São Paulo, sábado, 10 de outubro de 2009

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Aposta na diplomacia dá Nobel a Obama

"O comitê dá especial importância à visão de Obama de um mundo sem armas nucleares", diz comunicado que justifica prêmio

É o terceiro Nobel da Paz concedido a um presidente americano ainda no cargo, e o primeiro a ser dado ainda no primeiro ano de mandato


Gerald Herbert/Associated Press
Obama prepara-se para fazer pronunciamento após anúncio

LUCIANA COELHO
DE GENEBRA

O Comitê Norueguês do Nobel anunciou ontem o presidente americano, Barack Obama, 48, como vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 2009, por "seus esforços extraordinários para fortalecer a cooperação entre os povos".
A premiação vem no momento em que a popularidade de Obama cambaleia dentro e fora dos EUA, especialmente na Europa, e em que seu país trava duas guerras.
"O comitê dá especial importância à visão de Obama de um mundo sem armas nucleares e a seu trabalho nesse sentido", disse o comunicado justificando a escolha do Nobel.
"Estou surpreso e profundamente honrado com a decisão do Comitê do Nobel. Não vejo isso como reconhecimento dos meus feitos, mas como uma afirmação da liderança americana em nome das aspirações dos povos de todas as nações", disse Obama sobre a conquista.
A escolha surpreendeu não só Obama. Nas tradicionais casas de aposta britânicas, o nome do americano não era dos mais bem cotados, e parte da plateia em Oslo chegou a engasgar. Sobretudo pelo pouco tempo de Obama no cargo, nove meses, sendo que na época em que acabou o prazo para indicações, fevereiro, ele estava havia só um mês no poder.
Mas o Comitê do Nobel é conhecido por fazer escolhas políticas, que focam mais na mensagem a passar e no que representa o laureado do que em seus feitos em si, como já disse um antigo integrante à Folha.
Foi assim no ano retrasado, quando elegeu o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática da ONU (IPCC) e o ex-vice-presidente/ativista ambiental Al Gore, e foi assim neste ano, com Obama.
Se em 2007 o comitê escolheu um adversário do então presidente George W. Bush e uma área na qual seu governo era especialmente tíbio (ambiente), neste ano o comunicado de premiação também faz uma alusão ao republicano.
"Obama, como presidente, criou um novo clima na política internacional. A diplomacia multilateral assumiu de volta uma posição central, com ênfase no papel da ONU e de outras instituições", diz o texto em que o comitê justifica a escolha. "O diálogo e as negociações são preferidos como instrumentos para resolver até os mais difíceis dos conflitos externos."
Ou seja: o texto não cita feitos concretos nem políticas transformadoras de Obama, até porque esses males existem. Mas menciona seu pendor ao diálogo, demonstrado, por exemplo, no caso do dúbio programa nuclear iraniano; ou nos discursos proferidos à população muçulmana, transformada em antagonista dos EUA sob Bush.

Inspiração
O comitê também diz ter escolhido Obama pelo que ele representa -embora o poder inspirador do presidente ande em baixa. "Raramente uma pessoa capturou a atenção do mundo e deu à sua população esperança de um futuro melhor na mesma proporção que Obama. Sua diplomacia se baseia no conceito de que aqueles que lideram o mundo devem fazê-lo com base nos valores compartilhados pela maioria da população."
Formado por cinco membros apontados de acordo com a composição do Parlamento norueguês, hoje majoritariamente de esquerda, mais um secretário, o comitê tem nas mãos o poder de escolher sozinho o laureado. Não há nenhum tipo de votação, apenas eventuais consultas a especialistas estrangeiros.
Essa escolha é feita com base em uma lista de candidaturas que neste ano bateu o recorde, 205. Os nomes podem ser indicados por antigos laureados, congressistas e parlamentares; governantes; diretores de instituições contempladas; professores universitários de política, história, filosofia, direito e teologia; diretores de institutos de pesquisas da paz e de assuntos internacionais; membros do Tribunal Permanente de Arbitragem e da Corte Internacional de Justiça de Haia; membros do Instituto Internacional de Direito e membros e conselheiros do Comitê do Nobel.
A partir da lista, os integrantes do comitê -que têm mandatos de seis anos- fazem uma triagem no meio do ano e procedem em etapas até sobrarem no máximo 20 nomes em setembro. A escolha final é revisada no começo de outubro e anunciada em meados do mês.
O prêmio foi criado pelo químico sueco Alfred Nobel e instituído quatro anos após sua morte, em 1896. Há 108 anos contempla o escolhido com um epíteto reverenciado mundialmente e com um cheque de 10 milhões de coroas suecas (R$ 2,5 milhões). Obama promete doar o seu à caridade.
Outros dois presidentes americanos já haviam recebido o Nobel da Paz ainda no cargo: Theodore Roosevelt (1901-1909), em 1906, e Woodrow Wilson (1913-1921), em 1919. Jimmy Carter (1977-1981) ganhou o prêmio já como ex-presidente, em 2002.


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