São Paulo, Sexta-feira, 10 de Dezembro de 1999


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TENSÃO
Presidente russo, em visita à China, diz que EUA parecem ter esquecido que seu país tem arsenal nuclear
Clinton e Ieltsin trocam advertências

Associated Press
"Ele (Clinton) deve ter se esquecido por alguns momentos o que a Rússia é. Que tem um arsenal cheio de armas nucleares"
Boris Ieltsin


Reuters
"Não nos esquecemos, assim como acho que eles não esqueceram que os EUA são uma grande potência quando discordaram do que fizemos em Kosovo"
Bill Clinton


das agências internacionais


As relações entre EUA e Rússia, que vem piorando nos últimos meses, atingiram o ponto mais baixo deste ano com a troca de ameaças nucleares veladas entre os presidentes Bill Clinton e Boris Ieltsin. A expulsão de um diplomata russo acusado de espionagem pelos norte-americanos (leia nesta página) piorou o quadro.
"Ele (Clinton) deve ter se esquecido por alguns momentos o que a Rússia é. Que tem um arsenal cheio de armas nucleares", disse Ieltsin, que está em viagem à China, referindo-se às críticas americanas à guerra na Tchetchênia.
"Não nos esquecemos, assim como acho que eles não esqueceram que os EUA são uma grande potência quando discordaram do que fizemos em Kosovo (ataques à Iugoslávia)", respondeu o presidente Clinton, em Washington. "Não concordo com o que está acontecendo lá (Tchetchênia) e tenho de dizê-lo", completou.
O presidente americano e líderes europeus atacaram nessa semana a iniciativa russa dar um ultimato aos habitantes de Grozni, capital tchetchena. Segundo militares russos, quem não deixar a cidade até amanhã será considerado terrorista e "aniquilado".
Os russos atacam o território sob a alegação de desalojar separatistas que querem impor um Estado islâmico no Daguestão e que também seriam responsáveis por atentados a bomba que deixaram quase 300 mortos no país em setembro. Grozni nega relação com os separatistas.
Tchetchênia e Daguestão fazem parte da Rússia e ficam no Cáucaso, região montanhosa do sul do país com maioria muçulmana. A ofensiva russa já provocou a fuga de mais de 250 mil tchetchenos para outras regiões.
Para líderes ocidentais, o uso da força pelos russos no território, que gozava de autonomia desde 1996, é desproporcional.
"Um ultimato contra toda uma população, a ameaça de eliminá-la, isso é inaceitável e bárbaro", disse o ministro das Relações Exteriores alemão, Joschka Fischer.
"Não tememos os norte-americanos", reforçou o presidente russo, que está em Pequim para fechar um acordo militar com os chineses. O presidente da China, Jiang Zemin, deu total apoio à ação russa no território rebelde.
"O presidente Jiang disse que entende completamente e apóia totalmente a ação de combate ao terrorismo na Tchetchênia", disse o chanceler russo, Igor Ivanov.
Rússia e China, assim como EUA, Reino Unido e França, têm poder de veto nas decisões do Conselho de Segurança da ONU.
"O diálogo entre a Rússia e os países do Ocidente é claramente um diálogo de surdos", disse Pavel Baev, analista político do Instituto Internacional para a Paz. Para ele, este é o pior momento nas relações entre esses países desde o colapso da União Soviética, em 1991, e o fim da Guerra Fria.
Num tom mais conciliador, autoridades tentaram diminuir o impacto das declarações dos dois presidentes. "Temos muitos interesses em comum em nossa relação com a Rússia e queremos mantê-los", disse Mike Hammer, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA.

Eleições
As declarações fortes podem também ser resultado da campanha eleitoral nos dois países. A Rússia terá eleições parlamentares no próximo dia 19 e presidenciais no ano que vem.
"A ofensiva está sendo usada para ganhar votos e está se transformando em uma grande "guerra patriótica'", completa Baev. O analista russo acredita haver a emergência de movimentos nacionalistas russos na esteira das atuais vitórias militares.
O premiê russo, Vladimir Putin, é o preferido de Ieltsin para a sucessão no Kremlin. A popularidade de Putin tem aumentado muito por causa da ação no Cáucaso, segundo pesquisas.
Nos EUA, também haverá eleições presidenciais ano que vem. Os democratas querem afirmar sua política internacional enquanto criticam o republicano George W. Bush, favorito nas pesquisas de intenção de voto, por sua inexperiência nessa área.


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