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ELEIÇÕES NOS EUA
Bush acena com mudanças no Iraque
Após encontro com oposição, presidente diz estar aberto a sugestões que "garantam sucesso" do governo iraquiano
Casa Branca se volta para velha guarda republicana, que defende negociações com Irã e Síria e plano para retirada gradual do Iraque
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
O presidente George W.
Bush se disse ontem disposto a
ouvir sugestões da oposição democrata, vitoriosa na eleição
legislativa de terça-feira, para
mudar a política da Casa Branca em relação ao Iraque. Na entrevista que deu à saída do almoço que teve na Casa Branca
com a democrata Nancy Pelosi,
a provável nova líder do Congresso e seu pesadelo pelos próximos dois anos, Bush disse:
"Estou aberto a qualquer idéia
ou sugestão que nos ajude a
atingir a meta de derrotar os
terroristas e garantir que o governo democrático do Iraque
seja bem-sucedido".
É uma virada de 180 graus
para quem dizia, em comícios
realizados poucos dias antes,
que votar nos democratas era o
mesmo que entregar o poder
aos terroristas. Mas George W.
Bush soube ouvir o recado das
urnas. Não é "a economia, idiota!", mantra inventado pelo estrategista James Carville para a
campanha de Bill Clinton nos
anos 90: agora, "é a Guerra do
Iraque!".
Gates e Baker
O primeiro passo foi trocar o
comando do Departamento da
Defesa, do falcão Donald
Rumsfeld para o mais pragmático ex-diretor da CIA Robert
Gates, já na quarta-feira.
Rumsfeld admitiu pela primeira vez em entrevista ontem que
a condução da guerra até agora
não está indo "bem o suficiente
ou rápida o suficiente".
O segundo passo será ouvir o
que diz a comissão bipartidária
Iraq Study Group (grupo de estudos do Iraque), comandada
pelo ex-secretário de Estado
republicano James A. Baker e o
ex-congressista democrata Lee
Hamilton. O presidente Bush
tem um encontro marcado com
os dois no começo da próxima
semana.
As conclusões da comissão só
virão a público no começo de
dezembro, mas alguns detalhes
vazados para a imprensa dão
conta de que a recomendação
principal é a mudança da "Win
Strategy" para a "Exit Strategy"
(estratégia de vitória para estratégia de retirada). Outro
ponto importante seria a mudança de foco, de tentar redemocratizar o país para tentar
garantir a segurança.
A recém-adquirida importância do grupo de estudos, formado por experts em política
externa, indica duas mudanças
importantes na estratégia de
Bush. A primeira é que os falcões foram mandados provisoriamente para as gaiolas -com
a saída de Rumsfeld, o vice-presidente Dick Cheney está cada
vez mais isolado na Casa Branca, se tornando o verdadeiro
"pato manco"da história, o político sem poderes.
A segunda é uma reaproximação entre Bush pai e filho,
distanciamento que começou
após o ataque de 11 de Setembro e foi consolidado com a decisão do primeiro de ir sozinho
à Guerra do Iraque, ação que o
segundo condenava. Não só James Baker foi secretário de Estado do pai como Robert Gates
foi seu diretor da CIA e protegido. Gates, aliás, também faz
parte do grupo de estudos sobre o Iraque.
Divisão do território
Há quem especule ainda que
o grupo defenderá uma divisão
do Iraque em três subterritórios, como escreveu Peter W.
Galbraith na edição mais recente da revista "Time". O mais
provável, porém, é que recomende a passagem gradual,
mas firme, do poder para as
mãos dos iraquianos e a adoção
de um cronograma para a retirada das tropas.
Que é exatamente o que querem os democratas, segundo
declarações dadas desde que a
vitória foi confirmada. O representante Ike Skelton (Montana), que deve assumir o Comitê
de Forças Armadas da Câmara,
mandou uma carta no ano passado a Bush em que pedia a remoção de uma brigada (3.500
soldados) norte-americana para cada três brigadas iraquianas
que fossem consideradas preparadas para atuar. "Precisamos de novas direções", disse
ele, ecoando discurso do presidente republicano.
Nem tudo será tão fácil assim. Vários democratas têm visões diferentes sobre o que fazer no país. E o próprio presidente não será convencido tão
fácil. "Os democratas podem
pressionar o presidente retoricamente, mas não de uma maneira que ele pareça derrotado
aos olhos da opinião pública",
disse Michael O'Hanlon, do
Instituto Brookings.
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