São Paulo, sábado, 10 de outubro de 2009

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CONTRA

Precoce, prêmio só contribui para endeusar Obama

RODRIGO RÖTZSCH
EDITOR DE MUNDO

NÃO deixa de ser irônico que, no dia em que recebeu o inesperado Prêmio Nobel da Paz, o presidente Barack Obama esteja debruçado sobre o dilema de quantos soldados a mais enviar para uma guerra que não iniciou, mas que passa a ser chamada de sua -a do Afeganistão, em contraste com a do Iraque, a guerra de Bush.
Não é só no Afeganistão que Obama não conseguiu promover a paz. Mas também no Oriente Médio, onde não logrou até agora nem fazer com que existam negociações de paz em andamento entre palestinos e israelenses e assiste ao premiê Binyamin Netanyahu fazer ouvidos moucos a seus apelos para que pare de construir assentamentos na Cisjordânia. E até no seu quintal, em Honduras, não foi capaz de impor ou mediar uma solução que ao menos reduzisse a conflitividade social no país após o golpe que depôs Manuel Zelaya.
Em relação aos esforços para reduzir o arsenal nuclear global, fora a retórica, o resultado concreto não só não veio, ainda, como aconteceu o contrário -a Coreia do Norte testou um segundo artefato atômico, e o Irã continua avançando em seu programa nuclear, embora continue jurando de pés juntos, para quem quiser acreditar, que seus fins são puramente pacíficos.
Mesmo o valor da imagem projetada pelo primeiro presidente negro americano, que fez o comitê que concede o Nobel afirmar que "raramente uma pessoa capturou a atenção do mundo e deu à sua população esperança de um futuro melhor na mesma proporção que Obama", começa a se dissipar em partes do mundo, descontentes com algumas de suas políticas.
Obama conduz um governo repleto de boas intenções. Mas fato é que, até por estar há só nove meses no cargo, elas ainda são apenas isso: intenções. Que podem até encher o inferno, mas não bastam para justificar um Prêmio Nobel da Paz.
Para o bem do mundo, seria até bom que, ao fim do seu mandato, o presidente dos EUA fizesse jus ao galardão que lhe foi dado ontem. Mas, por ora, ele é precoce e não tem, por si, o condão de transformar as boas intenções em realidade.
Por enquanto, o Nobel só contribui para um endeusamento de Obama que não lhe é nada benéfico -o homem, por melhor que seja, nunca estará à altura do mito.


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