São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / RETA FINAL

Público republicano radicaliza em comícios

Gritos de "terrorista" e "traidor" contra Obama começam a se tornar rotina; vice democrata condena "atmosfera tóxica"

Para analista, McCain e Palin deveriam agir para calar os exaltados; republicano diz querer descobrir quem é "o verdadeiro Obama"

DE NOVA YORK

A estratégia atual do candidato republicano à Casa Branca, John McCain, de retratar seu rival como "muito arriscado para os EUA", parece funcionar em ao menos uma arena: seus comícios, onde o público está respondendo de maneira cada vez mais agressiva contra Barack Obama.
Enquanto McCain, sua candidata a vice, Sarah Palin, e sua mulher, Cindy, aumentam o tom dos questionamentos ao patriotismo e à personalidade do candidato democrata, têm sido ouvidos na platéia gritos de "traição", "terrorista", "mentiroso" e até "matem-no".
"Campanhas sempre ficam feias. Mas não me lembro de ter ouvido indivíduos em comícios usando esse tipo de palavra para descrever o oponente", disse à Folha Mark Peterson, especialista em política americana da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA).
Para Peterson, o pior "não é o que está sendo dito -afinal, no meio de milhares de pessoas sempre há alguns malucos-, mas o fato de que Palin e McCain não tenham posto imediatamente um fim a isso".
Ontem, McCain, que vinha deixando para Palin a maior parte dos ataques, afirmou em comício no Wisconsin que "é preciso descobrir quem é o verdadeiro Barack Obama". Sua campanha vem questionando laços de Obama com William Ayers, que nos anos 70 promoveu atentados contra o racismo e a Guerra do Vietnã.
Os dois serviram juntos em conselhos de entidades de caridade em Chicago e Ayers fez uma festa para Obama no início de sua carreira, mas, segundo o "New York Times", não há indícios de que sejam íntimos. McCain e Palin, porém, insistem em que "Obama é amigo de terroristas" e ontem lançaram o segundo comercial a respeito.
As reações agressivas do público republicano geraram uma investigação sobre ameaças feitas a Obama, segundo o site de notícias esquerdista "Huffington Post", que cita porta-voz do serviço secreto americano.

Campanha feia
"É a campanha mais feia que eu já vi, e os republicanos estão promovendo isso", diz Clyde Wilcox, analista político da Universidade Georgetown. "A única chance de McCain", afirma, "é que os eleitores passem a desconfiar de Obama o suficiente para não votar nele".
Os democratas também elevaram o tom. Obama está dedicando boa parte de seus discursos a criticar as propostas de McCain. "Posso agüentar mais quatro semanas de ataques (...), mas os EUA não podem ter mais quatro anos das políticas de McCain e de George W. Bush", disse em Ohio ontem.
Já Joe Biden, candidato a vice democrata, afirmou em e-mail a eleitores que a campanha adversária é "desonrosa". "Nossos opositores estão fazendo tudo para encorajar essa atmosfera tóxica", disse.
Os democratas também lançaram um filme na internet sobre o papel de McCain no escândalo "Os Cinco de Keating", quando cinco senadores tentaram beneficiar um milionário com problemas com a Justiça. (ANDREA MURTA)


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