São Paulo, quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

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Em meio à guerra, Nobel desafia Obama

Presidente recebe hoje prêmio pela defesa da paz, ante o paradoxo de ter ampliado contingente americano no Afeganistão

Maioria nos EUA acha que presidente não merece a distinção; em discurso, ele tentará mostrar o confronto afegão como necessário


DA REDAÇÃO

Nove dias depois de ter anunciado o envio de mais 30 mil soldados americanos para combater na Guerra do Afeganistão, Barack Obama recebe, hoje, o Prêmio Nobel da Paz, num paradoxo que desafia o presidente dos EUA e que deve ser abordado em seu discurso durante a premiação.
Segundo o assessor sênior de Obama, David Axelrod, disse ao "New York Times", a fala do presidente em Oslo tentará explicar a guerra afegã como necessária para trazer a paz e reiterará o que Obama disse em 9 de outubro, quando seu nome foi anunciado como vencedor: "Não vejo [o prêmio] como reconhecimento dos meus feitos, mas como uma afirmação da liderança americana em nome das aspirações dos povos de todas as nações".
À época, o Comitê Norueguês do Nobel escolhera Obama por "seus esforços extraordinários para fortalecer a cooperação entre os povos" e por sua "visão de um mundo sem armas nucleares". Hoje, ante os impasses na negociação de paz entre israelenses e palestinos e quanto ao programa nuclear iraniano -entre outros desafios da política externa americana-, a premiação se tornou, em parte, um fardo. Ou, como disse o redator de discursos da Casa Branca, Ben Rhodes, "uma responsabilidade colocada sobre ele".
Pesquisas indicam que 75% dos americanos acham que Obama não merece o prêmio -e o presidente já admitiu que concorda com eles. "Não é um prêmio que ele necessariamente teria dado a si mesmo", disse Axelrod, lembrando que a grande questão que Obama tentará explorar no discurso é "como conciliar seu papel de comandante em chefe com seu desejo de promover um mundo mais pacífico num tempo de guerra".
Ontem, o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, disse que Obama "entende que não está no mesmo nível de Nelson Mandela [premiado com o Nobel em 1993] ou de madre Teresa de Calcutá [1973]".

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Para não passar muito tempo longe de Washington, onde está em curso o debate sobre a reforma da saúde, Obama deve chegar nesta manhã a Oslo -onde ativistas prometem protestar contra a guerra afegã-, receber o prêmio (uma medalha e 10 milhões de coroas suecas, ou R$ 2,5 milhões, os quais ele prometeu doar à caridade) e voltar amanhã aos EUA. Não está previsto que ele participe das tradicionais coletiva de imprensa e entrevista à CNN após a premiação.
Para se preparar, o presidente dos EUA estudou os discursos de outros premiados com o Nobel da Paz: os presidentes americanos Theodore Roosevelt (1901-1909) e Woodrow Wilson (1913-1921), Mandela, Martin Luther King e George Marshall, que orquestrou o plano de recuperação da Europa no pós-Segunda Guerra.
Analistas ouvidos pelo "Financial Times" esperam que o prêmio revigore as tentativas de paz no Oriente Médio. Conservadores pedem que Obama dedique a distinção à figura do "soldado americano".

Com agências internacionais, "Financial Times" e "New York Times"


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