São Paulo, quinta-feira, 10 de novembro de 2005

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FUTEBOL

Thuram, um dos craques da geração que fez a França campeã mundial, lidera o apoio de atletas à revolta social

Seleção francesa critica ação do governo

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

A revolta social na França ganhou apoio em campo. Um dos craques da geração responsável pela ""revolução francesa" no futebol e outros jogadores criticaram o governo do país pelo tratamento dado às pessoas dos subúrbios.
Lilian Thuram, campeão da Copa-1998 e da Eurocopa-2000, ""tomou as dores" dos suburbanos após declarações do ministro do Interior francês, Nicolas Sarkozy.
""Eu também cresci em subúrbio e senti de perto o que esses jovens sentem. Quando alguém diz que é preciso limpar [as cidades] com Karcher [marca de jato de água]... Talvez Sarkozy não saiba o que está dizendo. Eu tomo isso como algo pessoal", afirmou Thuram na Martinica, onde sua seleção venceu ontem por 3 a 2 a Costa Rica em amistoso.
Thuram, 33, é visto como a primeira personalidade a retrucar à altura Sarkozy. ""Também me disseram "você é escória". Mas eu não sou gentalha. O que eu queria era trabalhar. Talvez, ele [Sarkozy] não tenha captado essa sutileza."
O jogador já encampou outras vezes posições políticas, como no referendo sobre a constituição européia. ""Essa situação me deixa doente. Ninguém olha para problemas reais. O ponto mais tratado é a insegurança, mas ninguém fala da melhor maneira de dar emprego às pessoas. Tentam convencer a todos de que essas pessoas [jovens que protestam] não são nada mais que revoltosos."
Florent Malouda, meio-campista do Lyon, diz que a situação de revolta popular era inevitável. ""Pessoas nos subúrbios estão desesperadas. Caminhava para isso", falou ele, que veio da Guiana.
Eric Abidal, seu companheiro de time que cresceu em La Duchere, subúrbio de Lyon, concorda.
""Chegamos ao limite. A situação é tudo menos nova, e a solução ainda está para ser achada. Quando estava lá [La Duchere], havia um supermercado, mas eles se recusavam a contratar pessoas da vizinhança. Entendo que as pessoas se cansem de tais coisas."
Abidal, assim como Henry e Anelka, têm raízes na Martinica.
Thuram vem criticando bastante Dominique de Villepin, primeiro-ministro francês. Outros membros da vitoriosa geração que derrubou o Brasil na final da Copa-1998 o acompanham em críticas ao governo, em especial quando o tema é o racismo.
A seleção que levou o país ao topo era formada em sua maioria por jogadores oriundos de possessões e ex-colônias francesas -13 dos 22 atletas. Karembeu nasceu na Nova Caledônia. Diomede e Thuram (Guadalupe), Lama (Guiana Francesa), Vieira (Senegal) e Desailly (Gana) também ajudaram a formar a mais negra e estrangeira seleção francesa, acusada por Jean-Marie Le Pen, líder da extrema direita francesa, de ""não saber cantar o hino".
Até o ídolo maior Zidane tem ascendência estrangeira -é filho de argelinos. Djorkaeff e Boghossian vêm de famílias armênias, e Trezeguet é filho de argentino. Algumas estrelas mais antigas também têm origem estrangeira. Fontaine, artilheiro da Copa-58, veio do Marrocos. Kopa tinha ascendência polonesa. Trésor veio da Guiana Francesa. E até Platini é neto de imigrantes italianos.
Nos últimos dez anos, duplicou o número de estrangeiros na primeira divisão na França. O país com mais atletas é o Brasil (27), mas a maioria dos ""forasteiros" é africana -dos 209 estrangeiros em agosto, 115 eram da África.
Jean-Pierre Escalettes, presidente da Federação Francesa de Futebol, disse que o amistoso de sábado entre França e Alemanha será afetado se houver toque de recolher no dia. "Seria duro, mas antes de tudo somos cidadãos."


Com agências internacionais

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