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Prêmio surpreende Obama e opositores
Presidente, que foi acordado com notícia vinda da Noruega, afirma que aceita Nobel da Paz como "um chamado à ação"
Líder do Partido Republicano
critica escolha, dizendo
que "poder de celebridade" ofuscou reais defensores da paz e dos direitos humanos
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Barack Obama soube que havia sido premiado com o Nobel
da Paz às 6h de Washington (7h
de Brasília). Foi acordado por
seu porta-voz, Robert Gibbs,
que soubera antes pelo plantonista da Sala da Situação, centro nervoso de controle permanente da Casa Branca, que ouviu a notícia de Oslo às 3h. Segundo Gibbs, o presidente pareceu genuinamente surpreso
com a escolha, e ninguém no
governo nem sequer sabia que
ele havia sido indicado.
Washington também se surpreendeu. Nas horas seguintes,
e ao longo do dia inteiro de ontem, as reações na capital americana traduziam o sentimento
dominante no país hoje, de profunda divisão política, em que
os críticos do democrata estão
mais críticos, seus apoiadores
mais tensos, e os independentes, oscilando entre uma onda e
outra. A primeira reação da
oposição republicana veio do
presidente do partido, Michael
Steele, em e-mail distribuído
logo cedo.
"Você está brincando comigo? Obama ganhou o Prêmio
Nobel?" era o título do correio
eletrônico. "A verdadeira questão que os americanos estão se
fazendo é: "O que o presidente
Obama conseguiu de verdade?".
É uma pena que o poder de celebridade dele tenha ofuscado
defensores incansáveis que tiveram conquistas reais em
questões de paz e de direitos
humanos", disse Steele.
"Uma
coisa é certa: o presidente não
vai receber nenhum prêmio
dos americanos por criação de
emprego, responsabilidade fiscal ou por amparar retórica
com ação concreta."
Mais tarde, as palavras duras
do político seriam refutadas
por alguns de seus companheiros de partido, como John
McCain, que disputou a Presidência com Obama em 2008.
Depois de dizer que achava que
parte da decisão do comitê premiador era baseada em expectativas, o senador republicano
parabenizou seu ex-oponente:
"Como americanos, nós ficamos orgulhosos quando nosso
presidente recebe um prêmio
em categoria tão prestigiosa".
O próprio Obama procurou
capitalizar domesticamente.
No pronunciamento que fez
pela manhã, disse que, mais do
que um prêmio, o Nobel era um
"chamado à ação", referindo-se
à paralisia que toma a agenda
política do país em questões
importantes como as reformas
do sistema de saúde pública, da
matriz energética e das leis de
meio ambiente e do controle do
sistema financeiro.
"Para ser honesto, eu não
acho que eu mereça estar em
companhia de tantas figuras
transformadoras que foram
honradas com esse prêmio, homens e mulheres que nos inspiraram e ao mundo inteiro por
sua corajosa busca pela paz",
disse ele. "Mas eu também sei
que esse prêmio reflete o tipo
de mundo que esses homens e
mulheres e todos os americanos querem construir, que dê
vida à promessa de nossos documentos fundadores."
"E eu sei que, ao longo da história, o Prêmio Nobel da Paz
não foi usado para honrar apenas uma conquista específica;
tem sido usado também como
meio para dar destaque a um
conjunto de causas", continuou. "E eu vou aceitar esse
prêmio como um chamado à
ação, um chamado a todas as
nações que enfrentam os desafios em comum do século 21."
Obama é o terceiro presidente americano a ser agraciado
com o prêmio no cargo, já que o
democrata Jimmy Carter
(1977-1981) só recebeu o seu 21
anos após deixar a Casa Branca.
O republicano Teddy Roosevelt (1901-1909) foi premiado
em 1906, depois de ter patrocinado o Tratado de Portsmouth,
no ano anterior, que encerrou a
Guerra Russo-Japonesa.
Já o
democrata Woodrow Wilson
(1913-1921) foi premiado em
1919, por conta de sua atuação
na assinatura do Tratado de
Versalhes, que encerraria a Primeira Guerra Mundial.
Mas Obama é o primeiro a
aceitá-lo tendo duas guerras
em curso, ambas provocadas
por invasões americanas na
gestão de seu antecessor, George W. Bush. Ontem, as palavras
"Iraque" e "Afeganistão" não
constavam de seu discurso de
864 palavras, que privilegiou
seu esforço antiproliferação
nuclear e a busca da paz entre
israelenses e palestinos.
Leia a íntegra traduzida do
discurso de Obama sobre o
prêmio
www.folha.com.br/092823
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