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SUCESSÃO NOS EUA / RETA FINAL
Público republicano radicaliza em comícios
Gritos de "terrorista" e "traidor" contra Obama começam a se tornar rotina; vice democrata condena "atmosfera tóxica"
Para analista, McCain e Palin deveriam agir para calar os exaltados; republicano diz querer descobrir quem é "o verdadeiro Obama"
DE NOVA YORK
A estratégia atual do candidato republicano à Casa Branca, John McCain, de retratar
seu rival como "muito arriscado para os EUA", parece funcionar em ao menos uma arena:
seus comícios, onde o público
está respondendo de maneira
cada vez mais agressiva contra
Barack Obama.
Enquanto McCain, sua candidata a vice, Sarah Palin, e sua
mulher, Cindy, aumentam o
tom dos questionamentos ao
patriotismo e à personalidade
do candidato democrata, têm
sido ouvidos na platéia gritos
de "traição", "terrorista",
"mentiroso" e até "matem-no".
"Campanhas sempre ficam
feias. Mas não me lembro de ter
ouvido indivíduos em comícios
usando esse tipo de palavra para descrever o oponente", disse
à Folha Mark Peterson, especialista em política americana
da Universidade da Califórnia
em Los Angeles (UCLA).
Para Peterson, o pior "não é o
que está sendo dito -afinal, no
meio de milhares de pessoas
sempre há alguns malucos-,
mas o fato de que Palin e
McCain não tenham posto
imediatamente um fim a isso".
Ontem, McCain, que vinha
deixando para Palin a maior
parte dos ataques, afirmou em
comício no Wisconsin que "é
preciso descobrir quem é o verdadeiro Barack Obama". Sua
campanha vem questionando
laços de Obama com William
Ayers, que nos anos 70 promoveu atentados contra o racismo
e a Guerra do Vietnã.
Os dois serviram juntos em
conselhos de entidades de caridade em Chicago e Ayers fez
uma festa para Obama no início de sua carreira, mas, segundo o "New York Times", não há
indícios de que sejam íntimos.
McCain e Palin, porém, insistem em que "Obama é amigo de
terroristas" e ontem lançaram
o segundo comercial a respeito.
As reações agressivas do público republicano geraram uma
investigação sobre ameaças feitas a Obama, segundo o site de
notícias esquerdista "Huffington Post", que cita porta-voz do
serviço secreto americano.
Campanha feia
"É a campanha mais feia que
eu já vi, e os republicanos estão
promovendo isso", diz Clyde
Wilcox, analista político da
Universidade Georgetown. "A
única chance de McCain", afirma, "é que os eleitores passem a
desconfiar de Obama o suficiente para não votar nele".
Os democratas também elevaram o tom. Obama está dedicando boa parte de seus discursos a criticar as propostas de
McCain. "Posso agüentar mais
quatro semanas de ataques (...),
mas os EUA não podem ter
mais quatro anos das políticas
de McCain e de George W.
Bush", disse em Ohio ontem.
Já Joe Biden, candidato a vice democrata, afirmou em e-mail a eleitores que a campanha adversária é "desonrosa".
"Nossos opositores estão fazendo tudo para encorajar essa
atmosfera tóxica", disse.
Os democratas também lançaram um filme na internet sobre o papel de McCain no escândalo "Os Cinco de Keating",
quando cinco senadores tentaram beneficiar um milionário
com problemas com a Justiça.
(ANDREA MURTA)
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