São Paulo, quarta-feira, 10 de novembro de 2010

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Cuba vai aposentar "libreta", símbolo maior do regime

Fim da caderneta com cota de alimentos subsidiados será tema de encontro do Partido Comunista em 2011

Outras mudanças que serão discutidas são respeito a contratos e liberação do mercado imobiliário no país

FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS

O governo de Cuba prevê eliminar a "libreta de racionamento", a cota de alimentos hipersubsidiados símbolo do igualitarismo da revolução e descongelar o mercado imobiliário da ilha, partes do programa de reformas para reativar a economia.
As medidas fazem parte do documento Projeto de Diretrizes da Política Econômica e Social, divulgado ontem.
O ditador Raúl Castro disse anteontem que o texto devenortear o debate do esperado 6º Congresso do Partido Comunista de Cuba, a ser realizado em abril de 2011.
Pela Constituição cubana, o PC é "a força dirigente da sociedade e do Estado", daí a importância do encontro, que não acontece desde 1997.
Raúl insistiu, porém, que o congresso se "concentrará" nas reformas econômicas. Frisou que as diretrizes foram entregues a Fidel Castro.
Fora do poder formalmente desde 2006, o ex-ditador mantém o cargo de primeiro-secretário do partido.
Uma cópia do documento também foi entregue ao presidente venezuelano, Hugo Chávez. Ontem, ele renovou o convênio que prevê a venda de combustível barato à ilha por dez anos.

FIM DA "LIBRETA"
O documento de 298 pontos torna oficial a proposta de eliminar a "libreta", sugerida algumas vezes por Raúl como modo de reduzir o "excesso de subsídios" estatais.
Formalmente, o texto está aberto a discussão pública até março. O endosso da cúpula do partido e a anuência do próprio Fidel, porém, permitem dizer que a "libreta" está com os dias contados.
O texto afirma que o fim da cota de alimentos por família "será ordenado", mas não antecipa cronograma.
A "libreta" foi criada em 1963 para garantir subsistência básica aos cubanos em meio às sanções econômicas impostas pelos EUA.
"É certo que ninguém sobrevive só com a "libreta". Mas também é certo que muita gente terá dificuldade de sobreviver sem ela", diz Reinaldo Escobar, jornalista e blogueiro crítico do regime.
O texto também menciona pela primeira vez o descongelamento do mercado imobiliário. Há décadas, é proibido dispor dos imóveis, e os contratos de compra e aluguel são clandestinos.
Escobar e sua mulher, a blogueira Yoani Sánchez, alertam para a proposta de criar um mercado atacadista e uma linha de crédito para trabalhadores autônomos.
Havana quer que a nova atividade econômica ajude a absorver até 500 mil funcionários públicos "excedente" que devem ser demitidos nos próximos meses.
O texto fala ainda de incentivar novas formas de gestão de empresas estatais e prega abertura ao investimento estrangeiro e o "respeito aos contratos".


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