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Em meio à guerra, Nobel desafia Obama
Presidente recebe hoje prêmio pela defesa da paz, ante o paradoxo de ter ampliado contingente americano no Afeganistão
Maioria nos EUA acha que presidente não merece a distinção; em discurso, ele tentará mostrar o confronto afegão como necessário
DA REDAÇÃO
Nove dias depois de ter anunciado o envio de mais 30 mil
soldados americanos para
combater na Guerra do Afeganistão, Barack Obama recebe,
hoje, o Prêmio Nobel da Paz,
num paradoxo que desafia o
presidente dos EUA e que deve
ser abordado em seu discurso
durante a premiação.
Segundo o assessor sênior de
Obama, David Axelrod, disse ao
"New York Times", a fala do
presidente em Oslo tentará explicar a guerra afegã como necessária para trazer a paz e reiterará o que Obama disse em 9
de outubro, quando seu nome
foi anunciado como vencedor:
"Não vejo [o prêmio] como reconhecimento dos meus feitos,
mas como uma afirmação da liderança americana em nome
das aspirações dos povos de todas as nações".
À época, o Comitê Norueguês
do Nobel escolhera Obama por
"seus esforços extraordinários
para fortalecer a cooperação
entre os povos" e por sua "visão
de um mundo sem armas nucleares". Hoje, ante os impasses
na negociação de paz entre israelenses e palestinos e quanto
ao programa nuclear iraniano
-entre outros desafios da política externa americana-, a premiação se tornou, em parte, um
fardo. Ou, como disse o redator
de discursos da Casa Branca,
Ben Rhodes, "uma responsabilidade colocada sobre ele".
Pesquisas indicam que 75%
dos americanos acham que
Obama não merece o prêmio
-e o presidente já admitiu que
concorda com eles. "Não é um
prêmio que ele necessariamente teria dado a si mesmo", disse
Axelrod, lembrando que a grande questão que Obama tentará
explorar no discurso é "como
conciliar seu papel de comandante em chefe com seu desejo
de promover um mundo mais
pacífico num tempo de guerra".
Ontem, o porta-voz da Casa
Branca, Robert Gibbs, disse que
Obama "entende que não está
no mesmo nível de Nelson
Mandela [premiado com o Nobel em 1993] ou de madre Teresa de Calcutá [1973]".
Visita rápida
Para não passar muito tempo
longe de Washington, onde está em curso o debate sobre a reforma da saúde, Obama deve
chegar nesta manhã a Oslo
-onde ativistas prometem
protestar contra a guerra afegã-, receber o prêmio (uma
medalha e 10 milhões de coroas
suecas, ou R$ 2,5 milhões, os
quais ele prometeu doar à caridade) e voltar amanhã aos
EUA. Não está previsto que ele
participe das tradicionais coletiva de imprensa e entrevista à
CNN após a premiação.
Para se preparar, o presidente dos EUA estudou os discursos de outros premiados com o
Nobel da Paz: os presidentes
americanos Theodore Roosevelt (1901-1909) e Woodrow
Wilson (1913-1921), Mandela,
Martin Luther King e George
Marshall, que orquestrou o plano de recuperação da Europa
no pós-Segunda Guerra.
Analistas ouvidos pelo "Financial Times" esperam que o
prêmio revigore as tentativas
de paz no Oriente Médio. Conservadores pedem que Obama
dedique a distinção à figura do
"soldado americano".
Com agências internacionais, "Financial Times"
e "New York Times"
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