|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENSÃO
Presidente russo, em visita à China, diz que EUA parecem ter esquecido que seu país tem arsenal nuclear
Clinton e Ieltsin trocam advertências
Associated Press
|
"Ele (Clinton) deve ter se esquecido por alguns momentos o que a Rússia é. Que tem um arsenal cheio de armas nucleares" Boris Ieltsin |
Reuters
|
"Não nos esquecemos, assim como acho que eles não esqueceram que os EUA são uma grande potência quando discordaram do que fizemos em Kosovo" Bill Clinton |
das agências internacionais
As relações entre EUA e Rússia,
que vem piorando nos últimos
meses, atingiram o ponto mais
baixo deste ano com a troca de
ameaças nucleares veladas entre
os presidentes Bill Clinton e Boris
Ieltsin. A expulsão de um diplomata russo acusado de espionagem pelos norte-americanos (leia
nesta página) piorou o quadro.
"Ele (Clinton) deve ter se esquecido por alguns momentos o que
a Rússia é. Que tem um arsenal
cheio de armas nucleares", disse
Ieltsin, que está em viagem à China, referindo-se às críticas americanas à guerra na Tchetchênia.
"Não nos esquecemos, assim
como acho que eles não esqueceram que os EUA são uma grande
potência quando discordaram do
que fizemos em Kosovo (ataques
à Iugoslávia)", respondeu o presidente Clinton, em Washington.
"Não concordo com o que está
acontecendo lá (Tchetchênia) e
tenho de dizê-lo", completou.
O presidente americano e líderes europeus atacaram nessa semana a iniciativa russa dar um ultimato aos habitantes de Grozni,
capital tchetchena. Segundo militares russos, quem não deixar a
cidade até amanhã será considerado terrorista e "aniquilado".
Os russos atacam o território
sob a alegação de desalojar separatistas que querem impor um
Estado islâmico no Daguestão e
que também seriam responsáveis
por atentados a bomba que deixaram quase 300 mortos no país em
setembro. Grozni nega relação
com os separatistas.
Tchetchênia e Daguestão fazem
parte da Rússia e ficam no Cáucaso, região montanhosa do sul do
país com maioria muçulmana. A
ofensiva russa já provocou a fuga
de mais de 250 mil tchetchenos
para outras regiões.
Para líderes ocidentais, o uso da
força pelos russos no território,
que gozava de autonomia desde
1996, é desproporcional.
"Um ultimato contra toda uma
população, a ameaça de eliminá-la, isso é inaceitável e bárbaro",
disse o ministro das Relações Exteriores alemão, Joschka Fischer.
"Não tememos os norte-americanos", reforçou o presidente russo, que está em Pequim para fechar um acordo militar com os
chineses. O presidente da China,
Jiang Zemin, deu total apoio à
ação russa no território rebelde.
"O presidente Jiang disse que
entende completamente e apóia
totalmente a ação de combate ao
terrorismo na Tchetchênia", disse
o chanceler russo, Igor Ivanov.
Rússia e China, assim como
EUA, Reino Unido e França, têm
poder de veto nas decisões do
Conselho de Segurança da ONU.
"O diálogo entre a Rússia e os
países do Ocidente é claramente
um diálogo de surdos", disse Pavel Baev, analista político do Instituto Internacional para a Paz. Para ele, este é o pior momento nas
relações entre esses países desde o
colapso da União Soviética, em
1991, e o fim da Guerra Fria.
Num tom mais conciliador, autoridades tentaram diminuir o
impacto das declarações dos dois
presidentes. "Temos muitos interesses em comum em nossa relação com a Rússia e queremos
mantê-los", disse Mike Hammer,
porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA.
Eleições
As declarações fortes podem
também ser resultado da campanha eleitoral nos dois países. A
Rússia terá eleições parlamentares no próximo dia 19 e presidenciais no ano que vem.
"A ofensiva está sendo usada
para ganhar votos e está se transformando em uma grande "guerra patriótica'", completa Baev. O
analista russo acredita haver a
emergência de movimentos nacionalistas russos na esteira das
atuais vitórias militares.
O premiê russo, Vladimir Putin,
é o preferido de Ieltsin para a sucessão no Kremlin. A popularidade de Putin tem aumentado muito por causa da ação no Cáucaso,
segundo pesquisas.
Nos EUA, também haverá eleições presidenciais ano que vem.
Os democratas querem afirmar
sua política internacional enquanto criticam o republicano
George W. Bush, favorito nas pesquisas de intenção de voto, por
sua inexperiência nessa área.
Texto Anterior: FHC e De la Rúa discutem caso Oviedo Próximo Texto: Relações complicadas Índice
|