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FUTEBOL
Thuram, um dos craques da geração que fez a França campeã mundial, lidera o apoio de atletas à revolta social
Seleção francesa critica ação do governo
RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL
A revolta social na França ganhou apoio em campo. Um dos
craques da geração responsável
pela ""revolução francesa" no futebol e outros jogadores criticaram
o governo do país pelo tratamento dado às pessoas dos subúrbios.
Lilian Thuram, campeão da Copa-1998 e da Eurocopa-2000, ""tomou as dores" dos suburbanos
após declarações do ministro do
Interior francês, Nicolas Sarkozy.
""Eu também cresci em subúrbio
e senti de perto o que esses jovens
sentem. Quando alguém diz que é
preciso limpar [as cidades] com
Karcher [marca de jato de água]...
Talvez Sarkozy não saiba o que está dizendo. Eu tomo isso como algo pessoal", afirmou Thuram na
Martinica, onde sua seleção venceu ontem por 3 a 2 a Costa Rica
em amistoso.
Thuram, 33, é visto como a primeira personalidade a retrucar à
altura Sarkozy. ""Também me disseram "você é escória". Mas eu não
sou gentalha. O que eu queria era
trabalhar. Talvez, ele [Sarkozy]
não tenha captado essa sutileza."
O jogador já encampou outras
vezes posições políticas, como no
referendo sobre a constituição européia. ""Essa situação me deixa
doente. Ninguém olha para problemas reais. O ponto mais tratado é a insegurança, mas ninguém
fala da melhor maneira de dar
emprego às pessoas. Tentam convencer a todos de que essas pessoas [jovens que protestam] não
são nada mais que revoltosos."
Florent Malouda, meio-campista do Lyon, diz que a situação de
revolta popular era inevitável.
""Pessoas nos subúrbios estão desesperadas. Caminhava para isso", falou ele, que veio da Guiana.
Eric Abidal, seu companheiro
de time que cresceu em La Duchere, subúrbio de Lyon, concorda.
""Chegamos ao limite. A situação é tudo menos nova, e a solução ainda está para ser achada.
Quando estava lá [La Duchere],
havia um supermercado, mas eles
se recusavam a contratar pessoas
da vizinhança. Entendo que as
pessoas se cansem de tais coisas."
Abidal, assim como Henry e
Anelka, têm raízes na Martinica.
Thuram vem criticando bastante Dominique de Villepin, primeiro-ministro francês. Outros
membros da vitoriosa geração
que derrubou o Brasil na final da
Copa-1998 o acompanham em
críticas ao governo, em especial
quando o tema é o racismo.
A seleção que levou o país ao topo era formada em sua maioria
por jogadores oriundos de possessões e ex-colônias francesas
-13 dos 22 atletas. Karembeu
nasceu na Nova Caledônia. Diomede e Thuram (Guadalupe), Lama (Guiana Francesa), Vieira (Senegal) e Desailly (Gana) também
ajudaram a formar a mais negra e
estrangeira seleção francesa, acusada por Jean-Marie Le Pen, líder
da extrema direita francesa, de
""não saber cantar o hino".
Até o ídolo maior Zidane tem
ascendência estrangeira -é filho
de argelinos. Djorkaeff e Boghossian vêm de famílias armênias, e
Trezeguet é filho de argentino. Algumas estrelas mais antigas também têm origem estrangeira.
Fontaine, artilheiro da Copa-58,
veio do Marrocos. Kopa tinha ascendência polonesa. Trésor veio
da Guiana Francesa. E até Platini é
neto de imigrantes italianos.
Nos últimos dez anos, duplicou
o número de estrangeiros na primeira divisão na França. O país
com mais atletas é o Brasil (27),
mas a maioria dos ""forasteiros" é
africana -dos 209 estrangeiros
em agosto, 115 eram da África.
Jean-Pierre Escalettes, presidente da Federação Francesa de
Futebol, disse que o amistoso de
sábado entre França e Alemanha
será afetado se houver toque de
recolher no dia. "Seria duro, mas
antes de tudo somos cidadãos."
Com agências internacionais
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