito com a Coréia do Norte", disse o embaixador russo, Vitaly Churkin.

Apatia
Diplomatas ouvidos pela Folha disseram ver com preocupação a apatia, no dizer de alguns, de Ban. Depois da debacle de Kofi Annan para impedir o conceito de guerra preventiva da doutrina Bush, com a invasão do Iraque, o organismo esperava um novo líder com pulso firme e força política.
Ban era o único candidato ainda na disputa. Outros seis haviam retirado suas candidaturas na semana passada. A designação do sul-coreano era praticamente garantida desde o dia 2, quando recebeu apoio dos cinco membros com direito de veto (China, EUA, França, Reino Unido e Rússia) numa votação informal no CS.
A maioria dos candidatos era de origem asiática. Segundo um princípio implícito de rotação geográfica, o cargo devia ser atribuído a um representante do continente, depois da África do ganense Annan e do egípcio Boutros Boutros-Ghali.
Diplomata de carreira há 36 anos, Ban é mestre em administração pública pela Universidade Harvard e bacharel em relações internacionais pela Universidade Nacional de Seul.
Foi assessor da Presidência da Coréia do Sul para assuntos internacionais (2003-04), embaixador na ONU (2001), vice-chanceler (2000-01), presidente da comissão do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (1999) e duas vezes embaixador em Washington, no fim da década de 80 e no início dos anos 90.
Ontem, disse estar confiante de que pode melhorar a relação com os EUA e que assume o cargo com a missão para que a ONU "prometa menos e faça mais". Ban, defensor da globalização como estratégia política, polarizou sua carreira entre o maior aliado de seu país, os EUA, e a maior ameaça, a Coréia do Norte.
"O século 21 será da Ásia e do Pacífico", avaliou.
Quando estava no terceiro ano do ensino médio, em 1962, Ban venceu um concurso de oratória em inglês e ganhou uma viagem aos EUA como prêmio. Em visita à Casa Branca, encontrou o então presidente John F. Kennedy, que lhe perguntou planos para o futuro: "quero ser diplomata", disse à época. Casado, cristão não-praticante, Ban tem duas filhas. A mais velha trabalha para o Unicef na África. Já recebeu do Brasil a grã-cruz da Ordem do Rio Branco, em 2002, a segunda maior honraria concedida pelo Planalto a personalidades estrangeiras.
Ao longo dos anos, o secretário-geral da ONU passou a ganhar dimensão política relevante como mediador de conflitos internacionais. Enfraquecido com a Guerra do Iraque, o cargo é o foco das discussões sobre a reforma da ONU.



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