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IRAQUE OCUPADO
Dirigentes iraquianos temem que, como prisioneiro de guerra, ditador não seja julgado por crimes políticos no país
Novo estatuto de Saddam gera confusão
DA REDAÇÃO
A decisão norte-americana de
considerar Saddam Hussein como "prisioneiro de guerra",
anunciada anteontem, criou ambiguidades jurídicas e repercutiu
negativamente em Bagdá.
Lideranças locais expressaram o
temor de que o ditador deposto
não venha a ser julgado por crimes políticos cometidos no Iraque durante as mais de duas décadas em que esteve no poder.
Já a Cruz Vermelha Internacional anunciou ter entrado com
uma petição formal para visitar
Saddam, "diante da declaração do
Pentágono de que Saddam é considerado prisioneiro de guerra".
"Segundo a Convenção de Genebra [lei internacional que define o que é um prisioneiro de guerra], o pessoal da Cruz Vermelha
está autorizado a visitar o ex-presidente iraquiano", disse Muin
Kassis, porta-voz da entidade no
Iraque, em Amã (Jordânia).
Dara Nor al Din, que integra o
comitê jurídico do Conselho de
Governo Iraquiano nomeado pelos EUA, teme que Saddam não
seja mais julgado por uma corte
iraquiana, contrariando compromisso assumido anteriormente
por Washington.
Para ele, a Convenção de Genebra permite que o ex-ditador seja
julgado por crimes de guerra e
contra a humanidade, mas não
necessariamente pela morte e tortura de dissidentes políticos durante as perseguições realizadas
durante seu governo.
"A decisão norte-americana é
incorreta, porque cabe apenas aos
iraquianos decidir sobre essa
questão", disse Mahmoud Othman, outro membro do conselho.
O ministro da Justiça da administração civil iraquiana, Hashin
Abdul Rahman, qualificou a decisão dos EUA de "mera opinião" e
insistiu para que só os iraquianos
determinem sob qual estatuto,
em que tribunal e sob quais acusações Saddam será julgado.
A questão é controvertida. Para
a Cruz Vermelha, a decisão anunciada na sexta pelo Pentágono dá
ao ex-ditador algumas proteções
jurídicas e abre a possibilidade de
que ele seja julgado num tribunal
de guerra, possivelmente de caráter internacional.
Ian Piper, porta-voz da entidade
humanitária, disse que o plano
norte-americano de levar Saddam a julgamento num tribunal
iraquiano não contradiz a Convenção de Genebra. "Cabe à potência ocupante [do Iraque] e às
autoridades que o detêm o estabelecimento dos procedimentos jurídicos", disse.
Para ele, "o estatuto de prisioneiro de guerra não dá a Saddam
imunidade contra acusações de
crimes contra a humanidade". Ele
vê como "positiva" a definição do
estatuto do ex-ditador.
Pela Convenção de Genebra, os
EUA devem se submeter a certas
regras de tratamento humanitário ao prisioneiro e devem permitir que ele seja visitado pela Cruz
Vermelha. Apesar da entidade ter
mantido contatos com esse objetivo, ainda não houve resposta
por parte de Washington.
Ruth Wedgwood, especialista
em Convenção de Genebra na
Universidade Johns Hopkins, disse que, como prisioneiro de guerra, Saddam passa a ter direito a
formas mais restritas de interrogatório. A convenção, diz ela,
proíbe qualquer tipo de ameaça
ao prisioneiro.
Cinco morrem em protestos
Tropas britânicas abriram fogo
ontem contra manifestantes que
jogavam pedras contra o prédio
da administração da cidade de
Amara (sul do país) num protesto
pela falta de trabalho. Pelo menos
cinco morreram.
Com agências internacionais
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