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Antropólogos acham ossos de desaparecidos políticos em prisão clandestina argentina
THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES
Uma equipe de antropólogos
forenses localizou pela primeira vez restos humanos em um
centro clandestino de detenção
da ditadura argentina (1976-83). Dez mil fragmentos de ossos, restos de cartuchos de projéteis e um muro com 200 marcas de bala -que teria sido usado para fuzilamentos- foram
localizados no centro conhecido como "Poço de Arana", que
funcionou de 1976 a 1977 em La
Plata (52 km de Buenos Aires).
O anúncio foi feito ontem pela Secretaria de Direitos Humanos da Província de Buenos
Aires e pela Equipe Argentina
de Antropologia Forense. Até
então restos de desaparecidos
sob o regime militar haviam sido encontrados em cemitérios
ou enterrados em outros locais.
A maior parte dos ossos está
carbonizada e desgastada pelo
tempo, o que dificulta a identificação. Os antropólogos que
participaram das escavações,
feitas de fevereiro a setembro,
disseram que os corpos provavelmente foram queimados e
enterrados em vala comum.
As buscas foram determinadas pela Justiça Federal em La
Plata, que apura crimes contra
a humanidade durante a ditadura. A partir de depoimentos
de vítimas, os antropólogos
identificaram 15 possíveis locais de descarte de ossadas.
Segundo o chefe da equipe de
antropólogos, Luis Fondembrider, houve localização de
fragmentos de ossos em quatro
desses locais. O trabalho da
equipe em 2009 será tentar recuperar material genético para
possível identificação.
Pelo "Poço de Arana" passaram desaparecidos como Júlio
López, vítima da ditadura que
desapareceu pela segunda vez
em setembro de 2006, dia em
que testemunharia no julgamento do ex-policial e repressor Miguel Etchecolatz.
A estimativa de entidades de
defesa dos direitos humanos é
que 30 mil pessoas tenham desaparecido na ditadura argentina. Julgamentos de membros
do regime militar foram retomados em 2005, no governo
Néstor Kirchner (2003-07),
que revogou leis de anistia da
gestão Raul Alfonsín (1983-89).
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