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QUEDA DO MURO: 20 ANOS DEPOIS
Líderes festejam em Berlim fim de divisões
Representantes de países que racharam cidade alemã durante a Guerra Fria celebram aniversário da queda do muro
Na plateia, Gorbatchev se confessa um "mau adivinho" e diz que ele e alemão Kohl pensavam que reunificação ficaria só para o século 21
Johannes Eisele/Reuters
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Peças gigantes de dominó caem em sequência refazendo o antigo traçado do Muro de Berlim, em celebração aos 20 anos da queda
LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM
A chuva fina a 5C não esfriou a multidão em Berlim na
noite de ontem. Tampouco a
chanceler (premiê) Angela
Merkel, que se emocionou ao
receber no simbólico portão de
Brandemburgo representantes
dos países envolvidos nas mudanças que culminariam, em 9
de novembro de 1989, na queda
do "muro da vergonha".
Líderes das potências que dividiram a Alemanha após derrotá-la na Segunda Guerra -o
francês Nicolas Sarkozy, o russo Dmitri Medvedev, o britânico Gordon Brown e a americana Hillary Clinton (em nome
de Barack Obama)- relembraram os fatos que sacudiram a
Europa em 1989 e catalisaram o
fim da Guerra Fria, inaugurando uma era multipolar.
Mas o tom dos discursos ainda trouxe um quê de bipolaridade. Enquanto Brown citava
"a tirania que aprisionou metade de um país e do mundo",
Medvedev afirmava que foi a
União Soviética que abriu caminho para a mudança e que
seu povo, com os alemães
orientais, "uniu o mundo".
Hillary preferiu lembrar as
barreiras por superar, mas sem
apontar dedos. "Há milhões no
mundo separados, talvez não
por muros e arame, embora estes existam, mas separados dos
entes queridos, deixados para
trás, trancados por grades."
Obama, em mensagem gravada, parabenizou os alemães e
disse que "poucos poderiam
imaginar uma Alemanha reunificada liderada por uma mulher de Brandemburgo [no Leste] ou seus aliados americanos
liderados por um afrodescendente". "Mas o destino da humanidade é o que os seres humanos fazem dele", completou.
Mau adivinho
Na plateia, após fazerem uma
caminhada apoteótica com
Merkel, duas figuras sem as
quais a história seria diferente:
o russo Mikhail Gorbatchev e o
polonês Lech Walesa.
Foram os mais aplaudidos
pela multidão, que munida de
guarda-chuvas, bratwurst e
cerveja aguentou frio e chuva
vidrada no telão. Com a segurança reforçadíssima, chegar
ao portão foi feito para poucos.
Mais cedo, o líder da finada
União Soviética dissera que
nem ele nem o chanceler alemão Helmut Kohl (1982-1998)
conseguiram prever a rapidez
das mudanças. "Como adivinhos, falhamos. Na primavera
de 1989, indagados sobre a reunificação alemã, ambos dissemos que era algo para o século
21", disse Gorbatchev.
Kohl, no ostracismo desde
que veio à tona seu envolvimento em um escândalo de
corrupção, não compareceu.
Antes de os fogos de artifício
clarearem ainda mais o já iluminado céu de Berlim, Walesa
derrubou a primeira de uma série de mil peças de dominó gigantes, decoradas por artistas
plásticos do mundo inteiro e
enfileiradas onde o muro ficava, no trecho do portão à hoje
modernosa Potsdamer Platz.
Era o clímax de um dia em
que a cidade pareceu entrar em
ebulição, com ruas lotadas e
trânsito anormalmente parado, ainda que boa parte dos que
acompanhassem a festa fossem
turistas do país e de fora.
"Está caótico, nunca vi tanta
gente indo de lá para cá", disse a
taxista Katherine, exausta, ao
ouvir que a reportagem passara
o dia perambulando entre Leste e Oeste. "Ou melhor, vi sim.
Há exatos 20 anos."
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