São Paulo, sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

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ONU sai em defesa de dono do WikiLeaks

Comissária de direitos humanos, Navi Pillay, diz que ações contra site e seu dono violam liberdade de expressão

Hackers que saíram em defesa de Assange e do site voltam a prometer ações; suposto ativista é detido pela Holanda

ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

A ONU elevou ontem o tom da polêmica sobre o cerco ao WikiLeaks, com a alta comissária para direitos humanos classificando a pressão contra empresas ligadas ao site como tentativa de censura.
Para a comissária, Navi Pillay, o conjunto de ações para cortar laços do WikiLeaks com prestadoras de serviços -entre outros, Amazon, Visa, MasterCard e PayPal- pode ser interpretado como tentativa de impedir o site de publicar, o que viola o direito à liberdade de expressão.
Pillay não nomeou supostos responsáveis pela pressão, mas acredita-se que ela venha do governo dos EUA.
O WikiLeaks divulga gradualmente desde o dia 28 mais de 250 mil despachos sigilosos de diplomatas americanos. A ação enfureceu os EUA, que investigam criminalmente o site e estudam processar o seu criador com base em leis de espionagem.
Julian Assange está atualmente preso em Londres e pode ser extraditado para a Suécia devido a processo por crimes sexuais. Ontem, Assange foi transferido a uma seção especial da prisão, de acesso ainda mais restrito.
Segundo fontes diplomáticas, Washington já conversa informalmente com autoridades suecas sobre a possibilidade de transferir Assange para custódia americana.
A ideia é julgá-lo nos EUA por crimes ligados a espionagem, mas há muita incerteza sobre como o processo seria feito -nenhuma lei americana atual se aplica ao caso.
Enquanto isso não ocorre, críticos resolveram tentar calar o site de outras maneiras.
A Amazon parou de hospedar o site, e Visa e MasterCard impediram transferências a ele com seus cartões.
Pillay se disse muito preocupada. "Se o WikiLeaks cometeu algum ato reconhecidamente ilegal, então isso deve ser abordado pelo sistema legal, não por pressão e intimidação a terceiros."
Para a comissária da ONU, a crise expôs a necessidade de países protegerem o direito ao compartilhamento livre de informações, como exigido por leis internacionais.

"CIBERGUERRA"
Na rede mundial, hackers deram sequência às ações contra empresas que aderiram ao cerco ao WikiLeaks, travando disputas que para alguns configura uma "ciberguerra" ou "guerra virtual".
Os ativistas ganharam milhares de novos adeptos e estabeleceram como os novos alvos a Amazon, que na semana passada parou de hospedar o WikiLeaks, o site de pagamentos on-line PayPal e o site do governo da Suécia.
Segundo a BBC, foram registrados apenas ontem 31 mil downloads do programa que utilizado para "voluntariar" um computador a fazer parte da onda de ataques.
A ação conhecida como "negação de serviço" (DDoS, na sigla em inglês) consiste na inundação de um site com milhares de pedidos de acessos simultâneos, tornando-a instável ou tirando-a do ar.
Ontem, no entanto, os ataques não surtiram o efeito da véspera, quando as páginas das empresas Mastercard e Visa, que cancelaram os pagamentos ao WikiLeaks, caíram em meio a sobrecarga.
No final do dia, hackers do grupo Anonymous -que tem coordenado as ações- admitiram ainda não ter condição de derrubar a Amazon e prometeram priorizar o PayPal.
Segundo a agência France Presse, a empresa reativou ontem a conta do WikiLeaks, desbloqueando os seus fundos, mantendo, no entanto, restrições a novas doações.
O site do governo da Suécia, país que emitiu pedido de prisão contra Assange por crimes sexuais, chegou a ficar fora do ar por algumas horas, mas depois voltou.
Já a rede social Facebook justificou a decisão de suspender o perfil da "Operação Payback" -como os ataques são chamados-, alegando que a página estava sendo utilizada para divulgar o programa usado para ações.
Na Holanda, um adolescente de 16 anos foi preso, suspeito de envolvimento com os ataques virtuais. A Promotoria holandesa não identificou o detido.

Com agências de notícias


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