São Paulo, domingo, 10 de novembro de 2002

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IRAQUE NA MIRA

Para chanceler iraquiano, ao aprovar resolução, comunidade internacional derrotou planos belicistas de Bush

Bagdá afirma que ONU "derrotou" EUA

Gabriel Bouys/France Presse
CONTRA Manifestantes protestam em Florença (Itália) contra uma guerra no Iraque; cerca de 300 mil pessoas participaram do ato, ocorrido durante encontro antiglobalização do Fórum Social Europeu


DA REDAÇÃO

O Iraque tentou minimizar ontem a vitória de Washington na adoção anteontem de uma resolução pelo Conselho de Segurança da ONU que dá a Bagdá a "oportunidade final" de se desarmar ou enfrentar "sérias consequências", dizendo que a comunidade internacional havia derrotado os planos de guerra dos EUA.
Segundo a agência de notícias oficial iraquiana, a INA, o Iraque deve divulgar nos próximos dias uma decisão a respeito da resolução -que exige uma resposta do país até a próxima sexta-feira.
A bravata iraquiana de que derrotou os EUA foi vista por analistas como uma possível forma de Saddam aceitar os inspetores sem admitir que foi impelido a isso.
Em seu pronunciamento semanal radiofônico, Bush disse ontem que Bagdá "deve, sem atraso ou negociação, abrir mão de suas armas de destruição em massa". "O Iraque pode estar certo de que o velho jogo de mentir e sumir, tolerado em outras épocas, não será mais admitido", disse Bush.
A resolução foi aprovada depois que a França convenceu Washington a retirar uma cláusula que permitia que os EUA usassem a força unilateralmente. Aludindo a esse fato, o chanceler do Iraque, Naji Sabri, afirmou que as tentativas dos EUA de usar a resolução como "fachada" para um ataque ao Iraque haviam fracassado.
"O uso pelos EUA do Conselho de Segurança como uma fachada para a agressão contra o Iraque foi impedido pela comunidade internacional, que não compartilha o apetite do malévolo governo em Washington por agressão, assassinato e destruição", disse Sabri.
"O Iraque estudará a resolução e então adotará a posição apropriada sobre ela", afirmou.
Todos os 15 membros do Conselho de Segurança aprovaram a resolução.
"Apesar de a resolução ser ruim e injusta, os líderes do Iraque estão estudando-na calmamente e tomarão a decisão necessária nos próximos dias", disse a INA.
De acordo com a resolução, inspetores de armas terão acesso "imediato, incondicional e irrestrito" a quaisquer locais que desejarem, incluindo os palácios do ditador Saddam Hussein.
O jornal iraquiano "Babel", de Uday Hussein, filho de Saddam, afirmou que o ditador não dará aos EUA um pretexto para a guerra: "O Iraque não tem nada a esconder, e os inspetores de armas da ONU são bem-vindos". Bagdá expulsou os inspetores em 1998, acusando-os de serem "espiões".
O secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, pediu a Maher e a autoridades de outros países árabes que convencessem o Iraque de que a resolução é sua oportunidade final para evitar a guerra.
Em uma entrevista à TV árabe Al Jazeera, Powell voltou a sugerir que o governo de Saddam poderia sobreviver -em mais um indício do distanciamento de Washington de sua posição anterior de que era necessário promover uma "mudança de regime": "Se o regime iraquiano se livrar de suas armas de destruição em massa e cooperar, isso será considerado uma mudança total no regime".

Com agências internacionais


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