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CONTRA
Precoce, prêmio só contribui para endeusar Obama
RODRIGO RÖTZSCH
EDITOR DE MUNDO
NÃO deixa de ser irônico
que, no dia em que recebeu o inesperado
Prêmio Nobel da Paz, o presidente Barack Obama esteja debruçado sobre o dilema de
quantos soldados a mais enviar
para uma guerra que não iniciou, mas que passa a ser chamada de sua -a do Afeganistão,
em contraste com a do Iraque, a
guerra de Bush.
Não é só no Afeganistão que
Obama não conseguiu promover a paz. Mas também no
Oriente Médio, onde não logrou até agora nem fazer com
que existam negociações de paz
em andamento entre palestinos e israelenses e assiste ao
premiê Binyamin Netanyahu
fazer ouvidos moucos a seus
apelos para que pare de construir assentamentos na Cisjordânia. E até no seu quintal, em
Honduras, não foi capaz de impor ou mediar uma solução que
ao menos reduzisse a conflitividade social no país após o golpe
que depôs Manuel Zelaya.
Em relação aos esforços para
reduzir o arsenal nuclear global, fora a retórica, o resultado
concreto não só não veio, ainda,
como aconteceu o contrário -a
Coreia do Norte testou um segundo artefato atômico, e o Irã
continua avançando em seu
programa nuclear, embora
continue jurando de pés juntos,
para quem quiser acreditar,
que seus fins são puramente
pacíficos.
Mesmo o valor da imagem
projetada pelo primeiro presidente negro americano, que fez
o comitê que concede o Nobel
afirmar que "raramente uma
pessoa capturou a atenção do
mundo e deu à sua população
esperança de um futuro melhor
na mesma proporção que Obama", começa a se dissipar em
partes do mundo, descontentes
com algumas de suas políticas.
Obama conduz um governo
repleto de boas intenções. Mas
fato é que, até por estar há só
nove meses no cargo, elas ainda
são apenas isso: intenções. Que
podem até encher o inferno,
mas não bastam para justificar
um Prêmio Nobel da Paz.
Para o bem do mundo, seria
até bom que, ao fim do seu
mandato, o presidente dos
EUA fizesse jus ao galardão que
lhe foi dado ontem. Mas, por
ora, ele é precoce e não tem, por
si, o condão de transformar as
boas intenções em realidade.
Por enquanto, o Nobel só
contribui para um endeusamento de Obama que não lhe é
nada benéfico -o homem, por
melhor que seja, nunca estará à
altura do mito.
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