São Paulo, sexta-feira, 10 de novembro de 2006

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ELEIÇÕES NOS EUA

Bush acena com mudanças no Iraque

Após encontro com oposição, presidente diz estar aberto a sugestões que "garantam sucesso" do governo iraquiano

Casa Branca se volta para velha guarda republicana, que defende negociações com Irã e Síria e plano para retirada gradual do Iraque

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

O presidente George W. Bush se disse ontem disposto a ouvir sugestões da oposição democrata, vitoriosa na eleição legislativa de terça-feira, para mudar a política da Casa Branca em relação ao Iraque. Na entrevista que deu à saída do almoço que teve na Casa Branca com a democrata Nancy Pelosi, a provável nova líder do Congresso e seu pesadelo pelos próximos dois anos, Bush disse: "Estou aberto a qualquer idéia ou sugestão que nos ajude a atingir a meta de derrotar os terroristas e garantir que o governo democrático do Iraque seja bem-sucedido".
É uma virada de 180 graus para quem dizia, em comícios realizados poucos dias antes, que votar nos democratas era o mesmo que entregar o poder aos terroristas. Mas George W. Bush soube ouvir o recado das urnas. Não é "a economia, idiota!", mantra inventado pelo estrategista James Carville para a campanha de Bill Clinton nos anos 90: agora, "é a Guerra do Iraque!".

Gates e Baker
O primeiro passo foi trocar o comando do Departamento da Defesa, do falcão Donald Rumsfeld para o mais pragmático ex-diretor da CIA Robert Gates, já na quarta-feira. Rumsfeld admitiu pela primeira vez em entrevista ontem que a condução da guerra até agora não está indo "bem o suficiente ou rápida o suficiente".
O segundo passo será ouvir o que diz a comissão bipartidária Iraq Study Group (grupo de estudos do Iraque), comandada pelo ex-secretário de Estado republicano James A. Baker e o ex-congressista democrata Lee Hamilton. O presidente Bush tem um encontro marcado com os dois no começo da próxima semana.
As conclusões da comissão só virão a público no começo de dezembro, mas alguns detalhes vazados para a imprensa dão conta de que a recomendação principal é a mudança da "Win Strategy" para a "Exit Strategy" (estratégia de vitória para estratégia de retirada). Outro ponto importante seria a mudança de foco, de tentar redemocratizar o país para tentar garantir a segurança.
A recém-adquirida importância do grupo de estudos, formado por experts em política externa, indica duas mudanças importantes na estratégia de Bush. A primeira é que os falcões foram mandados provisoriamente para as gaiolas -com a saída de Rumsfeld, o vice-presidente Dick Cheney está cada vez mais isolado na Casa Branca, se tornando o verdadeiro "pato manco"da história, o político sem poderes.
A segunda é uma reaproximação entre Bush pai e filho, distanciamento que começou após o ataque de 11 de Setembro e foi consolidado com a decisão do primeiro de ir sozinho à Guerra do Iraque, ação que o segundo condenava. Não só James Baker foi secretário de Estado do pai como Robert Gates foi seu diretor da CIA e protegido. Gates, aliás, também faz parte do grupo de estudos sobre o Iraque.

Divisão do território
Há quem especule ainda que o grupo defenderá uma divisão do Iraque em três subterritórios, como escreveu Peter W. Galbraith na edição mais recente da revista "Time". O mais provável, porém, é que recomende a passagem gradual, mas firme, do poder para as mãos dos iraquianos e a adoção de um cronograma para a retirada das tropas.
Que é exatamente o que querem os democratas, segundo declarações dadas desde que a vitória foi confirmada. O representante Ike Skelton (Montana), que deve assumir o Comitê de Forças Armadas da Câmara, mandou uma carta no ano passado a Bush em que pedia a remoção de uma brigada (3.500 soldados) norte-americana para cada três brigadas iraquianas que fossem consideradas preparadas para atuar. "Precisamos de novas direções", disse ele, ecoando discurso do presidente republicano.
Nem tudo será tão fácil assim. Vários democratas têm visões diferentes sobre o que fazer no país. E o próprio presidente não será convencido tão fácil. "Os democratas podem pressionar o presidente retoricamente, mas não de uma maneira que ele pareça derrotado aos olhos da opinião pública", disse Michael O'Hanlon, do Instituto Brookings.


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