São Paulo, sábado, 10 de outubro de 2009

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Prêmio surpreende Obama e opositores

Presidente, que foi acordado com notícia vinda da Noruega, afirma que aceita Nobel da Paz como "um chamado à ação"

Líder do Partido Republicano critica escolha, dizendo que "poder de celebridade" ofuscou reais defensores da paz e dos direitos humanos


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Barack Obama soube que havia sido premiado com o Nobel da Paz às 6h de Washington (7h de Brasília). Foi acordado por seu porta-voz, Robert Gibbs, que soubera antes pelo plantonista da Sala da Situação, centro nervoso de controle permanente da Casa Branca, que ouviu a notícia de Oslo às 3h. Segundo Gibbs, o presidente pareceu genuinamente surpreso com a escolha, e ninguém no governo nem sequer sabia que ele havia sido indicado.
Washington também se surpreendeu. Nas horas seguintes, e ao longo do dia inteiro de ontem, as reações na capital americana traduziam o sentimento dominante no país hoje, de profunda divisão política, em que os críticos do democrata estão mais críticos, seus apoiadores mais tensos, e os independentes, oscilando entre uma onda e outra. A primeira reação da oposição republicana veio do presidente do partido, Michael Steele, em e-mail distribuído logo cedo.
"Você está brincando comigo? Obama ganhou o Prêmio Nobel?" era o título do correio eletrônico. "A verdadeira questão que os americanos estão se fazendo é: "O que o presidente Obama conseguiu de verdade?". É uma pena que o poder de celebridade dele tenha ofuscado defensores incansáveis que tiveram conquistas reais em questões de paz e de direitos humanos", disse Steele.
"Uma coisa é certa: o presidente não vai receber nenhum prêmio dos americanos por criação de emprego, responsabilidade fiscal ou por amparar retórica com ação concreta."
Mais tarde, as palavras duras do político seriam refutadas por alguns de seus companheiros de partido, como John McCain, que disputou a Presidência com Obama em 2008. Depois de dizer que achava que parte da decisão do comitê premiador era baseada em expectativas, o senador republicano parabenizou seu ex-oponente: "Como americanos, nós ficamos orgulhosos quando nosso presidente recebe um prêmio em categoria tão prestigiosa".
O próprio Obama procurou capitalizar domesticamente. No pronunciamento que fez pela manhã, disse que, mais do que um prêmio, o Nobel era um "chamado à ação", referindo-se à paralisia que toma a agenda política do país em questões importantes como as reformas do sistema de saúde pública, da matriz energética e das leis de meio ambiente e do controle do sistema financeiro.
"Para ser honesto, eu não acho que eu mereça estar em companhia de tantas figuras transformadoras que foram honradas com esse prêmio, homens e mulheres que nos inspiraram e ao mundo inteiro por sua corajosa busca pela paz", disse ele. "Mas eu também sei que esse prêmio reflete o tipo de mundo que esses homens e mulheres e todos os americanos querem construir, que dê vida à promessa de nossos documentos fundadores."
"E eu sei que, ao longo da história, o Prêmio Nobel da Paz não foi usado para honrar apenas uma conquista específica; tem sido usado também como meio para dar destaque a um conjunto de causas", continuou. "E eu vou aceitar esse prêmio como um chamado à ação, um chamado a todas as nações que enfrentam os desafios em comum do século 21."
Obama é o terceiro presidente americano a ser agraciado com o prêmio no cargo, já que o democrata Jimmy Carter (1977-1981) só recebeu o seu 21 anos após deixar a Casa Branca. O republicano Teddy Roosevelt (1901-1909) foi premiado em 1906, depois de ter patrocinado o Tratado de Portsmouth, no ano anterior, que encerrou a Guerra Russo-Japonesa.
Já o democrata Woodrow Wilson (1913-1921) foi premiado em 1919, por conta de sua atuação na assinatura do Tratado de Versalhes, que encerraria a Primeira Guerra Mundial.
Mas Obama é o primeiro a aceitá-lo tendo duas guerras em curso, ambas provocadas por invasões americanas na gestão de seu antecessor, George W. Bush. Ontem, as palavras "Iraque" e "Afeganistão" não constavam de seu discurso de 864 palavras, que privilegiou seu esforço antiproliferação nuclear e a busca da paz entre israelenses e palestinos.

Leia a íntegra traduzida do discurso de Obama sobre o prêmio

www.folha.com.br/092823


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