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ARTIGO
Cuba na pauta do novo presidente
NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
EM ARTIGO no "Washington Post", ainda na campanha eleitoral, Jorge
Mas Santos deu apoio a Barack
Obama, depois de recebê-lo calorosamente na Cuban American National Foundation, em
Miami. A maioria dos hispânicos da Flórida acompanhou-o
nas urnas em seu voto no candidato democrata.
O gesto de Santos seria impensável até há pouco tempo.
Ele herdou do pai, Jorge Mas
Canosa, morto em 1997, a presidência da entidade. Embora
tenha o selo de não partidária,
ela sempre funcionou como um
"grupo de pressão" anti-regime
cubano vinculado estreitamente aos republicanos mais à direita.
Um de seus inspiradores foi
Richard Allen, assessor de segurança nacional do governo de
Ronald Reagan (1981-1989).
Com posições de truculência e
intolerância, como se fosse herdeiro dos que tentaram invadir
Cuba em 1961, o grupo de Canosa conseguiu inclusive impor-se como um dos formuladores "de fato", por baixo do
pano, da agenda cubana do Departamento de Estado norte-americano. O objetivo maior foi
sempre manter intacto o embargo econômico já velho de 46
anos, e, com isso derrubar o regime castrista em Cuba -o que
nunca aconteceu. Há inclusive
registros mais ou menos recentes de manifestações de mãos
duras.
Já com o filho de Canosa no
comando, a fundação perfilou-se com Bush, em 2004, na imposição de restrições a viagens
de familiares a Cuba e remessas
de dinheiro, golpe que estrangulou orçamentos domésticos
na ilha.
A guinada conduzida por
Santos, em oposição à velha-guarda antes liderada por seu
pai, provocou um racha. Ela pode ser produto de mero oportunismo. Tem vigor, no entanto,
porque se apóia em novas realidades. "São uns dinossauros",
foi uma das expressões colhidas numa comunidade, a cubano-americana, que muda de
perfil, em dissonância com
aqueles que tinham como prioridade absoluta a liquidação do
castrismo.
Entre 1991 e hoje, aumentou
de 40% para 65%, a parcela favorável a que os EUA iniciem
um diálogo com o regime cubano, segundo a Universidade Internacional da Flórida. Supõe-se que o percentual favorável a
uma "acomodação" continue
aumentando. Acabar com o regime comunista ficou em sexto
lugar entre as preocupações colhidas por pesquisadores democratas num distrito de Miami repleto de cubanos.
Sair do Iraque ocupou um
nada honroso primeiro lugar.
Os cubano-americanos estão
hoje mais preocupados com
questões internas, como aumento do desemprego, colapso
das hipotecas, cobertura médica etc. Essa mudança de perfil
provocará revisões na agenda
cubana do Departamento de
Estado? Ou iremos presenciar
pura mudança de estilo?
Obama disse que abolirá algumas das medidas mais draconianas aplicadas por Bush. Seriam liberadas as viagens de familiares a Cuba e as remessas
de dinheiro. De acordo com registros da "Latin News", o presidente eleito dos Estados Unidos prometeu inclusive engajar-se em "diplomacia direta"
com Cuba e até "potencialmente" encontrar-se com Raúl Castro, o que seria, segundo a publicação londrina, uma virada
"sísmica".
Mas as precondições são tais
que inviabilizam essa possibilidade. A União Européia acaba
de reativar seu diálogo político
com Cuba, e talvez Obama se
alinhe por aí. Não há perspectiva, no entanto, de desmontagem, pelo menos de imediato,
do embargo econômico.
Em Cuba, a oposição interna,
liderada por Oswaldo Payá, ganhador de prêmio do Parlamento Europeu, movimenta-se
para reativar o Projeto Varela.
Segue ao pé da letra a lei cubana
que exige 10 mil assinaturas para petições de referendos à Assembléia Nacional do Poder
Popular. O projeto coloca sob
referendo a permanência do
próprio regime comunista,
com a alegação de "imobilismo" por parte dos Castro. A última iniciativa do gênero, com
25 mil assinaturas, resultou na
prisão de 75 dissidentes, inclusive Payá.
O jornalista NEWTON CARLOS é especialista
em assuntos internacionais
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